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    Pegando Fogo
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Pegando Fogo

    Cavaleiro solitário

    por Francisco Russo

    O título brasileiro de Pegando Fogo é capcioso, sugerindo uma certa picardia tendo por base a beleza de Bradley Cooper. Não é o que acontece. "Burnt", no original, tem mais a ver com o momento de vida de Adam Jones, um cozinheiro consagrado que anda queimado no meio devido ao envolvimento (e excesso) no álcool e drogas. Consciente de seu momento, o próprio Jones se penitencia ao se manter em um trabalho bem aquém de seu potencial, abrindo ostras em Nova Orleans. Até que, um dia, decide voltar.

    É curioso notar como o diretor John Wells (Álbum de Família) constrói seu personagem principal como uma espécie de cavaleiro solitário, com sua jaqueta de couro a bordo da motocicleta estilosa, prestes a resgatar velhos conhecidos para ajudá-lo na tarefa maior de montar um novo restaurante - uma versão moderna do início de Os Sete Samurais, por assim dizer. Cada um deles vive uma espécie de carma pessoal, também pagando pecados antigos ou simplesmente não recebendo o devido reconhecimento. São outsiders, loucos por uma oportunidade de mostrar seu valor, o que explica a devoção a Adam Jones. O que não significa também que o convívio com o chefe será dos mais pacíficos.

    Pegando Fogo, na verdade, é um filme sobre obsessão e autoconfiança. É graças a ambos que Jones chega a Londres disposto não simplesmente a recomeçar a carreira, mas a retornar ao topo de antigamente. Seus planos são grandiosos, sempre buscando a excelência e a consagração - e, naturalmente, quem mira tão alto contando apenas com o próprio talento como trunfo não é nem um pouco modesto. Se por um lado este misto de autoconfiança com arrogância é um traço marcante do personagem principal, que trará reflexos de várias formas em sua vida, por outro também dificulta bastante que o público torça por ele. Adam não é aquele tipo de pessoa que cobra firme, mas afaga nos bastidores - ele quer tudo sempre perfeito e, para tanto, não se incomoda nem um pouco em gritar e jogar tudo para o alto quando necessário. Trata-se de uma espécie de Gordon Ramsey, mas não tão bravo.

    Por outro lado, é justamente a dinâmica quase ditatorial em uma cozinha de alta gastronomia o que há de melhor no filme. Não propriamente pelos pratos que volta e meia surgem na tela, belos e apetitosos, mas pelo ritmo de produção mirando não apenas a quantidade, mas também a qualidade. A rivalidade entre chefs também tem seu espaço, por mais que em certos momentos a direção opte por analogias visuais óbvias sobre quem é o "mocinho" e quem é o "bandido", como se o espectador precisasse de uma cartilha para identificar o "herói". Desnecessário. Assim como boa parte das subtramas que surgem no decorrer da narrativa, como a envolvendo Alicia Vikander e a cobrança dos traficantes franceses. Todas pouco acrescentam ao filme como um todo e, ainda por cima, distraem o público do que o longa realmente tem a dizer.

    Pegando Fogo não é um grande filme, mas entrega ao espectador um panorama interessante sobre os bastidores de um restaurante de elite. É claro que há simplificações, especialmente em relação à rapidez com a qual tudo acontece, mas trata-se de um facilitador aceitável dentro da dinâmica necessária. Por mais que conte com a aparência de Bradley Cooper para chamar a atenção do público, não há no filme uma exploração maior de sua beleza e poder de sedução - a não ser em uma cena até boba envolvendo Daniel Brühl, reveladora sobre o relacionamento dos personagens. Brühl, por sinal, mais uma vez se destaca ao desenvolver um sotaque bem particular, assim como já havia feito em Rush - No Limite da Emoção. Ambos não chegam a brilhar, mas cumprem de forma competente o que seus papéis pedem - assim como todo o restante do elenco. Razoável.

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    Comentários

    • Nicholas Bello
      Pegando Fogo não é um grande filme. Eu não acredito que li isso nessa crítica... esse cara viu que filme meu Deus?! Bradley Cooper esteve simplesmente PERFEITO nesse filme, assim como a linda Sienna Miller. Sinceramente, um dos melhores filmes que já vi e, definitivamente, o melhor filme de gastronomia que já assisti. Bem produzido, dirigido, dinâmico, o filme não deixa você parar para respirar nem um minuto. Cada personagem tem sua importância no filme e, de alguma forma, acrescenta e muito na história. Não acredito que recebeu 2,5 da crítica do AC. Inacreditável, mesmo!
    • Felipe Teodósio Lobo
      Pra mim foi sensacional, modesto, brilhante e emocionante. As emoções exibidas no filme - obviamente - podem ser experimentadas em primeira mão por qualquer um de nós. Mas vou salientar @s profissionais de criação gastronômica, artística, tecnológica... ou outras áreas relacionadas à experiência de usuário/consumidor e resultado. Estes profissionais sabem como é sentir várias das emoções expostas no filme e pessoalmente esse conjunto somado à trilha sonora, cortes precisos, atuações agradáveis e locações simples e marcantes fazem desse filme um 4,0.
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