Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Dominação

Tosco sem ser vulgar

por Rodrigo Torres

Em tempos de boa discussão da crítica especializada sobre o cinema vulgar (movimento atribuído a filmes populares, geralmente de ação, porém dotados de traços autorais e referências consagradas), o início de Dominação soa bastante interessante. Da mesma forma que Brad Peyton abusa de facilidades e clichês do gênero de horror, o desfecho desse prólogo é cheio de estilo: uma surpreendente coreografia de luta terminada em pose, close nos olhos vermelhos de um personagem possuído, travelling frontal finalizado com o título estampado na tela e alto som, perturbador. Bem legal, indício de que poderiamos ter algo para o grande público e de qualidade. Pena que essa boa impressão não se confirma adiante.

Um ponto muito positivo de Dominação, no entanto, se mantém intensamente após o prólogo, que é o seu ritmo dinâmico. Logo conhecemos o protagonista, e em ação: o Dr. Ember (Aaron Eckhart), um homem que usa suas habilidades especiais para capturar Maggie, entidade maligna responsável pela tragédia de sua vida. Para encontrá-la, ele se dedica a exorcizar pessoas através de um método vanguardista: ele adentra o subconsciente das pessoas para libertá-las da dominação dos demônios, cuja força reside em fornecer os principais desejos de suas vítimas.

Dominação dispõe, portanto, de ótimo material a ser explorado, principalmente em termos visuais. Quando embarca na mente de seus pacientes, o Dr. Ember presencia criações fantásticas, projetadas por eles quando conseguem se libertar dos demônios. Como vimos, por exemplo, Christopher Nolan e Scott Derrickson explorar habilmente em A Origem e Doutor Estranho, respectivamente. Porém, Brad Peyton nunca chega próximo disso, nem quando mergulha seus personagens numa casa de horrores cheia de palhaços e espelhos. Pelo contrário: visualmente, o filme está mais para uma série televisiva de baixíssimo orçamento. E pouca qualidade, haja vista tudo que o clássico do gênero A Morte do Demônio — não em 2013, em 1981! — foi capaz de fazer com uma produção tão limitada, há quase 40 anos.

A coesão principal de Dominação reside na (falta de) excelência geral do longa-metragem. A narrativa é simplória em todos os aspectos: "roteiro-guia", muito explicativo, diálogos péssimos, frases de efeito, conflitos rápidos, o alívio cômico deslocado e humor referencial a O Exorcista que somem repentinamente, o arco e personagem tão desnecessários de Felix (Tomas Arana). E se não há problema no fato de um verdadeiro submundo de exorcismo existir sem qualquer supervisão das autoridades, é lamentável que esse expediente ficcional seja totalmente desperdiçado. Quando um personagem-chave morre, nem o efeito da cena é gráfico, como, dramaturgicamente, o evento não gera qualquer comoção na trama. É plenamente ignorado!

Nesse mar de mediocridade, tão pouca criatividade, Aaron Eckhardt nem se esforça pra sair do piloto automático e Carice Van Houten segue no estado apático de sua Melisandre na sexta temporada de Game of Thrones. O melhorzinho do elenco é o ator-mirim David Mazouz (o Bruce Wayne de Gotham) — que, não coincidentemente, passa a maior parte do longa-metragem possuído, sentado, numa atuação de baixo grau de exigência.

O final de Dominação é até interessante, com resoluções e reviravoltas menos previsíveis que em seu desenvolvimento. No todo, porém, é abismal o desperdício de um filme de exorcismo com potencial, cuja dinâmica e protagonista poderiam ter o sucesso de uma criação como Constantine. Não foi o caso, ao menos como o conhecemos nos quadrinhos da Vertigo, e até mesmo na adaptação cinematográfica com Keanu Reeves. Infelizmente, ficou à altura da série televisiva do personagem. Mesmo nível de fracasso.