Vingadores: Era de Ultron é um típico blockbuster da Disney, sem maiores pretensões críticas ou reflexivas acerca do que há dentro ou fora da tela. Porém, sua conturbada turnê de divulgação trouxe à tona um aspecto de que Hollywood é acusada há tempos: sexismo. Pois o estúdio do Mickey acaba de dar mais motivos para tal, tendo cometido uma gafe tão grande quanto desnecessária.
Numa de suas grandes cenas no filme (talvez a maior), a Viúva Negra (Scarlett Johansson) salta de um Quinjet rasante, montada em sua moto, entrando em ação para ajudar o Capitão América (Chris Evans). Pois a sequência está sendo reproduzida pela Disney em seus bonecos. Mas por que são o Capitão América (personagem com maior tempo em tela) e outros Vingadores, e não a Viúva Negra, os grandes protagonistas nos produtos franqueados do filme?
A alteração é grotesca e sintomática. Em primeiro lugar, distorce um momento marcante do filme, relegando a fidelidade ao produto original para segundo plano para fins comerciais – o que não faz o menor sentido, já que o produto será comprado por fãs que certamente identificarão a distorção, e não deverão ficar nada satisfeitos com isso.
Em segundo, a iniciativa endossa as acusações de sexismo por parte da Disney, como vem sendo veiculado mundo afora. Ou é razoável colocar o Homem de Ferro (vide imagem acima) sobre uma motocicleta, quando sua armadura é um modo de transporte de última geração que lhe permite voar além da estratosfera? Seria no mínimo mais plausível respeitar a integridade da sequência em questão, em que uma mulher normal demonstra suas incríveis habilidade e coragem para salvar homens com superpoderes (que têm ainda mais cenas de ação no filme). Não acha?
Subjetiva, a questão será ironizada por muita gente, e a gafe da Disney, minimizada como o comentário machista de Jeremy Renner. O ator voltou atrás em seu pedido de desculpas e voltou a dizer que a Viúva Negra "é uma vadia" por ter se relacionado com quatro Vingadores – o que só aconteceu porque muitos saíram em sua defesa, alegando que ele estava apenas fazendo uma brincadeira de mau gosto a respeito de uma personagem ficcional. Pois seu julgamento foi real, e baseado em histórico preconceito contra a mulher. É esse contexto que todos devem considerar quando um comentário depreciativo "em tom de brincadeira" for feito contra minorias, em situação de inferioridade apenas pela maneira desrespeitosa com que são (re)tratadas na realidade e "na ficção"; na sociedade como um todo.
O próximo filme da espiã Natasha Romanoff será Capitão América: Guerra Civil, em abril de 2016.