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    Amores Imaginários
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Amores Imaginários

    Ilusões

    por Francisco Russo

    Em um belo dia, tudo muda. Alguém chama sua atenção, seja por questões estéticas, intelectuais, de personalidade ou ainda um pouco de cada uma delas. De repente a pessoa passa a brilhar, tudo que ela faz soa perfeito. As qualidades são maximizadas, os defeitos são tão menores que podem ficar de lado. Sem se dar conta, você está apaixonado(a). Vem então a derradeira pergunta: o sentimento é recíproco? O alvo tem consciência deste interesse ou ao menos já deu algum indício que algo possa realmente acontecer? É a partir destas duas questões que surge Amores Imaginários, um criativo exercício do diretor e protagonista Xavier Dolan sobre a transformação avassaladora provocada pela paixão e o quanto ela pode ser ilusória, sem que a própria pessoa perceba.

    O alvo é Nicolas: loiro, jovem, culto, brincalhão, de cabeça aberta, acaba de chegar à cidade. Não demora muito para que os amigos Marie e Francis se interessem por ele. Sim, isto mesmo. As atitudes de Nicolas deixam uma dúvida no ar: seria ele hetero ou homossexual? O carinho com o qual trata ambos não permite que o martelo seja batido, para algum dos lados. A categoria Kinsey, citada num dos depoimentos que permeiam o filme, lembra que ele pode ser ambos. Em meio aos questionamentos, Nicolas surge em cena usando os clássicos óculos de Lolita, no formato de coração. Natural, ele é o objeto de desejo dos amigos. Não demora muito para que seja comparado com Davi, a estátua que simboliza a perfeição do ser humano. Exagero? Não para quem está apaixonado.

    É através deste olhar, de quem vê os acontecimentos em busca de pistas que indiquem algo além, que se baseia a boa direção de Xavier Dolan. Não apenas através da história ou no enfoque especial dado ao ponto de vista de Marie e Francis, mas também esteticamente. Seja nas luzes retratando as experiências sexuais dos amigos com outras pessoas, e a frustração presente em cada caso, ou na linda “Bang Bang”, canção que surge sempre que Marie ou Francis se vestem para matar, dando aquele retoque especial de quem está decidido a conquistar o próximo.

    Amores Imaginários de certa forma dialoga com (500) Dias com Ela, pela abordagem do ciclo da paixão. Início, meio e fim. Os depoimentos em tom documental que surgem em vários momentos do longa-metragem lembram que a história apresentada não é única, o amor e a paixão surgem nas mais variadas formas e dependem ainda da personalidade e caráter dos envolvidos. Questionamentos sempre surgem a cada fracasso e o isolamento por vezes é necessário, mas a desistência está fora de cogitação. Afinal de contas, o homem não foi feito para viver sozinho. Bom filme.

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