ROMA - OU A ROUPA NOVA DO REI
O filme Roma não foi feito pra você, nem pra mim; foi feito para os críticos. Mas não para o bom crítico, que fala para o público. Foi feito para o crítico metido a inteligente, que acha bonito gostar do que ninguém mais gosta. O problema é que quando o crítico inteligentinho elogia, todo mundo que quer parecer inteligente tem que elogiar também, sob pena de parecer raso, pouco culto, vazio. E aí tem origem o fenômeno da "roupa nova do rei". Todo mundo acha a roupa linda, mesmo só conseguindo ver que o rei está nu. Todo mundo elogia o filme, mesmo tendo sofrido muito para se manter acordado em suas 2h15.
E como em um grande terremoto, esse fenômeno traz consigo subsequentes pequenos tremores:
- a absolutamente inexpressiva atriz iniciante agora é ultra celebrada como um fenômeno descoberto, concorre ao Oscar de melhor atriz. "Ora, mas ela passa justamente a ideia da indiferença que as mazelas da vida nos levam a ter". Sendo assim, o maior merecedor de um Oscar é o ator que interpreta um defunto, de olho fechado e sem se mexer. Passou de forma sublime a ideia.
- um simples amontoado de cenas, quase sem conexão umas com as outras, sem formar nenhum conjunto ou enredo, agora concorre ao Oscar de Melhor Roteiro Original. 80% das cenas ali contidas poderiam ser retiradas do filme, ou colocadas em outra ordem, que não fariam nenhuma falta para a história. Aliás, a pífia história poderia ser contada em um curta. Dos pequenos.
- uma armadilha de amontoados de cenas, nenhuma história, péssimas atuações e 2h15 do mais autêntico tédio concorrer a melhor filme? Só mostra que o Oscar perdeu grande parte de sua relevância há muito tempo. E hoje a lacração vale muito mais que a qualidade. Mas neste caso nem a lacração vem à tona ali. O filme é tão vazio, tão blasé, que nem pra isso ele serviu.
- para não parecer absolutamente mal humorado com o filme e suas indicações estapafúrdias, sua fotografia é belíssima e realmente merece a indicação e, a conferir, o prêmio. Mas melhor seria numa exposição fotográfica num museu, ou na internet, do que em 2h15. Pelo menos eu poderia escolher quanto demorar no "deleite".
O problema é que nessa onda de inteligentinhos, o filme deve abocanhar grande parte das estatuetas. Isso porque Hollywood é formado por gente que quer parecer inteligente, ainda que não seja. Sabe aquele povo que analisa o significado pós-moderno de um óculos deixado num canto de uma galeria de arte, para só depois descobrir que não era uma obra, mas um esquecimento (ou pegadinha) de alguém? Pois é. Essa é a turma que vota, e que se sente na obrigação de concordar que a roupa do rei está linda; mesmo tendo certeza de que o rei é chato, monótono, inexpressivo, entediante. E está nu!