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    Tiradentes - Seminário discute o ator no cinema nacional

    Karine Telles (do filme Riscado), Irandhir Santos (Tropa de Elite 2) e Marat Descartes (Dois Coelhos) debateram sobre o papel do ator no cinema brasileiro.

    Por Francisco Russo

    Um dos destaques de sábado na programação da 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes foi o seminário O Ator em Expansão. Nele os atores Karine Telles (Riscado), Irandhir Santos (Tropa de Elite 2) e Marat Descartes (2 Coelhos) conversaram sobre o papel do ator no atual cinema brasileiro, não apenas representando mas no próprio processo de criação. O resultado foi um bate-papo com sala lotada, onde vários temas relevantes vieram à tona. Logo abaixo você confere os principais destaques.

    O CINEMA DEPENDE DA TV?

    Com pouca experiência em TV - Karine Telles fez trabalhos ocasionais anos atrás, Irandhir Santos esteve na minissérie A Pedra do Reino e Marat Descartes atuou na novela A Vida da Gente -, o trio comentou sobre o impacto de não ser famoso na TV em suas carreiras no cinema.

    "Não é mais tão necessário estar na TV para fazer cinema, apesar das distribuidoras acreditarem que seja", disse Marat Descartes. "Fiz recentemente 2 Coelhos, um filme de caráter mais comercial, com uma grande distribuidora. Como filmei em 2009 já nem lembrava da importância do meu personagem. Fui assistir uma das pré-estreias no Rio de Janeiro e vi que o cartaz era feito de fotos dos personagens e eu não estava nele. Na hora achei que meu personagem tinha caído na edição. Assisti o filme e vi que ele era super importante na trama, então fui conversar com o diretor, Afonso Poyart. Ele me disse que teve discussões homéricas com a Imagem Filmes, mas que eu não vendia. No entanto tinha o Thaíde e o Róbson Nunes, apresentadores de TV, que têm participações bem menores mas que vendem e estavam no cartaz. Então acho que não é necessário compactuar com a mídia televisiva para fazer bons filmes, mas para o mercado cinematográfico ainda é importante que você seja um rostinho conhecido, pois eles acreditam que isto é que vai levar público ao cinema. Infelizmente. É um paradigma que ainda precisa ser quebrado, mas acho muito difícil isso acontecer. Não conheço o pessoal da Imagem Filmes, mas vi ali uma mentalidade muito tacanha."

    "No meu caso era mais complicado ainda, porque o Riscado era um filme sobre a minha personagem e na hora de vender era mais difícil ainda. Riscado com Karine Telles. Quem?", comentou a atriz, provocando risadas na plateia. "Ninguém sabe quem eu sou e continua não sabendo. Nunca busquei fazer televisão, mas também não tenho alguma rejeição. Para mim é um veículo desconhecido."

    Marat Descartes ressaltou que o cinema, assim como o teatro, tem vários estilos diferentes. "Tem o filmão, que precisa ter o nome da Globo, e outros alternativos, que servem para alimentar a alma. A grande realidade é que o nome da Globo não necessariamente chama público. Se o filme não for bom e não emplacar no gosto do público logo sai de cartaz."

    "Creio que o problema não seja perder espaço para outro bom ator. O problema é perder espaço para um artista famoso por cunhos mercadológicos, não por competência mas pelo mercado. Isto é um grave problema", conclui Irandhir Santos.

    O ATOR COMO AUTOR

    Ao longo da carreira Karine Telles resolveu escapar do preconceito vindo por não ser conhecida produzindo seus próprios trabalhos. "Sempre se costuma falar que teatro é a arte do ator, cinema é a do diretor. Acho que tem um lugar muito interessante para o ator no cinema por este lado da autoria também", disse a atriz. Karine citou o caso de Riscado, onde além de ser a protagonista é também co-roteirista.

    "Algo que tenho reparado nos últimos trabalhos que fiz no cinema é que, mais do que saber se você cabe no personagem, os diretores têm chamado muito pensando no quanto você pode contribuir", complementou Marat Descartes. "Em Trabalhar Cansa a Ju e o Marcos (diretores do filme) achavam que eu não cabia no personagem, que ele era muito gordo e um quarentão. Disse a eles que engordava e pintava o cabelo de branco, não tinha problema. Quando li o roteiro enlouqueci, disse a eles que teria muito a contribuir ali. Então acho que neste nosso caso, em que não somos chamados por sermos um rosto televisivo e que iremos atrair bilheteria, conta muito o quanto podemos contribuir e a comunicação realizada mesmo."

    PREPARADOR DE ELENCO

    A função do preparador de elenco, popularizada após o sucesso de Fátima Toledo em Tropa de Elite, foi uma das perguntas levantadas pela plateia presente ao seminário. "Acho que em certos casos é necessário, para conseguir determinada sutileza para rodar uma cena em especial", disse Marat Descartes. "Mas acho que os diretores têm que ter também a sensibilidade para saber qual tipo de preparação ele quer. Não adianta mandar pra Fátima Toledo e sair rastejando pelo chão se isto não é necessário para o filme".

    "Tenho muito pouco conhecimento sobre isto, já que nunca trabalhei com preparador de elenco, mas tenho uma opinião de metida", disse Karine Telles. "Pelo que já escutei o trabalho de preparador é mais importante para trabalhar alguém que não é ator. Acho um trabalho um pouco cruel, pois direciona a pessoa para um resultado de uma forma meio alheia à compreensão dela e não sei o que isto causa na pessoa depois. Eu como atriz sempre acho que um ator, bem dirigido, é capaz de qualquer coisa e sempre acho que ele vai chegar num resultado melhor através das ferramentas dele do que através de gatilhos."

    "Já tive experiências com e sem preparador e acho que a presença dele não necessariamente significa o distanciamento com o diretor", comentou Irandhir Santos. "Não acredito em uma preparação que sirva de modelo fixo para todo e qualquer projeto cinematográfico. Para mim o perigo é este, você pegar um modelo e repeti-lo. Mas acho que a preparação tem crescido graças a uma iniciativa que tem expandido, que é a colaboração coletiva. Há esta abertura para recepcionar este ator autônomo. Não adiantaria existir um ator autônomo sem um cinema disposto a recepcioná-lo."

    O Adoro Cinema está na cobertura da 15ª Mostra de Cinema de Tiradentes, a convite do festival.

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