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    Absolutely Fabulous: O Filme
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Absolutely Fabulous: O Filme

    Humor de alvos errados

    por Bruno Carmelo

    Ao longo de seis temporadas e diversos episódios especiais, a série Absolutely Fabulous construiu uma reputação sólida pelo humor sulfuroso, nonsense, que não poupava nada e ninguém. As protagonistas Edina Monsoon (Jennifer Saunders), profissional de relações públicas, e a editora de moda Patsy Stone (Joanna Lumley) foram responsáveis por parodiarem as celebridades, o mundo do estrelato e do consumismo, disparando piadas politicamente incorretas sobre todos os grupos sociais, sem exceção.

    A adaptação cinematográfica enfrentava dois desafios: a diferenciação da linguagem televisiva e a preservação da irreverência da série. Em ambos os quesitos, o resultado decepciona. Absolutely Fabulous - O Filme se parece com um episódio alongado, mantendo a estética da TV (planos próximos, gags no final de cada cena para facilitar a edição, cenário falsos como numa sitcom típica) sem trazer conflitos originais à trajetória das duas. Edina e Patsy passam pelas crises comuns dos episódios: ambas perdem o trabalho por causa de um escândalo envolvendo a modelo Kate Moss, e fazem o possível para retomarem o contato com o mundo da fama.

    No cinema, era de se esperar que o alcance da crítica ao estrelato fosse maior. Por um lado, a produção multiplica as aparições especiais: Jon Hamm, Gwendoline Christie, Jean-Paul Gaultier, Rebel Wilson, Graham Norton, Kate Moss, Jerry Hall e Emma Bunton são algumas das celebridades que desfilam em pequenos papéis, para o prazer de reconhecimento do público. No entanto, o roteiro é inofensivo no que diz respeito à fama: nenhuma dessas pessoas é criticada, e a busca pela fama sai ilesa do discurso. Pelo contrário, o filme adota o glamour que sempre criticou na série. Pode soar descolado apresentar tantos nomes famosos, como marcas buscando agregar valor final ao projeto, porém seria importante refletir sobre a presença das mesmas no filme.

    Na ausência de críticas ao mundo da fama, sobram piadas de cunho preconceituoso, especialmente racista. A garota negra Lola (Indeyarna Donaldson-Holness) é alvo de todo o tipo de piadas sobre seu cabelo, sua pele, sua suposta origem africana e as doenças que poderia carregar. Gays e transexuais também são vistos com deboche. Absolutely Fabulous - O Filme se acovarda diante dos poderosos, atacando crianças e minorias sociais. O humor jocoso é completado pelo apelo à comicidade física, com a dupla caindo no chão e tropeçando em objetos pela rua.

    É verdade que, na sessão do festival Mix Brasil, o público riu bastante deste produto próximo às produções brasileiras estreladas por Leandro Hassum ou Paulo Gustavo – mas sem a gritaria do equivalente nacional, pelo menos. Quem buscar uma diversão popularesca e despretensiosa pode embarcar nas trapalhadas absurdas das duas personagens no cinema. Mas é uma pena que Absolutely Fabulous se revele medroso e pouco criativo na transposição à tela grande.

    Filme visto no 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2016.

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