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    Demolidor: Confira nossa crítica da primeira temporada

    Nova série da Marvel já está disponível na Netflix. Confira a opinião do AdoroCinema.

    Após fazer muito barulho no cinema com filmes como Homem de Ferro, Capitão América e Os Vingadores, a Marvel decidiu prestar um pouco de atenção no mundo das séries de TV a partir de 2013. Foi quando nasceu Agents of S.H.I.E.L.D., estrelada por Clark Gregg. O início da trajetória não poderia ter sido pior. Trama pouco interessante, efeitos especiais de qualidade duvidosa, elenco pouco inspirado... Os primeiros episódios foram trágicos e afastaram da série muita gente. Quem resistiu até conferiu uma melhora significativa e hoje a série conta com uma história própria e não sobrevive apenas de participações especiais. Ainda assim, a primeira impressão foi péssima.

    Aí chegamos a 2015. Lançada em janeiro, Agent Carter foi excelente do começo ao fim e deixou o gosto de quero mais após apenas oito episódios. Com o fim da primeira temporada, os fãs da Marvel voltaram sua atenção e expectativa para Demolidor. Pois bem, agora que a série está no ar podemos garantir que eles não irão se decepcionar.

    Primeira produção da parceria entre Marvel e Netflix, Daredevil (no original) é tudo que Demolidor - O Homem Sem Medo não foi. Deixou de lado as coreografias artificiais de Ben Affleck e Jennifer Garner, o figurino clichês de Colin Farrell e a atuação quadrinesca de Michael Clarke Duncan. E não é só o caso de dizer que Demolidor finalmente ganhou uma adaptação que irá agradar seus fãs. Estamos diante de uma série que não é apenas para fanáticos por HQs. Qualquer um que goste de uma boa ação e história policial irá aproveitar.

    A série começa com Matthew Murdock quando criança, sofrendo o acidente que o deixa cego, numa demonstração clara de que a produção não estava disposta a perder muito tempo mastigando a origem do herói para os fãs, o que é ótimo. No mundo frenético de hoje, há pouca coisa pior numa série ou filme que duvidar da capacidade de seu espectador em ligar as pontas. Daí, poucos minutos depois, já nos deparamos com Matt já crescido e abrindo uma firma de advocacia ao lado do amigo de faculdade. Idealistas, eles sonham em defender os oprimidos.

    Com contatos na polícia, eles conseguem uma primeira cliente, que está sendo acusada de assassinato. Após um primeiro contato, eles decidem assumir o caso e Matthew passa a procurar provas da inocência da jovem, chamada Karen Page. Eles acabam em meio a uma grande conspiração, que envolve importantes criminosos de Nova York. Se de dia, Matt tenta usar seus dons de advogados para ajudar a jovem. De noite, ele veste uma máscara preta e usa seus sentidos apurados para enfrentar criminosos e descobrir quem está por trás de toda a história.

    Ao pouco, vamos descobrindo que a situação é muito mais complexa do que parecia. O que nos dois primeiros episódios parece algo envolvendo apenas uma empreiteira suja, com o tempo se revela apenas a base da pirâmide, que tem no topo um homem chamado Wilson Fisk.

    O episódio-piloto é eletrizante, contando com muita ação e intriga, e também com um bom drama e mistério. O vilão principal só é revelado no terceiro episódio, ainda sim sem dar muitos detalhes. Charlie Cox está muito bem como Matt, enquanto que Deborah Ann Woll (Karen) e Elden Henson (Foggy) vivem seus parceiros mais próximos.

    Quem acompanha Agents of S.H.I.E.L.D. ou mesmo as boas séries da DC Arrow e The Flash irá se surpreender muito com a qualidade da fotografia de Demolidor. Enquanto as três séries citadas foram rodadas no formato padrão de 2K, a nova produção da Netflix utilizou a qualidade 6K, como já havia feito com House of Cards. E olha que esta qualidade ainda nem chegou ao espectador, que hoje em dia só tem acesso ao 4K. Mas deve-se destacar que o mérito fotográfico não está apenas na nitidez na imagem, mas também no tipo de cores e no granulamento utilizados. Para dizer de forma simples, parece cinema.

    A primeira temporada conta com 13 episódios, todos com pouco menos de uma hora de duração. Além da fotografia, destaca-se toda a área sonora da produção. A mixagem, a edição de som, os efeitos sonoros, a trilha... Tudo funciona de forma perfeita e ajuda a construir não só o universo do crime, mas também o personagem principal. Como ele não consegue ver, o desenho de som na série é todo construído de forma que justifique parte de suas habilidades.

    Escritos pelo criador Drew Goddard, com a contribuição de nomes como Stan Lee e Frank Miller, os roteiros são uniformes e bem desenvolvidos. Com a ajuda de flashbacks, aos poucos, vamos descobrindo mais sobre Matthew e Fisk. Neste sentido, é curioso notar que os dois surgiram em situações parecidas e desenvolveram um sentimento de carinho pela mesma região de NY, Hell's Kitchen. Ambos perderam os pais quando pequenos. Embora em situações diferentes, ambos possuem um pouco de culpa por tal perda.

    Vincent D'Onofrio interpreta um Fisk ameaçador, mas intrigante. A série, de forma inteligente, primeiro coloca seu vilão em uma situação solitária. É difícil não se solidarizar ao ver um sujeito de certa forma atrapalhado e tímido tentando conquistar uma bela mulher. Aos poucos, vamos conhecendo seu lado mais sombrios, mas aí já é tarde e já nos identificamos pelo menos com uma face do criminoso. Este é o principal diferencial da produção. Não estamos diante de um bandido sem história pregressa ou sem virtudes. Como vemos ao final da temporada, estamos diante de uma história de transição não apenas do herói, mas também do vilão. Matt deixa de ser um vigilante qualquer para se tornar o Demolidor, enquanto que Fisk deixa de ser um "empregador" para descobrir sua verdadeira vocação.

    A primeira metade da temporada é praticamente perfeita, contando com uma trama envolvente e cenas de violência absurdas, em que a brutalidade vale muito mais que o estilo, como vemos ao final do segundo episódio, que parece retirado do Oldboy original. A metade final já tem algumas escorregadas, mas não ao ponto de fazer a série menos excelentes.

    Embora possa fazer sentido mais para frente, em outras temporadas, o sétimos episódio da série é o mais fraco, ao mostrar a chegada do mentor de Matt, que é uma espécie de samurai cego chamado Stick (Scott Glenn). O episódio avança um pouco na origem do protagonista, mas fica parado com relação a história original, num momento em que tudo estava ficando mais quente. Sem contar que ainda oferece uma cena patética em que Stick usa objetos de tabela para jogar uma tampinha de garrafa no lixo. Este era o tipo de coisa que acontecia no filme com Ben Affleck. Felizmente, é algo raro na série, por mais que ainda tenhamos um chute estiloso para abrir uma porta, uma virada de mesa, um computador derrubado como sinal de frustração e outros clichês que surgem eventualmente.

    Demolidor é uma série divertida e intrigante, que ainda oferece algumas boas reflexões políticas, jornalísticas e religiosas. Cox está bem na pele do herói e D'Onofrio também se encaixa como vilão. O elenco conta ainda com as boas presenças de Rosario Dawson, Bob Gunton, Vondie Curtis-Hall e Ayelet Zurer. Agora, é esperar a segunda temporada. E vê se não demora, Netflix!

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