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    País do Desejo
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    País do Desejo

    Ciência vs. religião

    por Lucas Salgado

    O paraibano Paulo Caldas estreou como diretor de longas em 1997, com o elogiado Baile Perfumado. Dez anos depois dirigiu o premiado Deserto Feliz, drama intenso sobre uma garota de 14 anos que, após ser violentada pelo padrasto, foge para o Recife, onde passa a trabalhar no universo do turismo sexual. Ao anunciar um filme que envolveria sexo e religião, esperava-se que o diretor voltasse a chamar a atenção. Mas não foi o que aconteceu.

    País do Desejo conta a história de Roberta (Maria Padilha), uma pianista clássica que perdeu o gosto pela vida e só espera pela iminente morte resultante de uma doença renal. Do outro lado, temos o padre José (Fábio Assunção), um sujeito com pensamentos modernos que comanda uma pequena igreja no interior de Pernambuco. Roberta morra na capital, mas acabará aparecendo na vida do padre ao visitar sua cidade para uma apresentação.

    Enquanto que a personagem de Padilha seja absolutamente desinteressante, afinal já entra em cena numa situação tão pessimista que é difícil para o público se identificar, o mesmo não pode ser dito do padre interpretado por Assunção. Ele possui visões progressistas, defendendo o aborto em caso de estupro e protagonizando campanhas pelo uso da camisinha. O roteiro, também de Caldas, ao lado de Pedro Severien e Amim Steppler, demonstra uma coragem impressionante ao abordar tais temas, principalmente num momento que o Brasil vê movimentos em prol do conservadorismo, como a "lei dos bons costumes" criada no Rio de Janeiro.

    Mesmo apresentando um personagem tão interessante, o longa acaba jogando tudo fora ao tomar uma atitude covarde. Em determinado momento, a trama mostra que o posicionamento de José com relação aos pensamentos da Igreja não são de progressismos, mas sim de ruptura. Ou seja, ao invés de continuar defendendo que a instituição deve abrir seus olhos para o mundo moderno e as novas condições sociais, o filme se entrega e admite que o lugar do sujeito não é na Igreja.

    Mostrando-se completamente fora de rumo ou foco, o diretor ainda oferece momentos em que procura transgredir apenas por transgredir, deixando de lado qualquer sentido, como quando vemos uma enfermeira japonesa sexy comendo hóstias com ketchup. Tal personagem, por sinal, é absolutamente dispensável, oferecendo diálogos e situações totalmente fora de propósito. No caso, a culpa é mais do roteiro que da jovem atriz.

    O filme não chega a ser um desastre completo, contando com uma direção de fotografia interessante de Paulo Jacinto dos Reis. As opções de enquadramentos são bem feitas, em especial a escolha de colocar o padre quase sempre no centro do quadro, o que vai mudando na medida que sua fé vai sendo testada.

    Ao final, fica a impressão de que País do Desejo deixa a impressão de que poderia ser bem melhor do que realmente foi, pecando pela covardia em sua metade final e pela falta de melhores atores. Assunção pode até não comprometer, mas é impossível não dizer o mesmo de Maria Padilha e Gabriel Braga Nunes.

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