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    Um Verão Escaldante
    Críticas AdoroCinema
    0,5
    Horrível
    Um Verão Escaldante

    Uma frieza absoluta

    por Roberto Cunha

    O que você acharia de um filme que deixa em você a estranha sensação de que perdeu alguma cena? Enigmático? E se isso acontecesse com frequência? Estranho? E se ele fosse dirigido por um cineasta europeu, cultuado, premiado, coisa e tal? Ah! Isso ajuda? Bem, Um Verão Escaldante pode ser tudo isso aí dito nessa introdução e o gostar ou não vai depender tão somente do seu nível de percepção. Escrito e dirigido por Philippe Garrel, um habitué de eventos de cinema e queridinho do Festival de Veneza, o filme é "pra lá de Marrakesh", expressão setentista que significa muito louco. E no mal sentido. De fato, se diz o ditado que a primeira impressão é a que fica, os créditos iniciais em silêncio sepulcral são reveladores.

    Após a tal abertura empolgante, lá vamos nós com duas cenas melancólicas: um homem abalado na direção de um carro e uma mulher nua deitada na cama. Os personagens em questão são Frédéric (Louis Garrel) e Angèle (Monica Bellucci). Ele, filho do cineasta em sua quarta participação numa produção do paizão. Ela, atriz italiana mundialmente conhecida mais por sua beleza exótica do que necessariamente por suas escolhas cinematográficas. Na história, ele interpreta um artista plástico, ela uma atriz de cinema e os dois formam um casal em conflito. Antes que esse drama seja apresentado, porém, a narrativa volta no tempo para introduzir Paul (Jérôme Robart) e Elisabeth (Céline Sallette), que se conhecem durante uma filmagem, começam a namorar e logo se transformam em frequentadores assíduos da casa de Frédéric e Angèle. Assim, sem eira nem beira, amizades se constroem num piscar de olhos e no minuto seguinte já se fala em experiências de suicídios (fixação do cineasta), sexo casual e por aí vai.

    Na tentativa de se dar mais densidade para a trama, são inseridos nos diálogos temas fortes, como morte, revolução, direita, fascismo, religião, guerra e política (o protagonista chama, gratuitamente, o ex-presidente Sarkozy de merda), mas é tudo jogado, às vezes de maneira pretensiosa e mais parece um balaio de gatos. E como não se aprofunda em nada, tudo fica sem nexo e os personagens não geram envolvimento. Angèle, por exemplo, em momentos diferentes tem dois ataques histéricos forçados e a possível existência de uma paixão homoafetiva entre Paul e Frédéric segue velada até o fim. De positivo, uma sequência de dança protagonizada por Bellucci e a trilha sonora que é boa, mas não embala o filme, carente de ritmo e com excesso de cortes ruins. Ou seja, se o calor é uma constante na versão brasileira do título e também no original (Un été brûlant), na tela da sala escura a frieza é absoluta.

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    Comentários

    • Arthur Gadelha
      Acredito que os filmes verdadeiramente ruins são os que me esvaziam, que foi o caso deste. Passei toda sua duração procurando qualquer traço de realidade, de envolvimento, de necessidade, e só encontrei a mim mesmo procurando a palpabilidade dessa história. É como você disse, um balaio de temas jogados pela usualidade política do cinema francês. O resultado é frágil, e pode esgotar toda a relação com a obra.
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