“Crash – No Limite”, filme que marca a estréia do roteirista Paul Haggis na direção, é mais uma obra que trata sobre a intolerância que é um elemento tão forte dentro de várias sociedades. No longa, vemos como o caminho de pessoas das mais variadas classes sociais e origens étnicas acabam se cruzando no curso de dois dias na cidade de Los Angeles. São eles: Jean (Sandra Bullock), uma dona-de-casa, e o seu marido procurador de justiça (Brendan Fraser); um persa (Shaun Toub) dono de uma loja de conveniência, sua esposa e a filha médica; dois detetives de polícia (Don Cheadle e Jennifer Esposito) que também são amantes; Cam (Terrence Howard), um diretor de televisão, e sua esposa (Thandie Newton); dois ladrões de automóveis (o rapper Chris “Ludacris” Bridges e Larenz Tate); um chaveiro (Michael Peña) e sua filha; dois policiais (o indicado ao Oscar Matt Dillon e Ryan Phillippe); dentre tantos outros.
O filme mostra o encontro de todos estes personagens de duas maneiras completamente distintas. Num primeiro momento, o que eles terão em comum é o fato de que todos encaram a vida de acordo com noções pré-concebidas, as quais estão ligadas aos estereótipos e às generalizações. Eles pecam pela omissão e por seguirem aquilo que é considerado como politicamente correto. Num segundo momento, “Crash – No Limite” retoma um pensamento expresso por Graham, personagem de Don Cheadle, no início do filme. De acordo com o detetive, Los Angeles é uma cidade que mantém seus habitantes atrás de um pedaço de metal ou de vidro. Por causa disso, as pessoas começam a sentir falta do toque e de esbarrar umas nas outras. Na medida em que os personagens de “Crash – No Limite” se colidem e passam por aquelas experiências que irão definir toda uma existência, eles acabam – de uma forma ou de outra – tomando uma posição diante da insignificância de suas vidas ou daquilo que eles acreditam.
É justamente por causa disso que muitos acusam o trabalho de Paul Haggis (que co-escreveu o roteiro do longa ao lado de Bobby Moresco) de hipócrita e manipulador. Mas, a verdade é que “Crash – No Limite” é um filme que incomoda e que, principalmente, acaba fazendo um retrato fiel da sociedade norte-americana, que, após os atentados de 11 de Setembro, ficou ainda mais paranóica, mais insegura e mais desconfiada em relação ao outro. É bom também ficar atento ao final de “Crash – No Limite”. A cena nos mostra que a mudança é um ciclo ininterrupto. Enquanto uns se modificam, outros ainda precisam se colidir uns com os outros.