Minha conta
    Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme

    Mundo Globalizado

    por Francisco Russo

    Oliver Stone adora uma polêmica. Foi assim que abordou temas tão diversos como a Guerra do Vietnã (Platoon, Nascido em 4 de Julho e Entre o Céu e a Terra), o assassinato de John Kennedy (JFK - A Pergunta que Não Quer Calar), o atentado terrorista de 11 de setembro de 2001 (As Torres Gêmeas) e as vidas de Richard Nixon (Nixon) e Jim Morrison (The Doors). Em meio a tantos assuntos explosivos, um em especial obteve grande destaque na época em que foi lançado mas, com o tempo, ficou esquecido. Trata-se de Wall Street - Poder e Cobiça, que abordava a ganância sem limites existente no universo financeiro americano. Mais de duas décadas depois, Stone retorna ao tema, impulsionado pela recente crise econômica que assolou o mundo.

    A mola mestra permanece sendo Gordon Gekko, o ambicioso personagem que rendeu a Michael Douglas o Oscar de melhor ator. A abertura do filme já situa o que aconteceu com ele. Preso, é libertado e não tem ninguém a esperá-lo ao recuperar a liberdade. Entre seus pertences está um celular antiquado, uma referência óbvia ao próprio Gekko. Apesar de manter o faro apurado para os negócios, ele agora é um pária, excluído do meio devido à condenação do passado e, principalmente, por não ter mais dinheiro para investir.

    A chance de voltar aos bons tempos vem através de Jacob Moore (Shia LaBeouf, correto). Corretor de Wall Street e extremamente idealista, ele vive com Winnie (Carey Mulligan, mais uma vez chamando a atenção), a filha de... Gekko. Só que há um problema: ela não fala com o pai há anos. É claro que isto não será empecilho para Jacob, que passa a encontrar o possível sogro às escondidas e trama encontros entre eles, "ocasionais". Gekko, por sua vez, tem interesses ocultos nesta aproximação.

    Por trás da amanteigada história de reconciliação entre pai e filha, há uma trama bastante interessante que revela muito das entranhas do capitalismo atual. Uma realidade globalizada, onde o dinheiro vem dos locais mais diversos e impensáveis, saindo e entrando em questão de minutos. Por mais que seja um tema de certa forma difícil para o público leigo, está aí o grande atrativo de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme. E, sabendo desta dificuldade, Oliver Stone tentou simplificá-la ao máximo, através de gráficos e animações - por vezes dispensáveis - e sacadas do tipo "o dinheiro é uma vadia que nunca dorme, pois pode te abandonar a qualquer momento". Nada mais correto no complexo mercado financeiro atual.

    Complexo não apenas para o público, mas também para quem lida com o próprio mercado. Esta dificuldade com os dias atuais está também retratada, através de Lewis Zabel (Frank Langella, comovente), que sofre um duro golpe orquestrado por um vingativo empresário, Bretton James (Josh Brolin, bem em cena). Stone buscou abordar diversos aspectos da recente crise econômica através de personagens variados, apesar de às vezes exagerar na dose. A personagem de Susan Sarandon, apesar de representar o pequeno investidor que joga com o mercado, é dispensável para a história como um todo.

    A grande falha de Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme é seu desfecho. Durante toda a trama Oliver Stone nos brinda com explicações e demonstrações de como é o mundo capitalista atual, com frases de efeito do tipo "queremos que as bolhas aconteçam, pois criamos repetidas vezes condições para tanto". Gordon Gekko, no fim das contas, é apenas um meio através do qual este retrato é apresentado. Só que Stone decidiu conceder ao personagem uma redenção, moral e afetiva. É aí que o filme derrapa, com um desfecho incoerente não apenas com o universo apresentado como também à própria história do personagem contada neste e no filme anterior.

    Apesar disto, Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme é um bom filme. Conta com um bom elenco, em que Frank Langella é de longe o maior destaque, e traz à tona uma tema bastante atual. É preciso reconhecer que, de certa forma, Stone foi corajoso ao encampá-lo, devido à dificuldade em transmitir este tema ao público. Menção especial também para a curta e divertida ponta de Charlie Sheen, estrela de Wall Street - Poder e Cobiça, que mescla a fama do ator com a revelação do que ocorreu com o personagem após o filme original. 

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    Back to Top