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    Nick Cave - 20.000 Dias na Terra
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Nick Cave - 20.000 Dias na Terra

    A mitologia da memória

    por Renato Hermsdorff

    Nick Cave, o líder da banda The Bad Seeds, pode não ser dos artistas mais populares no Brasil. Mas sua forma de raciocínio, seu processo criativo e, sobretudo o formato não convencional desse 20.000 Dias na Terra, documentário dirigido por Iain Forsyth e Jane Pollard podem ser um criativo cartão de apresentação do músico, para quem não o conhece, ou simplesmente um bom entretenimento, para o fã de cinema em geral.

    Isso porque o longa-metragem é um relato divertido e tocante sobre o australiano radicado em Londres – e, por que não, também sobre a música como uma arte mais ampla? Existencial, a obra dirigida pela dupla de amigos do roqueiro, que marca presença também em produções ficcionais como Asas do Desejo - é narrada pelo próprio Cave, num tom que confunde, ou melhor, colore, a realidade.

    O filme começa com o despertador do músico tocando bem cedo. Ele levanta da cama para anunciar que este é o seu 20.000º dia na Terra (daí o título). A partir de então, o falso documentário embarca na rotina de Nick, tendo como pano de fundo a gravação do último álbum do cantor, ao lado dos The Bad Seeds, intitulado "Push the Sky Away", até uma apresentação da banda na Ópera de Sydney.

    Muitos dos eventos são encenados (e certamente extrapolam a duração de um único dia), como na cena em que Cave conduz (literalmente, no banco traseiro do carro) a cantora – com quem gravou a música “Where the Wild Roses Growe” – e atriz Kylie Minogue, e eles relembram o passado. (Estão lá também o ator Ray Winstone e ex-companheiro de banda Blixa Bargeld).

    Ou na sessão de análise – também teatralizada (o interlocutor não é o terapeuta dele) – em que Cave responde com coragem e honestidade a questões sobre a infância (muito saudável, obrigado, aliás, vivida com um pai presente e carinhoso, ao contrário do que poderiam supor os detratores daquele que é considerado o mestre da balada sombria), ou os próprios medos, sendo o principal deles o de perder a memória.

    “Porque a memória está inseparavelmente ligada à composição”, ele explica. A narrativa musical, por sua vez, seria uma forma de “’mitologizar’ a memória". E é disso que se trata Nick Cave - 20.000 Dias na Terra: de dar uma roupagem mitológica à narrativa de uma vida para lá de interessante.

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