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    Pela Janela
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Pela Janela

    A dor da rejeição

    por Francisco Russo

    Há filmes que são moldados por uma atriz. Por mais que haja toda uma conceitualização e preparação por parte da direção e do roteiro - que, no caso de Pela Janela, cabem a Caroline Leone -, a escolha da intérprete protagonista é tão decisiva que, caso qualquer outra fosse escolhida, seria um filme completamente diferente. Este é um destes casos.

    Magali Biff ainda é um nome pouco conhecido na seara do cinema brasileiro, mas que merece ser acompanhado com atenção. Sua estreia foi apenas em Jogo das Decapitações, aos 58 anos, mas seu primeiro papel de destaque veio três anos depois, ao integrar a trupe circense de Deserto - ela está também no ainda inédito Açúcar, exibido no Festival do Rio 2017. É interessante notar que todos estes personagens são absolutamente distintos, sendo que sua Rosália de Pela Janela seja o mais desafiador pelo tanto que revela a partir dos detalhes. Trata-se de uma atuação absolutamente minimalista, onde o olhar e a postura corporal dizem muito sobre o estado de espírito.

    A história tem início quando Rosália, aos 65 anos, é demitida. De imediato, ela sofre com a dor da perda: dos hábitos ao ir ao trabalho, dos colegas de profissão, da autonomia financeira, de ter o que fazer, de sua própria auto-estima. Entretanto, seu desamparo não é medido através do choro, mas do olhar distante, perdido. É seu irmão quem a resgata, a partir de um convite-tentação: acompanhá-lo em uma viagem a trabalho, rumo a Buenos Aires.

    É neste típico road movie que Caroline Leone desenvolve toda a narrativa de seu longa-metragem de estreia como diretora, focando não propriamente nas ações mas sim nas emoções de sua personagem principal. É quando entra em cena a dependência deste filme ao talento de Magali Biff, no sentido de transpôr para a tela a sensibilidade de uma mulher ferida que, aos poucos, percebe que há outro caminho a trilhar. Tal jornada é apresentada de forma muito sutil, com cenas aparentemente simples que possuem um forte simbolismo nesta transformação íntima. É em tal observação que está a beleza do filme.

    Com uma grande atriz ao seu dispor e cenas marcantes, como a visita às cataratas do Iguaçu ou mesmo a que dá nome ao filme, Pela Janela é um filme intimista que prende pelo sentimento, represado pela dor da rejeição. Vale ressaltar também o bom trabalho de Cacá Amaral, como contraponto emocional e ao mesmo tempo parceiro da personagem central, bem como a delicadeza da direção ao conduzir uma história sem sobressaltos, mas que tem muito a falar sobre a vida.

    Filme visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2017.

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