Apesar de ser um bom ator, ao longo de toda sua carreira o diretor Jon Favreau acabou comprovando que em toda sua trajetória conseguiu atingir um nível maior de talento na direção de grandes produções, e não como atuação. O americano que já dirigiu grandes sucessos de blockbuster como os dois primeiros longas da trilogia Homem de Ferro (2008 e 2010) e Um Duende em Nova York (2002) dessa vez volta para os estúdios Disney para trazer de volta aos ares do século XXI o Menino Mogli. O diretor que abriu o Universo Cinematográfico da Marvel com chave de ouro repete o feitio com o Menino Lobo.
O longa, adaptado do livro The Jungle Book de Rudyard Kipling, conta a trajetória de Mogli (Neel Sethi), criado nas selvas por lobos mas que agora terá que voltar para a Vila dos Humanos já que o tigre Shere Khan (Idris Elba) ameaça a sua segurança. Numa peregrinação por toda a floresta, Mogli, na companhia de Bagheera (Ben Kingsley), verá que a natureza não é tão inocente quanto aparenta ser.
Não é novidade trazer os clássicos de animações, que em sua maioria foram originalmente adaptados pela Walt Disney, para os dias atuais. A Branca de Neve já passou pela repaginação no longa da Universal A Branca de Neve e o Caçador (2012). Alice também não foge da moda: nas mãos de Tim Burton mas ainda nos estúdios Disney, a moça com imaginação fértil voltou para as telonas no live action Alice in the Wonderland (2010). E até Tarzan entra na rede, com o longa A Lenda de Tarzan, atualmente ainda nos cinemas, produzido e distribuído pelos estúdios da Warner Bros. e dirigido por David Yates. Então realmente não foi de grande surpresa a volta de Mogli para os cinemas numa versão live action.
Apesar de ser versão de live action, o longa em geral só conta com um ator de verdade: Neel Sethi, protagonizando Mogli. O resto do elenco só dão as vozes aos animais feitos de CGI. CGI este que, apesar de falhar em alguns pontos — como deixar o malévolo tigre Shere Khan transparente em uma de suas cenas iniciais —, torna-se crível — mesmo sendo, visivelmente, feitio da tecnologia.
Apesar dos animais serem merecedores de todo o CGI, o cenário é o ponto mais alto quando se trata da tecnologia no recente filme de Favreau. Obviamente, a ambientação é cem por cento cinematográfica; contudo, apesar disso, em nenhum ponto esse fator se torna negativo ou duvidoso, não deixando o cenário superficial. Dá para acreditar que a história se passa literalmente na selva.
A crença de que todos os elementos presentes feitos de CGI são reais se devem mais a um dos únicos atores: Neel Sethi, que apesar de em alguns pontos não contar com certa convicção de voz, faz um excelente trabalho de corpo e carrega consigo ótimas expressões faciais.
Quanto ao visual dos animais, mesmo que estes tenham a capacidade de falar, Favreau optou por usar um visual mais realista, afastando-se completamente da animação original de 1967. Apesar disso, o espírito de Mogli — O Menino Lobo ainda está lá, e é encabeçado principalmente pelas músicas — apesar de pouco presentes — que fazem jus ao longo original, no qual se inspiram.
É visível que Jon Favreau, além de ter como intuito contar uma história infantil, usa elementos de aventura para atrair o adulto. Prometendo uma atmosfera aventuresca, o filme cumpri com o objetivo. Porém, somente em seu roteiro, de Justin Marks. A direção de Favreau acaba não cumprindo o que promete e se torna na maioria das vezes metódica, lenta e nada interessante. Se não fosse pelo Menino Mogli e pelas cenas de ação nas quais Favreau recupera o ritmo, o público adulto poderia facilmente dormir na poltrona.
Apesar disso tudo, o público alvo são as crianças, e não há como elas se deleitarem com todo o visual e a dinâmica presente na narração. Apesar da narrativa lenta, o público adulto também pode tirar proveito do filme: dos que acompanharam, na infância, a animação de 67 — da caracterização as canções é um mar de nostalgia. E a mensagem que Marks e Favreau transmitem — que é que, apesar de tudo, os humanos civilizados são bastante semelhantes aos animais selvagens.
Nota: 8,7/10