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    Giovanni Improtta
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Giovanni Improtta

    Caricaturas

    por Francisco Russo

    A princípio, parecia ser uma aposta interessante. Em alta mais uma vez graças ao sucesso do personagem Giovanni Improtta na novela Senhora do Destino, José Wilker pensou em levá-lo para as telas de cinema. A história não seria um problema, visto que Giovanni vinha de um romance pouco conhecido do autor Aguinaldo Silva, e a popularidade viria de carona no sucesso da própria novela. A confiança no projeto era tanta que o próprio Wilker topou estrear na direção, após insistência do produtor Cacá Diegues. Só que, no meio do caminho, tudo desandou. Lançado tardiamente, oito anos após a exibição de Senhora do Destino, Giovanni Improtta viu a fama do personagem se dissipar e, pior ainda, sofre de problemas estruturais sérios.

    A história acompanha Giovanni vivendo com Marilene (Andréa Beltrão), com quem teve um filho. Bicheiro assumido, ele se esforça para impressionar os integrantes da cúpula, uma espécie de reunião entre bicheiros renomados para a qual acabou de entrar. Além disto, mantém o firme propósito de ascender socialmente no Rio de Janeiro, fazendo o possível para se filiar a um clube bastante seletivo. Tudo usando as artimanhas típicas de quem está acostumado ao mundo da contravenção, na qual uma boa quantia paga à pessoa certa tudo pode conquistar. Em meio a este duplo esforço, Giovanni precisa ainda lidar com um complô orquestrado entre algumas das pessoas que mais confia.

    Diante deste cenário e de algumas características consagradas na própria novela, como o uso exagerado de pronomes e o lado brega escancarado do personagem principal, Wilker optou por apostar em piadas tolas de duplo sentido e em personagens caricatos, que pudessem ter fácil associação com o público. Em alguns momentos até funciona, como no caso do pastor evangélico interpretado por Thelmo Fernandes (há uma cena ótima dele com Milton Gonçalves, onde é inevitável a associação com o atual cenário político brasileiro), mas em geral acaba soando superficial demais. Além disto, o filme sofre com a ausência de timing cômico e certos cortes bruscos, que o tornam um tanto quanto desconexo. Quer fazer rir, mas aparenta não saber como.

    Entretanto, segundo o próprio Wilker declarou no Cine PE – Festival do Audiovisual, sua intenção maior ao fazer o filme não foi fazer o público rir, mas apresentar a história de uma figura do submundo carioca que convive tranquilamente em meio à legalidade. Neste sentido, Giovanni Improtta tem algum fundamento. Entretanto, a existência deste tipo de personagem no mundo real jamais é aprofundada, no sentido de justificar sua existência e até mesmo compreendê-la. Ao invés de analisá-lo, o diretor/ator está mais interessado em explorar seus cacoetes cômicos, como demonstram as diversas piadas envolvendo flatulência e troca de palavras. É, mais uma vez, uma caricatura exibida em cena. Pior, uma caricatura sem graça.

    A impressão que fica é que Wilker acreditou demais na força do personagem ao trazê-lo para o cinema e, por isso, não se precaveu de cercá-lo com uma história que pudesse dar suporte à óbvia veia cômica que possuía. O resultado é um filme com ar antiquado, que abusa de cenas usando plano e contraplano, e bastante perdido sobre que rumo seguir. Se há alguma dúvida, basta notar a quantidade de subtramas que o filme segue ao longo de sua duração, saltando de uma para outra sem muito critério. De positivo, há a sequência de abertura, onde os créditos iniciais dançam ao som de samba, e as participações de Thelmo Fernandes e Andréa Beltrão.

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