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    As Boas Maneiras
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    As Boas Maneiras

    Ambicioso horror social brasileiro

    por Rodrigo Torres

    O cinema de Marco Dutra e Juliana Rojas não é fácil, não é simples, e se manifesta com um profundo respeito pela linguagem. Sua gana de explorar as possibilidades da sétima arte é latente — o que por isso só já os torna dignos de todo crédito e atenção. Após diluir sua paixão pelo terror em projetos solos com maior influência de outros gêneros, como o musical cômico Sinfonia da Necrópole e o thriller dramático O Silêncio do Céu, a dupla retoma o horror social de Trabalhar Cansa em seu projeto mais novo projeto; que é mais ousado, mais complexo e, por vezes, menos coeso.

    As Boas Maneiras é um filme em duas partes, com um título que atua de maneira intrincada em cada uma delas. Na primeira, reflete a etiqueta social que tanto falta à empregada Clara (Isabél Zuaa, espantosa) — um pressuposto elitista em que a discriminação de classe incorpora o racismo —, como à patroa Ana (Marjorie Estiano): uma jovem isolada por família e amigos por, abandonando as "boas maneiras", engravidar fora do noivado. Como numa equação, o lapso mútuo as unirá na consagração de uma nova quebra de protocolo: um romance lésbico entre a patroa branca e rica e a emprega preta e pobre.

    Subvertendo a lógica consagrada pelo pai do horror social George A. Romero, em que um evento incrível como o apocalipse zumbi servia para explicitar os verdadeiros males da humanidade (o preconceito, a intolerância etc), o cinema de Rojas e Dutra adota a via inversa e materializa as agruras da sociedade; seus demônios. Assim, se em Trabalhar Cansa é a vida urbana extenuante que dá vazão ao desconhecido (e ao seu suspense psicológico), a fábula de horror de As Boas Maneiras nasce da relação carnal entre um padre e uma adúltera. A distância entre ser humano (viver segundo as boas maneiras) e virar um monstro, um lobisomem, é o pecado.

    Essa proposta sofisticada — tão importante no Brasil de 2017 — se desenvolve com um ritmo próprio, por vezes nada agradável (a trilha eventualmente faz falta), e o filme soa um tanto longo. Porém, a construção minuciosa de As Boas Maneiras transforma a relação de servidão de Clara a Ana em um romance comovente e convincente dentro da proposta absurda do longa. Além desse amor imensurável tornar crível a transição para sua segunda metade, traça um panorama dilacerante sobre o comportamento do negro na sociedade, em que a abnegação irrestrita segue a rota contrária do reconhecimento de seu valor.

    Além dessa articulação temática invejável, Rojas e Dutra constroem sequências de puro deleite visual quando, combinando o urbano e a fantasia, prédios modernos rasgam um céu expressionista, quase gótico, banhado pela Lua cheia. E as cores são um espatáculo à parte: o azul que reflete a calma é predominante na casa da sonâmbula; o laranja (juventude) e o violeta (morte) tomam a tela quando Joel (Miguel Lobo; sobrenome que reflete o personagem e o físico) se rebela e faz sua primeira vítima. E em uma simples passagem de tempo, que enfatiza o aumento de plantas no exterior e no interior da casa, os diretores ilustram a preocupação de Clara em tornar seu lar acolhedor como uma floresta para o seu menino lobo.

    Apesar de habilidosos e versáteis, Juliana Rojas e Marco Dutra vacilam no sincretismo de seus muitos gêneros. Enquanto a estranheza de um lobisomem em CGI grotesco no shopping ou pelas ruas de uma capital brasileira representam um choque entre a ambição criativa e a limitação de orçamento (algo compreensível), as cenas musicais destoam sem necessidade. Mas até que essa falta de boas maneiras realça a revolta de Joel na segunda parte do filme: uma busca pela origem e pela natureza que nega as formalidades.

    Filme visto no 19º Festival do Rio, em outubro de 2017.

