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    Gata Velha Ainda Mia
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Gata Velha Ainda Mia

    Um sopro de renovação

    por Francisco Russo

    Esqueça tudo que você já viu com Regina Duarte! Durante muitas décadas a eterna viúva Porcina foi a namoradinha do Brasil e simbolizou a imagem da mulher íntegra e batalhadora, que vai à luta como tantas outras na vida real. Também por isso ficou estereotipada, graças à repetição de personagens parecidos explorados à exaustão pela TV. Pois justamente quando os holofotes já não estão tanto sobre ela na telinha é que Regina aproveita um raro convite para se reinventar na telona. Sim, pois sua personagem no tenso Gata Velha Ainda Mia é completamente diferente de tudo o que ela já havia interpretado antes.

    O filme na verdade é um embate entre duas forças conflitantes. De um lado está a jovem jornalista interpretada por Bárbara Paz, do outro a decadente escritora vivida por Regina Duarte, que tenta voltar à antiga glória ao escrever um novo livro após um hiato de 17 anos. Se Carol vê na entrevista a grande chance de ascender profissionalmente, o interesse de Glória Polk (aparentemente) é voltar à mídia. Entretanto, a conversa é bem mais reveladora do que um mero revival de uma escritora de sucesso. Em meio a cutucadas bem afiadas sobre questões editoriais da revista onde Carol trabalha, onde o pessoal por vezes tem mais importância que o profissional, Glória se revela uma pessoa difícil, arrogante e bastante antipática, que em certos momentos quer realmente ser desagradável com sua entrevistadora. É justamente neste ponto que Regina surpreende, ao trazer à tona uma personagem difícil e ao mesmo tempo impactante.

    Com isso, vem à tona uma Glória Polk hipnotizante, seja através dos diálogos secos e certeiros ou nos momentos em que se revela uma grande sedutora, no sentido de devorar seu alvo – no caso, a personagem de Bárbara Paz. Ela, por sinal, segura com firmeza e competência sua personagem diante de tamanha atuação de Regina Duarte. O filme na verdade é um embate duro e por vezes cruel entre elas e, por mais que seja bastante teatral em determinados momentos, não deixa de usar elementos cinematográficos à medida que a conversa entre Carol e Glória se desenrola.

    Tenso e surpreendente, Gata Velha Ainda Mia é uma grata surpresa também pela construção da ambientação pelo diretor Rafael Primot. O roteiro, com ecos de O Que Terá Acontecido a Baby Jane? e Crepúsculo dos Deuses, caminha por rumos inesperados até um desfecho instigante, que levanta possibilidades muito interessantes que rendem uma boa discussão. Muito bom filme, tanto pelo trabalho das atrizes quanto pelo desenvolvimento da história em ritmo de suspense. Como curiosidade, há uma breve cena extra após todos os créditos finais.

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