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    Diário de um Jornalista Bêbado
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Diário de um Jornalista Bêbado

    Sem coragem

    por Francisco Russo

    É inevitável associar Diário de um Jornalista Bêbado a Medo e Delírio, lançado 14 anos antes. Não por Johnny Depp ser a estrela de ambos, mas pela pessoa que está por trás do personagem principal: Hunter S. Thompson. Polêmico, o criador do chamado "jornalismo gonzo", que eliminava os limites entre a ficção e a não-ficção em seus textos, é o autor dos livros que deram origem aos dois filmes. Ambos autobiográficos, seguindo bem a linha que ele próprio criou. Apesar dos filmes não terem uma ligação direta – Depp interpreta personagens parecidos, mas diferentes –, é a vida de Thompson que está por trás de ambos. O momento de vida do autor é um dos motivos para que os filmes sejam tão diferentes um do outro.

    A história começa em 1960, com a chegada de Thompson, ops, Paul Kemp (Johnny Depp) em Porto Rico. A cena inicial já deixa bem claro seu problema com bebidas, ao apresentá-lo em um quarto de hotel revirado. Kemp está no país para trabalhar em um jornal local, comandado por um editor (Richard Jenkins) desiludido com o jornalismo. Logo percebe a diferença social existente, onde os americanos são soberanos e os portorriquenhos protestam por direitos básicos. É claro que há uma tensão onipresente entre ambos, tanto no sentimento de injustiça quanto de medo. Kemp, porém, passa à margem dela. Consegue reconhecê-la, mas jamais se envolve de fato. Sintoma de sua apatia, algo constante ao longo de boa parte do filme.

    Apesar de Diário de um Jornalista Bêbado tentar colocar o protagonista como defensor do jornalismo sério, de denúncia sobre as mazelas do país, não é bem isto que suas atitudes demonstram. Kemp sempre acompanha os fatos, sendo levado pelas pessoas à sua volta sem jamais manifestar uma opinião. Ser sempre neutro permite que tenha acesso a planos ousados, de exploração capitalista de um paraíso caribenho, sem a menor preocupação com o povo local. Seu consentimento calado apenas é alterado quando, enfim, tem seus interesses afetados. O suposto idealismo, defendido pelo filme, soa mais como vingança pessoal.

    Além disto, o filme peca também no lado etílico do protagonista. Apesar de gostar de um trago, e o rum ser uma bebida constante ao longo do filme, são poucos os momentos em que Kemp está, realmente, bêbado – algo bem diferente de Medo e Delírio, cuja história investe pesado no lado alucinógeno do protagonista, também por se passar em uma época posterior da vida de Thompson. Com isto, surge em cena um Depp apático, com poucas cenas em que seu conhecido talento para personagens excêntricos pode ser visto. Opção do diretor e roteirista Bruce Robinson, que, apesar de ter material em mãos para agir de forma diferente, preferiu fazer um filme mais comportado e sem grandes ousadias.

    Diário de um Jornalista Bêbado é um filme covarde por jamais meter o dedo nas feridas sociais e econômicas que aponta, algumas até com boas sacadas cínicas. A apatia do filme como um todo, seja de Johnny Depp ou da história em si, é seu grande revés, decepcionando seja diante do material que tinha em mãos ou em comparação ao coirmão Medo e Delírio. Destaque negativo também para Amber Heard, mero corpo bonito exibido em cena de forma a criar um par romântico para Depp, sem grande função na trama. Fraco.

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