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    Inseparáveis
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Inseparáveis

    Cópia certificada

    por Bruno Carmelo

    Em 2011, a comédia dramática Intocáveis se tornou o segundo maior sucesso de bilheteria da história do cinema francês. A amizade entre um milionário tetraplégico e seu ajudante negro da periferia recebeu algumas críticas pelo tom melodramático, mas conquistou o público com a mensagem de união entre as diferenças, ao invés de pregar a piedade em relação aos desfavorecidos. Não demorou para a história ganhar os palcos do teatro e ter seus direitos vendidos para refilmagens nos Estados Unidos, Brasil, Argentina e Índia.

    Inseparáveis é a versão argentina da história, dirigida por Marcos Carnevale (Viúvas, Coração de Leão). A maior surpresa é o fato de não trazer surpresa nenhuma. O cineasta não se inspirou do original, ele o copiou cena a cena, desde a corrida policial no início até os letreiros finais. As cenas da festa, da banheira, as piadas envolvendo orelhas, arte contemporânea, assistentes lésbicas, bigodes de Hitler e música clássica permanecem intactas. As mínimas mudanças correspondem a elementos óbvios: sai Paris, entram as ruas de Buenos Aires; sai a música disco durante a festa de aniversário, entram sucessos locais.

    Na verdade, houve uma alteração digna de nota: o personagem negro da história francesa se transformou em um homem branco. O preconceito racial era um fator importante na trama original, que comparava desvantagens físicas (a tetraplegia) às sociais (a falta de oportunidades para negros e pobres). A refilmagem acredita que o fato de converter o assistente em um morador branco da periferia basta para reproduzir a mesma relevância social. Talvez o tema do racismo seja menos pertinente na sociedade argentina – uma premissa questionável – porém este era um elemento difícil de ignorar sem causar prejuízos à nova versão.

    Apesar destas questões, Inseparáveis constitui uma produção competente. O diretor mostra-se à vontade com as cenas cômicas, e sabe dirigir os bons atores Oscar Martínez e Rodrigo De La Serna. A galeria de coadjuvantes também traz atrizes memoráveis, como Alejandra Flechner e Carla Peterson, excelentes ao produzirem humor a partir de silêncios e expressões sérias, necessárias para equilibrar o estilo expansivo de De La Serna. Se fosse uma produção original, o filme argentino seria muito elogiado por sua sensibilidade e timing cômico. Os espectadores que não tiverem visto Intocáveis, inclusive, têm muito a aproveitar na refilmagem.

    No entanto, este filme não existe sem aquele, surgindo como sombra, cópia, decalque. Seus méritos não são apenas seus, de modo que paira um questionamento sobre o oportunismo: se Carnevale não encontrou nenhum elemento substancial para alterar ou melhorar, por que efetuou a refilmagem? O potencial financeiro do projeto pode justificar sozinho a sua existência? Sendo a originalidade e a criatividade elementos de valor dentro da avaliação artística, o resultado é um filme fadado a comparações, e inevitavelmente inferior ao original.

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    Comentários

    • Edvaldo Marcelo Alves
      Eu o assisti na intenção de compará-lo com a versão francesa e gostei mais desta. Assisti uma parte em espanhol e não consegui achar tão engraçado, então o coloquei com dublagem e mesmo assim não fiquei empolgado. Talvez para o diretor argentino o personagem não ser negro tem a ver com a baixa população negra do país e por isso mais importante realçar a diferença entre a classe rica e a da periferia de Buenos Aires, que deve ter uma miscigenação mais acentuada entre argentinos, europeus e africanos. No mais, a versão francesa talvez tenha por mim mais simpatia, por tocar no aniversário do empresário um hit dos anos 80 do que uma música conhecida por argentinos e pelo enfermeiro ser negro é mais fácil para eu compreender as diferenças sociais. No mais, realmente é uma cópia do francês. Justa a nota 2,5
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