Minha conta
    Um Namorado para Minha Mulher
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Um Namorado para Minha Mulher

    Nem tanto ao céu, nem tanto à terra.

    por Renato Hermsdorff

    Corvo, papel de Domingos Montagner em Um Namorado Para Minha Mulher, é a síntese da assinatura que Julia Rezende (Meu Passado Me Condena - O Filme, Ponte Aérea) vem imprimindo como diretora na atual cinematografia brasileira. Há um descompasso entre o visual exagerado do personagem – uma espécie de Sidney Magal dark – e o registro aquém do histriônico do ator que, somados, resultam numa média entre a concessão ao público e um potencial convite à reflexão.

    Na trama – uma refilmagem do argentino Um Namorado Para Minha Esposa (2008) –, Chico (Caco Ciocler) é um cidadão de bem que, no entanto, depois de 15 anos de casamento, não aguenta mais a postura reclamona da mulher, Nena (Ingrid Guimarães). Sem coragem de pedir o divórcio, ele decide contratar um sedutor profissional, o tal Corvo, para conquistar a própria esposa e, assim, não ter que lidar com o ônus do fracasso da relação.

    No fim..., bem, o fim dessa história você já sabe, mesmo que não tenha assistido ao original hermano. Apesar da previsibilidade do enredo, no entanto, há algumas (agradáveis) surpresas até subirem os créditos de encerramento (e, inclusive, depois desse momento).

    No campo da “concessão”, por exemplo, Julia, espertamente, escala a protagonista de comédias como De Pernas pro Ar e Loucas pra Casar, filmes que atraíram milhões de pessoas aos cinemas. Engana-se, no entanto, aqueles que esperam uma performance “mais do mesmo” da atriz. Ingrid está hilária, porém por outro motivo: ao dar voz a uma personagem contida, ranzinza na essência, ela faz graça exatamente por não forçar o riso. (E Ciocler encarna o “banana” com uma doçura encantadora).

    Mas, se o riso parece ser o objetivo inicial do filme, a partir do desenvolvimento do texto, ele também serve como instrumento de reflexão, sobre como o convívio, a rotina, o passar do tempo, pode corroer uma relação, e, principalmente, sobre o porquê – primeiro passo para sair desse estado. Com um diálogo afiado e atual, esse é o maior mérito do roteiro adaptado pela própria diretora, ao lado de Lusa Silvestre (Estômago) – que, numa análise microscópica, deixa alguns pelos soltos (um youtuber que “chama os comerciais”, por exemplo, não soa muito verossímil, mas nada grave para o resultado final).  

    Assim, Julia Rezende se mostra muito firme em suas intenções, explorando o potencial popular do filme com uma roupagem de comédia televisiva, mas entregando um produto tecnicamente bem-acabado, que não subestima a inteligência do espectador. Nem tanto Roberto Santucci, nem tanto Glauber Rocha, o tão desejado filme médio.

    Não que Um Namorado Para Minha Mulher não oscile, mas certamente pende mais para o segundo grupo. Haja vista a sequência de abertura, que dá conta de apresentar de forma sutil o conflito central do casal ao som de “What a Wonderful World”. Numa releitura. Irônica sacada.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    • Crismika
      O filme é bem divertido e simples, mas vale as tiradas de Ingrid Guimarães a respeito de redes sociais e goumetização das coisas. E também é muito bom ver o saudoso Domingos Montagner no corpo de um sedutor com o nome de Corvo. Vale a pena para se divertir um pouco. Filme bem feito.
    Back to Top