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    A Paixão de JL
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    A Paixão de JL

    De portas abertas

    por Lucas Salgado

    A Paixão de JL é o título perfeito para este documentário sobre o artista plásitico José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993). Além de evocar a ideia de religião, que é abrigada diante da noção espiritual imanente da arte e também serve como crítica aos tabus e dogmas religiosos enfrentados pelo artista, o título diz literalmente sobre o que é o filme: é sobre a principal paixão de José Leonilson: a arte. E a vida.

    Conhecido por filmes como Eduardo Coutinho, 7 de OutubroCarlos Nader teve acesso a um material impressionante e entregou ao público um documentário nada convencional sobre uma figura pouco conhecida atualmente. No início de 1990, três anos antes de sua morte, JL começou a gravar depoimentos seus numa espécie de diário que serviria de base para um eventual livro, que nunca foi escrito.

    Agora, mais de 20 anos depois, Nader tem acesso a este material e faz todo o filme com base nele. Ao invés de depoimentos de colegas, familiares ou críticos, temos Leonilson por ele mesmo, da forma mais intimista possível. Ao invés de imagens de arquivo de entrevistas dele, temos fotografias de suas obras. O espectador tem acesso ao período mais criativo, e mais pessoal, do artista.

    O documentário traz depoimentos belíssimos, mas muito sofridos. Em um momento de muita intolerância (que infelizmente existe até hoje) e pouco conhecimento, é triste ver uma pessoa sofrer tanto por causa de sua orientação sexual. Ele relata não se abrir para os pais por não querer fazê-los sofrer, mas também afirma, com a voz abalada, que só quer ser feliz e ter alguém para amar.

    Como dito, o preconceito e a intolerância estão presentes até hoje na sociedade brasileira, mas é inegável que houve uma evolução na forma como a homossexualidade era vista no final dos anos 80 e início dos 90. Se as pessoas forem assistir ao filme de cabeça aberta, é possível que o mesmo contribua ainda mais para tratarmos o tema com a naturalidade que ele merece. É difícil não se emocionar com a angústia e o sofrimento do artista diante de algo tão normal.

    Não se trata de uma obra de simples compreensão e absorção. Os conflitos pessoais de JL em 90 são sofridos, mas a situação só piora no ano seguinte, quando descobre ser portador do vírus da Aids. E o espectador tem acesso direto às reflexões de Leonilson diante de tal descoberta. A partir daí, temos muita beleza nas falas, mas também muita tristeza, até sua morte em 1993.

    Um filme complexo, inteligente e que abre uma porta para dentro da alma de um grande artista em uma situação em que tem que lidar com a perecibilidade da vida. Para ver e se emocionar. 

    Filme visto na 10ª Mostra de Cinema de Ouro Preto - CineOP, em junho de 2015.

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