Clube da Luta é um filme excelente.
O filme é fantástico, você não consegue saber o nome do protagonista interpretado por Edward Norton e percebe que o narrador não é onisciente; pelo contrário, está confuso, enlouquecido pela insônia e o cansaço. Aquilo que ele nos conta, o que vemos através dos seus olhos não é necessariamente, a realidade e isso é muito interessante.
O filme nos leva a interpretar as duas faces da moeda, pois o narrador, é um homem derrotado, robótico, sem propósito na vida. Cumpre suas obrigações com a sociedade, tem um emprego estável, tem casa própria cheia de adereços, no entanto é extremamente infeliz, o que resulta numa insônia sem fim e deseja sua morte de alguma forma, isso mostra alguém desesperado, que não encontra nenhuma outra saída para a rotina que o consome. Porém quando encontra com Tyler Durden muda o seu destino, já que este o incentiva a deixar para trás tudo que o faz sentir encurralado.
Tyler é tudo o que o narrador queria ser: impulsivo, corajoso, disruptivo, disposto a destruir o sistema que o criou. Trata-se de uma materialização da sua revolta e do seu desespero perante a rotina e o estilo de vida que levava: foi criado para mudar tudo o que o narrador não conseguia sozinho.
Clube da Luta é uma reflexão crítica do "capitalismo e consumismo" que acerca a sociedade sobre o consumo na qual vivemos e os efeitos que ela provoca nos indivíduos. O filme começa nos mostrando várias marcas famosas e o modo como o protagonista e os demais consomem esses produtos com o objetivo de preencher um vazio interior.
O narrador passa quase todo o seu tempo trabalhando para poder se sustentar e, quando está livre, não tendo ninguém com quem estar, ou outra atividade que o estimule, acaba gastando o seu dinheiro em bens materiais. Sem nome, este homem é uma representação do cidadão comum, que vive para trabalhar e juntar dinheiro para depois gastar em coisas que não precisa, mas que a sociedade o pressiona a ter.
Por causa desse ciclo vicioso, os indivíduos são transformados em meros consumidores, espectadores, escravos de um sistema que define o valor de cada um segundo o que ele possui, e esgota toda a sua existência.
Quando perde todas suas coisas em sua casa casa, a sensação que o invade é a de liberdade. Nas palavras de Durden, "Só depois de perdermos tudo é que somos livres para fazermos o que quisermos". Depois de se desprender dos bens materiais que o controlavam, começa a elaborar o seu plano para destruir o sistema capitalista e libertar o povo das suas dívidas, acreditando que está salvando todas as pessoas.
Luta como libertação de sentimentos reprimidos, a violência surge como uma forma momentânea de fazer com que aqueles homens se sintam vivos. Como é explicado pelo protagonista, o mais importante nas lutas não era ganhar ou perder, eram as sensações que elas provocavam: dor, adrenalina, poder. Era como se passassem o tempo todo dormindo e apenas acordassem no Clube da Luta, descarregando toda a raiva acumulada e experimentando uma espécie de libertação.
Solidão e relações humanas precárias, uma característica transversal a todas as personagens é a solidão extrema. Condenados por estar dentro do sistema (como o narrador) ou por estar fora (como Marla Singer), todos levam uma existência isolada. Quando se encontram nos grupos de apoio, Marla e o protagonista procuravam o mesmo: contato humano, honestidade, a possibilidade de chorar no ombro de um desconhecido.
É possível que essa insociabilidade, esse exílio existencial seja aquilo que atrai os homens do Clube da Luta e do Projeto Caos, que passam a viver na mesma casa, a comer e dormir juntos, lutando pela mesma causa. É esse sentimento de pertença que parece atraí-los para Tyler, alguém que partilha a mesma revolta e promove o ódio pela sociedade capitalista que os excluiu.
O interessante que o filme deixa o final em aberto, pois não fornece uma resposta concreta ao espectador acerca do que aconteceu. O narrador luta com Tyler e o narrador fica ferido mas parece ganhar, baleando Tyler, que desaparece. Marla, que tinha fugido da cidade para se proteger do Projeto Caos, é raptada pelos membros e levada para o local.
Dão as mãos e o narrador diz a Marla: "Você me conheceu numa altura muito estranha da minha vida”. Ficam assistindo pela janela a explosão dos edifícios que continham todas as informações de cartões de crédito do mundo para criar o caos econômico e libertar as pessoas de suas dívidas abusivas que as empresas de cartões nos cobram, enquanto, ao fundo toca Where is my mind? (Onde está minha mente) dos Pixies.
Embora vejamos que o plano do Projeto Caos funcionou, não chegamos a conhecer as suas verdadeiras implicações nem sabemos, ao certo, se Tyler Durden realmente "morreu" ou não.