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    Minha Querida Dama
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Minha Querida Dama

    Vida longa

    por Francisco Russo

    À primeira vista, Minha Querida Dama é um longa-metragem feito a partir de uma peculiaridade francesa: a existência do viager, possibilidade de vender um imóvel mas apenas deixá-lo após sua morte (e ainda receber do comprador uma “mesada” até que isto aconteça). A inusitada situação é uma grande aposta: pode baratear muito o preço do imóvel, caso o antigo dono não demore muito a falecer, ao mesmo tempo em que permite que o local seja aproveitado por quem o vende ao longo de toda a sua vida. Entretanto, no decorrer da narrativa, o longa-metragem revela uma profundidade inesperada, em parte influenciada pelo lado libertário da revolução sexual, que o torna maior do uma mera curiosidade legal.

    É através do viager que Mathias (Kevin Kline) e Mathilde (Maggie Smith) se conhecem. Ele recebe como herança a suntuosa casa localizada no chique bairro parisiense de Marais, ela vive no local há décadas. Disposto a vender o imóvel o mais rapidamente possível, Mathias é surpreendido pela presença da senhora de 92 anos e pelo fato de que, além de não poder despejá-la, ainda precisa lhe pagar mensalmente uma quantia que não tem. Ou seja, conflito à vista!

    É apenas após o tempo necessário para fazer a apresentação desta situação muito particular que Minha Querida Dama, enfim, diz a que veio. Aos poucos a relação entre os dois personagens centrais é revelada, envolvendo o passado de ambos. O tom áspero com o qual aborda os caminhos tortuosos da vida surpreende, tornando o filme mais drama do que comédia. É a chance também de seus protagonistas brilharem: se Smith oferece a competência habitual ao expor uma personagem ao mesmo tempo frágil (pela idade) mas decidida (pelos atos de juventude), Kline se agiganta em um papel cínico e rancoroso, repleto de camadas emocionais que surpreendem. Muito da qualidade do filme se deve a eles, com o auxílio luxuoso (e em menor escala) de Kristin Scott Thomas.

    Conservador no formato e com uma fotografia que valoriza as paisagens de Paris (especialmente a catedral de Notre Dame, que surge algumas vezes), Minha Querida Dama é um filme de atores. Até há algumas breves brincadeiras envolvendo conflitos entre as culturas norte-americana e francesa, mas eles são menores diante do mistério que se forma em torno do pai do Mathias. Por mais que o desfecho seja até previsível, o que realmente importa é como a trama chega nele. Além disto, é um dos raros momentos recentes em que é possível ver Kevin Kline fazendo um papel dramático – e, este por si só, já é motivo suficiente para conferi-lo.

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