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    Talvez uma História de Amor
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Talvez uma História de Amor

    Em busca da vida perdida

    por Francisco Russo

    Desde os primórdios do cinema, a comédia romântica talvez seja o gênero mais previsível de todos - muda o cenário, mas (quase sempre) sabemos de antemão como termina. Tal característica, inclusive, faz parte do charme junto ao público, muito mais interessado no como acontece do que propriamente em ser surpreendido. Talvez uma História de Amor segue o mesmo caminho, mas com uma pitada de ousadia.

    Baseado no livro homônimo escrito pelo francês Martin Page, o longa-metragem de estreia do diretor Rodrigo Bernardo traz uma premissa bastante original: um belo dia, Virgílio recebe em sua secretária eletrônica o recado de uma mulher, Clara, dizendo que o amava mas que precisava terminar com ele. Ao adeus repentino surge uma dúvida permanente: quem é Clara?

    Sem se lembrar de absolutamente nada sobre sua suposta ex-namorada, cujo nome é um esperto trocadilho com sua situação na história, Virgílio parte atrás não de um amor perdido, mas de um trecho de sua vida o qual nem se lembra. Tal característica dá ao filme uma sutileza bastante sagaz, afastando-o do possível melodrama em torno do fim de um relacionamento em nome de uma reflexão sobre a importância de manter as memórias vividas, sejam elas dolorosas ou não. Guardadas as devidas proporções, é o mesmo material abordado no ótimo Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças - que traz também uma profundidade emocional e filosófica que passa longe deste longa-metragem, é bom deixar claro.

    Aqui, o intuito de Bernardo & cia é divertir, a partir de um interessante quebra-cabeças montado a partir de comentários do outro. Sem saber quem é Clara, mas certo de que ela existe, Virgílio busca migalhas de informações com pessoas que os conheceram como um casal. Tal perseguição gera bons encontros, como com Gero Camilo e Bianca Comparato, por mais que haja um certo exagero na quantidade de coadjuvantes. Mais enxuto seria melhor, sem decréscimo à narrativa.

    Em paralelo à busca incessante por Clara, o diretor constrói também um punhado de situações visuais que tão bem ressaltam a personalidade meticulosa e conservadora de Virgílio, bem interpretado por um Mateus Solano caprichando nas expressões faciais. Todo o cenário é intencionalmente retrô, da TV de tubo ao rádio-relógio, do figurino antiquado ao próprio nome do personagem, ressaltando uma cuidadosa direção de arte alinhada ao roteiro. Soma-se a isto a boa fotografia de Hélcio Nagamine, especialmente nas cenas em que contrasta luz e sombras a partir de um capacete-lanterna, e uma trilha sonora que presta homenagens, do brasileiríssimo Charlie Brown Jr. ao eterno Frank Sinatra.

    Curiosamente, é quando desvenda o mistério em torno de Clara e mergulha fundo na comédia romântica que Talvez uma História de Amor perde um pouco seu brilho, devido ao apelo aos clichês recorrentes - não por acaso, há referências a Tarde Demais para Esquecer e Sintonia de Amor, dois ícones românticos. Ainda assim, o charme da breve participação de Cynthia Nixon traz um certo alento a tal desnível.

    Divertido e bem produzido, Talvez uma História de Amor traz um inusitado frescor a um gênero tão batido, pelos rumos que sua narrativa envereda. Com um elenco carismático e em sintonia, trata-se de um filme leve que cumpre bem seu objetivo: entreter o espectador mais pelo como acontece do que propriamente pelo desfecho. Mas não é este o desejo de toda boa comédia romântica?

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    Comentários

    • Evandro Silva
      Talento brasileiro! Respeitem o cinema verde-amarelo!
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