Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
A Casa de Cecília

Tenha paciência

por Renato Hermsdorff

A Casa de Cecília tem a escolha da temática, do rito de passagem da infância para a adolescência, como a grande sacada do filme. O problema é que, até você perceber isso, poderá julgar ter perdido um importante tempo de vida.

Guardadas as devidas ressalvas a respeito de um filme independente, de baixo orçamento, o primeiro longa da jovem diretora Clarissa Appelt, de 26 anos, tem pouco mais de 1h40 de duração, grande parte da qual gasta em diálogos vazios (sem contribuição para a narrativa dramática) entre as duas personagens principais, Cecília (Carol Pita) e a nova amiga Lorena (Tainá Medina).

O texto é crível, o que é um grande mérito, porém, não leva a lugar nenhum – na verdade, leva, mas isso fica claro bem no comecinho da relação das duas.

A produção começa com ares de mistério – e até horror. A personagem do título está sozinha na (bela) casa do título e, depois de apresentados a sua rotina, vemos a jovem encucada com portões que rangem, passos estranhos, portas que se abrem. O clima é excessivamente reforçado pela trilha mas, ainda assim, há uma construção de clima.

Até que, do nada, surge Lorena. A personagem invade a casa, julgando o ambiente vazio, e não hesita em dar um mergulho na piscina. Surpreendida pela anfitriã, as duas começam a construir uma amizade, apesar do perfil oposto de cada uma. A dona é mais caretinha, ao passo que a invasora, transgressora.

Sem nenhuma explicação aparente, o tom do filme muda completamente, o que denota uma falta de coerência do roteiro.

A despeito da má interpretação das atrizes, o que reforça o caráter amador da produção, a diretora conduz uma experiência despretensiosa – principalmente se colocada em perspectiva com seus pares, ou seja, jovens “cineastas” com pinta de Godard ou Glauber, cuja intenção é inventar a roda. E olha, isso é um mérito.

Passado o rame-rame das conversas fiadas, o desabrochar de Cecília fica mais claro. Não só pelo que é dito, mas sobretudo insinuado, a partir de simbolismos (cinema!) que permitem entender o rito de passagem da personagem. E aí, o filme diz a que veio. Talvez tarde demais, mas diz.