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    Quincas Berro D'Água
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Quincas Berro D'Água

    Vadiagem Até a Morte

    por Francisco Russo

    No vasto rol de personagens criados por Jorge Amado, dois se destacam pela sua dedicação aos prazeres da vida: Vadinho, de Dona Flor e Seus Dois Maridos, e Quincas Berro D'Água. Ambos marcaram época na literatura nacional, mas apenas o primeiro repetiu o sucesso no cinema. Quase 40 anos após a publicação do livro, chegou a hora de Quincas se aventurar na tela grande. Com relativo mérito.

    A história fala de Joaquim Soares da Cunha (Paulo José, apenas correto), um pacato funcionário público com família formada que um dia se cansa de tudo. A opressão familiar, da moral e dos bons costumes, se torna sufocante e ele decide largar tudo para viver nas ruas. Nasce então Quincas Berro D'Água, uma verdadeira lenda em Salvador. De bar em bar, geralmente rodeado por mulheres, Quincas se esquece do mundo pregresso para embarcar de corpo e alma na vadiagem. Até que um dia, sozinho em sua casa, morre.

    A morte de Quincas provoca o encontro dos dois opostos de sua vida: a família, que passou a renegá-lo, e seus fiéis companheiros. O preconceito de ambos os lados é nítido. De um lado o temor da elite em relação às pessoas de classe mais baixa. Do outro, a estranheza por este comportamento arrogante e ao menos tempo a chance perfeita para passar a perna nos envolvidos. A malandragem está em jogo e tem papel importantíssimo na trama.

    Esta linha tênue é bem representada na figura de Vanda, a filha de Quincas. Mariana Ximenes dá à personagem uma interpretação como se estivesse em transe, chocada com os eventos. É a única personagem que, ao longo de todo o filme, transita entre os dois mundos. E é este pano de fundo que há de mais interessante em Quincas Berro D'Água, como um pequeno retrato do conflito quase sempre implícito, mas existente, entre as classes sociais no Brasil.

    De resto, é um filme divertido. Graças especialmente aos amigos de Quincas, com suas particularidades por vezes caricatas mas sempre curiosas. Ponto negativo para os momentos em que apela para piadas escatológicas, de forma desnecessária. Trata-se de um filme fiel ao espírito criado por Jorge Amado, no sentido de louvar o aproveitar a vida. Quincas foi assim em vida e, graças aos amigos, repetiu a dose mesmo após morto. Diverte, e só.

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