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    Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Eu Não Faço a Menor Ideia do Que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida

    Existencialismo cool

    por Bruno Carmelo

    Antes de assistir a este filme, saiba que você tem mais chances de se divertir com esta comédia se for fã de Clarice Falcão. Não apenas das músicas dela, do estilo gaguejante de falar, nem dos vídeos do Porta dos Fundos, e sim da filosofia de vida fofa/hype tão bem representada pela atriz. Isso porque Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida não é uma espécie de Porta dos Fundos – O Filme, e sim um exercício freestyle em pós-modernidade, uma ode aos jovens vazios que estão “tentando se encontrar”.

    Esta produção bastante atrelada aos tempos atuais – sem grandes aspirações artísticas, ela não deve ter muito sentido dentro de cinco anos – diverte-se com citações a ícones pop, na velocidade de uma metralhadora. Tudo está incluído nesta leva: temaki, Nespresso, Nicolas Cage, casa na árvore, ICQ, Facebook, música indie, croissant, Big Brother Brasil, Aquaman, Windows Movie Maker, A Árvore da Vida, Twitter, GTalk, Wii, dançar sem música, jogo da memória, iPods etc. etc. etc. A ideia é encorajar o espectador a perceber quantas referências ele reconhece, para determinar qual é o seu grau de inserção no grupo cool da classe média-alta (principalmente carioca) de hoje em dia. Eu Não Faço... é essencialmente um produto de gueto.

    Isso significa que a produção tem sua chance de se tornar um prazer cult, importando o modelo indie norte-americano. A fórmula comum por lá (jovens adultos fracassados encontram outros jovens adultos fracassados) chega ao território brasileiro com ar de novidade, por ser falada em português e brincar com alguns elementos típicos da cultura nacional. Mas a estrutura não é muito diferente daquela presente em Juno, Jovens Adultos, O Futuro, Submarine, Toda Forma de Amor, Away We Go e muitos outros. Além disso, o filme funciona como uma propaganda não muito dissimulada da cidade do Rio de Janeiro, passeando por todos os pontos turísticos possíveis e valorizando os belos cenários da cidade.

    Não que essas imagens sejam particularmente bonitas: Eu Não Faço... é produzido com um orçamento limitadíssimo, resultando em uma textura digital amadora, uma montagem simplíssima e uma direção de fotografia (principalmente nos espaços internos) digna do pior filme caseiro. Mas tudo bem: este é o tipo de estética cool por excelência, porque rejeita o profissionalismo da indústria e valoriza a expressão individual, o faça-você-mesmo, a sensação de urgência das webcams, dos celulares, dos vídeos do Instagram. Como as imagens captadas por essas mídias, o filme se dedica ao exercício do egocentrismo da burguesia, de preferência aquela representada por pessoas na casa dos 20 ou 30 anos de idade. São personagens com afetos desencarnados (o pseudo namoro entre os personagens de Clarice Falcão e Rodrigo Pandolfo resume-se a um único beijo) e com assustadora indiferença a qualquer pessoa ou fato ao redor.

    A precariedade assumida acaba reforçando justamente a rejeição aos códigos do cinema narrativo, à técnica das produções industrializadas, à necessidade de reviravoltas ou conflitos. Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo Com a Minha Vida é um jam session fílmico de Clarice Falcão, um brainstorming de artistas que acham divertido fazer algo contra tudo isso que está aí, toda essa coisa, tipo assim, meio careta, meio tipo assim, sabe? Uma espécie de revolta vazia, autoindulgente, “alternativa” sem saber a quê. Se tivesse um mínimo de crítica (em estilo Woody Allen, por exemplo) ou de paródia, poderia ser algo interessante. Mas o filme defende estes tipos disfuncionais e uma verborreia narcisista como se fossem uma inovadora filosofia de vida.

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