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    Perdido em Marte
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Perdido em Marte

    De volta ao espaço, Ridley Scott está em casa

    por Renato Hermsdorff

    Se você, saudoso fã deBlade Runner, o Caçador de Andróides, vivia cabisbaixo porque há tempos Ridley Scott não entregava um bom trabalho, seus problemas acabaram! Com Perdido em Marte, o diretor de Alien, o 8º Passageiro volta à melhor forma em termos de entretenimento.

    Baseado no romance homônimo do escrito Andy Weir, o blockbuster começa no Planeta Vermelho, onde uma equipe de astronautas norte-americanos, chefiada por Melissa Lewis (Jessica Chastain), realiza um trabalho de campo. Até que uma tempestade repentina interrompe as pesquisas e eles têm de voltar imediatamente para a base.

    Atingido por uma antena, o botânico Mark Watney (Matt Damon) é dado como morto e deixado para trás. Porém, sobrevive. E, até que o resgate chegue, vai demorar um intervalo de quatro anos, e ele tem que dar um jeito de se virar sozinho até lá.

    Sem o tour de force de Gravidade(2013) ou o papo-cabeça de Interestelar (2014), The Martian (no original) é bem mais palpável.

    Abandonado, o personagem precisa realizar uma dezena de cálculos, analisar dados e, sim, plantar a própria comida. E todo o aspecto técnico da empreitada é apresentado ao público de forma compreensível, traduzida da obra original pelo roteiro simples e, na medida do possível, conciso, de Drew Goddard (de Lost e Guerra Mundial Z).

    Ao mesmo tempo em que Watney tenta estabelecer contato com a Terra, desenvolve um diálogo com as câmeras da nave (ou seja, com o público), numa espécie de diário, que é calcado em excelentes tiradas e muito bom-humor. (Sobra até para Neil Armstrong, o primeiro homem a pousar na lua). É um recurso narrativo fácil? Certamente. Mas que resulta na construção de um perfil bem claro (e divertido) do personagem, sobretudo baseado no otimismo e, paradoxalmente, na auto-depreciação.

    Na Terra, caberá à NASA (onde trabalham os personagens de Chiwetel Ejiofor, Sean Bean, Kristen Wiig, entre outros), primeiro, anunciar a tragédia da morte do tripulante da missão, para depois ter que voltar atrás e o processo de resgate ganhar uma dimensão interplanetária, com transmissão ao vivo para o mundo inteiro – o que não deixa de ser uma crítica à espetacularização da mídia hoje em dia.

    Assim, restará à equipe original de Mark – composta ainda pelos personagens de Michael Peña, Kate Mara, Sebastian Stan e Aksel Hennie –, no espaço em outra missão, a possibilidade de reparar o “erro” acidental, o que suscita um dilema moral do time, uma vez que o resgate é arriscado.

    Embora previsível, a história transcorre o mais realista possível. Sim, em um dado momento, a agência equivalente da NASA na China se oferece para ajudar – afinal, o mercado chinês é importante para Hollywood. Mas não há nem sequer um vilão (seria o personagem de Jeff Daniels, diretor da NASA, mas não é bem assim) para embaralhar o salvamento.

    Mesmo intuindo onde a história vai parar, a aventura é conduzida de maneira a que não sobre uma unha intacta do espectador na poltrona. E a fotografia ainda entrega uma sucessão de lindas imagens para o deleite da plateia. De volta ao espaço, Ridley Scott está em casa. (Prometheus não conta).

    Filme visto no 40º Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2015.

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    Comentários

    • Matheus
      Ótimo comentário, Rom Ritz. Também sou cético e ateu, mas não aprovo o seu comentário por esse motivo. Concordo que o filme é bom e ele me agrada justamente por não ser um exemplar de entretenimento alienante. Vale fazer uma ressalva: o filme não é 100% preciso do ponto de vista científico, embora não se compare aos Independence Days da vida, é claro. Um abraço
    • Rom Ritz
      Excelente filme, merece suas ótimas avaliações. E me agrada muito, como engenheiro e cientista - além de cético e ateu (o que me afasta de muita ficção pelo desgosto por absurdos científicos), pois me agrada muito como dizia este filmes buscar um lado alternativo: o do respeito à Ciência, dentro das possibilidades da ficção cinematográfica, este filme faz parte de uma onda muito bacana de filmes com esse respeito. Sabemos os cientistas todos que a natureza é mais fascinante que a arte. Matt Damon sempre me dá confiança com ficção, sendo um ativista pela educação fora das telas.Não me surpreende que o público, ignorante e analfabeto científico (e ortográfico), não tenha gostado muito, em geral. Um grande problema das pessoas é fixarem como referências seus filmes favoritos, não porque são bons mas porque simplesmente estão mais ao seu gosto. Estes filmes se tornam filmes-gabarito, e tudo que se afasta deles é errado, e esse público perde a flexibilidade das diferentes abordagens, e trata o diferente como ruim. Por exemplo, se o cara gosta de lixos como Independence Day ou Batalha de Los Angeles, jamais vai gostar deste. Se o cara gosta de Rambo 2 a Missão, jamais vai gostar de Além da Linha Vermelha. A maturidade do espectador é percebida pela capacidade dela entender linguagens diferentes. Se você não entende alemão, jamais vai entender um poema de Goethe, em poesia muito se perde em tradução, e aí vai dizer que é ruim? Apenas admita que sua mente se fechou e nela não entra algo fora de sua rotina. Nem precisa ir longe: tem gente que não entende Drummond de Andrade e diz que é ruim...O problema do público é o adestramento intelectual. E por anos as ficções científicas sem absolutamente nada de ciência foram padrão, assim como o apelo emocional. O apelo ao estímulo dos sentidos primitivos mais que intelectual. Como droga, se acostumaram a isso e querem mais do mesmo, até porque o filme precisa competir com o whatsapp - que nem durante o filme é desligado. Evidentemente que filmes como este e outros (como Interstellar e Oblivion) enfrentam problemas, desprovidos que são de homenzinhos verdes, explosões, tiroteios, vilões e subvilões, tipo videogame, perseguições entre espaçonaves, desintegração pessoas a fugir desesperadas etc - e usando mais ciência que, por si só, tem coisas mais curiosas que o cinema mas que é (a ciência) desprezada por um público que não consegue nem usar a fórmula de báscara.
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