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    Comentários

    • Tainá Mathias
      Gostei do filme. Acho que tem bastante coisa intrínseca que é preciso olhar mais profundamente.Clara, mulher negra da periferia, cuidou da avó, outra mulher negra periférica, cheia de saberes populares, culturais, folclóricos. Por isso não questiona a situação, apenas faz o que deve fazer. AO filem traz um misto de cultura rural, como isso chegou a cidade grande, e mostra esse contraponto de forma musical: o sertanejo moderno x festa junina. Achei bastante interessante, assisti firme até o final. Não é um filme ruim.
    • Jason Jay
      só vi comentários negativos sobre esse filme, mas vou defendê-lo até a morte. Meu filme ruim favorito da vida.
    • Jason Jay
      vc sempre pode ver os filmes brasileiros mais de direita, tipo xuxa e os duendes.
    • piantao
      Um dos pires filmes que vi na vida.
    • Macaco Tião
      Tem peitinho de Marjorie Estiano???
    • Camila
      Um filme desconexo, muito longe do que possa ser dramaturgia. Personagens obscuros que enganam a audiência. Elementos plantados sem que sejam pagos em qualquer momento. Quem é a/o protagonista? Ela/e não existe. Questões sociais? Muito distantes de qualquer clareza. Uma história que não envolve, não comove, não prende, não há tensão, não causa empatia. Assistir até o final é para dar uma oportunidade para história oferecer qualquer sentido, mas isso não acontece. Efeitos especiais até que bons, apenas isso, faltou a curva narrativa, faltou ser um filme. Filme arte? Ok, mas para quantos?
    • Cido Marques
      Já assisti, foi o melhor filme nacional que já vi em toda minha vida.
    • Alex
      O filme é simplesmente horrível. Mostra apenas que os cineastas brasileiros, além de amadores incompetentes, são dominados por uma visão marxista da sociedade e não conseguem filmar nada que seja esteticamente agradável. Não perca seu tempo.
    • Alex
      Não assista mesmo. É uma bosta.
    • Marilia T
      Assisti ontem e achei o filme horrível. A história é absurda e não pelo fato de ser uma ficção,não pelo lobisomem mas sim pela falta de ritmo e pela atuação amadora da maioria dos atores e atrizes. Não vale a pena, definitivamente!!
    • Marcio L
      Sou apaixonado por filme brasileiro, mas essa critica está péssima e acho que o responsável por ela realmente não assistiu ao filme. Não gostei nem da crítica nem do filme.
    • Tim Meme
      O monstro da maternidade o pecado da elite.
    • Fábio Tavares
      Assisti o filme, e me acabei de rir com esse texto. São 2 filmes completamente diferentes. O texto não descreve o filme, mas o que o filme pretendia ser, só que passou longe. O filme é fraco, o drama é fraco, não tem ação, nada que te faça rir, nem chorar, além do dinheiro que vc deixou na bilhetria. No texto se fala em terror, mas, pelo amor de Deus, isso não chegou nem perto. Depois de assistir 3% da netflix, eu ainda tenho esperança no cinema nacional.
    • Cido Marques
      Sono?Eu gostei do filme, mas estou acostumado com os filmes franceses. Achei até que nesse teve muita ação desnecessária.
    • adilson
      assisti ontem. vai dividir opiniões. meu filho gostou, mas eu achei um verdadeiro remédio pra insônia... não vou citar as pontos pra não dar spoiler, .... terror não tem, suspense não tem, comédia não tem, aentura não tem, drama muito fraco e raso, critica social só pelas beiradas.... esperava um pouco mais. quero acreditar no cinema nacional mas o pessoal não colabora...
    • adilson
      disse tudo. e nem perca seu tempo indo ao cinema . um sono só...
    • Cido Marques
      Filme maravilhoso, belíssimo. Eu não assisti o filme ainda, mas depois dessa crítica nem preciso mais ver, contou o filme todo.
    • Leonardo Oliveira
      putz que texto é esse ? deu informações do filme que não consta no trailer. puta que pariu. aí é sacanagem. eu continuei lendo pq a porra do texto ta bom pra caramba, mas porra ? não conta tanto não vei
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