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    Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Procura-se um Amigo para o Fim do Mundo

    Doce apocalipse

    por Bruno Carmelo

    Não há nenhum tema que o cinema indie não consiga transformar em uma aventura pessoal, intimista e afetuosa. A catatonia em Pequena Miss Sunshine, a gravidez adolescente em Juno, o mal de Parkinson em Amor & Outras Drogas, tudo pode virar um tema leve e sorridente. Dependendo do ponto de vista, isto pode ser considerado louvável, já que elimina a noção de tema tabu, ou preocupante, por privilegiar o indivíduo e esquecer a sociedade.

    A nova fronteira do indie foi englobar também os filmes de gênero, os efeitos especiais e mesmo os filmes catástrofe. 2011 e 2012 foram anos repletos de produções sobre o apocalipse, mas não de maneira espetacular, como em O Dia Depois de Amanhã. O fim do mundo se tornou uma metáfora para os conflitos pessoais. Quando o planeta está prestes a acabar, não se vê mais imagens da Estátua da Liberdade submersa em ondas gigantescas, e sim o protagonista (solitário, depressivo) hesitando se quer passar seus últimos segundos abraçado ao cachorro ou à foto da pessoa amada.

    Assim, uma mulher quer preservar a pureza de seu filho antes da Terra explodir em Melancolia, um homem não consegue explicar aos vizinhos que uma tempestade vai destruir o planeta em O Abrigo. O cosmos está sempre à disposição do indivíduo e se comunica diretamente com ele, como em A Outra Terra, onde uma garota descobre um novo planeta onde ela pode ser feliz, logo após um trauma, e O Futuro, no qual a Lua vem literalmente dar conselhos amorosos a um personagem em crise de relacionamento. Procura-se Um Amigo Para o Fim do Mundo segue este mesmo princípio: o caos universal torna-se uma desculpa para que pessoas solitárias entrem em contato com seus próprios sentimentos.

    O anúncio do cataclismo vem desde a primeira cena, que tem o mérito de explicar tanto o tema quanto a comicidade. A notícia é explicada em uma rádio: "Vocês ouvirão a contagem regressiva para o fim dos dias, junto com todos os seus clássicos favoritos do rock!". Esta solução é bastante inteligente, por despertar a curiosidade do espectador ao invés de fornecer imagens prontas – afinal, todas as pessoas possuem um imaginário sobre o apocalipse à disposição. Tudo está presente neste início: o tema, a ironia, a passividade do personagem de Steve Carell. Este é claramente um filme de roteirista, no caso, a primeira experiência na direção da roteirista e cantora Lorene Scafaria, que teve um grande cuidado ao desenvolver o ritmo das ações, plantando pequenos símbolos que voltam no desenrolar da história para ganharem novo significado.

    O roteiro é de fato o grande mérito desta produção, que tem a missão de unir comédia romântica, drama e filme catástrofe. Nada é deixado de fora: a explicação científica para a catástrofe, a reação das pessoas, os anúncios no jornal... Tudo é feito com calma, tranquilidade, dando tempo aos personagens. A comicidade não nasce de piadas explícitas, mas da desproporção: o carro pequeno demais, a paranoia grande demais de um militar, a garota que dorme demais etc. O medo é parodiado pelas cenas de rebelião (muito bem filmadas, à distância, com sugestões de sons e luzes), e inversamente, a alegria do tipo "o mundo vai acabar, então eu quero mais é aproveitar" é cristalizada em uma estranha lanchonete multicolorida e cheia de pessoas libidinosas. No fundo, este aqui é um drama realista e humanista, mas envolto nos traços típicos da caricatura, ou seja, aumentando os aspectos mais evidentes de cada situação.

    Quanto ao elenco, Keira Knightley continua histérica (algum diretor precisa urgentemente dizer a esta garota para parar de revirar os olhos), mas neste caso sua atuação funciona como contraponto ao estilo contido de Steve Carell. Depois do personagem minimalista em Um Divã para Dois, ele parece ter embarcado na linha humorística dos palhaços tristes, aqueles que, com cara séria, fazem rir de suas próprias dores.

    A história segue seu rumo inevitável (existe mesmo uma contagem regressiva na tela), embalada em música indie rock melodiosa, contemplando os personagens enquanto degustam um bom sanduíche antes de morrerem, com uma taça de vinho na mão. Dos fatos graves narrados de maneira atenuada (a assustadora morte do caminhoneiro) aos fatos leves intensificados (a carta redigida à ex-namorada), todos os acontecimentos ganham a mesma proporção e fluidez. Para o bem ou para o mal, o rolo compressor do indie representa tanto a morte iminente quanto a descoberta de um novo amor com o mesmo sorriso. Mais do que isso, ele faz de um a condição para o surgimento do outro. Se for para morrer, que seja apaixonado.

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