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    Limites
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Limites

    Jornada terapêutica

    por Bruno Carmelo

    Tudo começa no consultório de uma terapeuta. Laura (Vera Farmiga) tenta dizer que se sente bem, não precisa mais da aprovação do pai que a abandonou. Ela se sente equilibrada, a vida está muito melhor. O resto do filme se dedica a provar que Laura está errada: esta mãe solteira é triste, solitária, não sabe o que fazer com o problemático filho adolescente, nem com o pai idoso, prestes a ser expulso do asilo por plantar maconha. A pobre protagonista sai com homens que não a valorizam, detesta o trabalho abusivo e tem dificuldade de cuidar das dezenas de cachorros abandonados que acolhe em sua casa.

    O roteiro propõe uma road trip dos desajustados, obrigando-os a conviver juntos com suas manias. O pai excluído, a filha excluída e o neto excluído atravessam o país num carro, junto de cães igualmente excluídos. A diretora Shana Feste aposta na cartilha máxima de produções independentes, adotando um tom agridoce, criando uma série de peripécias no caminho, e alternando brigas intensas com doces reconciliações. “A família é tudo o que importa”, diz uma personagem a certa altura da trama. O filme concorda com ela. Esqueçamos que se detestam, ou tenham se machucado: membros de uma mesma família deveriam ficar juntos.

    Limites adota com carinho a ideia de melhoria imediata na situação de cada um graças à união forçada. A cineasta não busca imagens de cunho autoral, limitando-se à luz natural dos grandes espaços abertos, aos planos fechados nos rostos dos atores, à câmera tremida durante os conflitos intensos. Muitas reviravoltas soam artificiais, especialmente quando envolvem novos cachorros, maconha ou desenhos eróticos, porém a narrativa está disposta a sacrificar a verossimilhança em nome do humor. O filme prefere se situar no limiar da fábula, registro no qual as incongruências são possíveis e a moral no fim justifica os percalços do caminho.

    No elenco, é bom ver Vera Farmiga distante do registro de terror ou ação a que tem sido associada devido a Invocação do MalBates Motel e produções como O Passageiro. Aqui, ela encarna a mulher perdida, de cabelos bagunçados e casa caótica refletindo a própria vida. Feste deve ter pedido para que ela intensificasse cada diálogo, olhar e gesto, extraindo da sutil atriz uma persona à beira da histeria. Curiosamente, os homens recebem um tratamento distinto: tanto Lewis MacDougall, como o filho, quanto Christopher Plummer, no papel do pai, têm a oportunidade de desenvolver silêncios e subentendidos. Este último, em especial, brinca muito bem com os diálogos, equilibrando o humor jocoso com um registro naturalista.

    Ao mesmo tempo, a mulher é a única realmente enganada pelos homens ao redor. Soa incômoda a decisão de tratar tantas chantagens emocionais e manipulações contra Laura como se fossem brincadeiras sem importância, e mostras indiretas de afeto. Limites não apenas perdoa os personagens por suas falhas - algo positivo, sem dúvida -, mas também perdoa-os pelo mal que causam um ao outro. No entanto, sabemos que questionamentos morais não constituem a preocupação de Feste, mais interessada em inverter papéis ao propor idosos agindo como jovens, e jovens agindo como pessoas mais velhas. Para isso, orna seu filme com música doce, cachorros adoráveis, belas paisagens.

    O imperativo do feel good movie passa por cima das outras decisões, culminando numa fraca colagem de sorrisos dos personagens rumo ao desfecho. Aí se encontra a verdadeira finalidade do projeto: extrair sorrisos de todos, incluindo do público, sacrificando o que for necessário para chegar ao momento de alívio, à cura através do humor e do perdão. Nesta comédia dramática, os fins justificam os meios.

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