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    Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho

    Toca Raul

    por Renato Hermsdorff

    Não deixa de ser irônico – dada a natureza pública da relação conturbada entre os dois – que o melhor desta cinebiografia de Paulo Coelho seja Raul Seixas. O ator baiano Lucci Ferreira inventa trejeitos e uma maneira própria de falar que o afastam da caricatura mimetizante de uma figura tão presente no imaginário nacional, ao mesmo tempo em que consegue dar vida própria ao maluco beleza de forma convincente. Pena que apareça tão pouco em cena.

    Aliás, tudo acontece muito rápido neste Não Pare na Pista - A Melhor História de Paulo Coelho. E essa é a grande falha do filme, encomendado ao estreante no formato, Daniel Augusto. O longa-metragem é o que se chama de um filme de produtor. Ou seja, quem assume a função é quem dá as cartas. Com um diferencial, neste caso. Por produtor, aqui, entenda também roteirista, já que Carolina Kotscho (que escreveu a elogiada história de 2 Filhos de Francisco - A História de Zezé di Camargo & Luciano) acumula as funções.

    É inegável que Paulo Coelho tem muitas histórias para contar. E, principalmente, para serem contadas a respeito dele. Diagnosticado como esquizoide (um tipo de transtorno de personalidade que leva ao isolamento social) na adolescência, foi submetido a tratamento com eletrochoques; tinha uma relação conturbada com os pais, da classe média em ascensão; envolveu-se com inúmeras mulheres (e com alguns homens); passou pelo teatro; pela música (alô, Raul); sofreu bloqueio criativo e ouviu muito não de editor literário (tecla pressionada exaustivamente no filme) até se tornar o autor brasileiro mais traduzido do que Shakespeare.

    Está tudo registrado no filme. Porém de maneira tão fragmentada (a parte pelo todo), que fica difícil para o espectador estabelecer uma conexão com a história contada na tela. Quando se inverte a mão da via (o todo pela parte), a história até flui. Por exemplo: toda a problemática relação de Paulo Coelho com o pai, Pedro (Enrique Díaz), pode ser captada na síntese da belíssima cena em que o mais velho ouve no rádio do carro os versos de "Meu Amigo Pedro" (Vai pro seu trabalho todo dia/ Sem saber se é bom ou se é ruim/ Quando quer chorar vai ao banheiro/ Pedro as coisas não são bem assim) e se emociona.

    Já a personagem da bela atriz espanhola Paz Vega (Os Amantes Passageiros) entra em cena para representar todas as mulheres que passaram pela vida de Paulo Coelho até ele se estabelecer com a atual, Cristina Oiticica. O encontro se dá em uma rodinha hippie nos anos 1970. Acontece que ela surge tão milimetricamente montada – figurino, cabelo, maquiagem –, que fica difícil se envolver no pano (de chiffon) de fundo da época. E aí entra outra questão, de ordem técnica.

    Bem filmado, bem fotografado, bem sonorizado, o filme é de um apuro técnico que merece menção. Mas sobra forma quando o conteúdo se embaralha.

    Não Pare na Pista é dividido basicamente em três narrativas temporais diferentes (anos 1960, anos 1980 e 2013 e, a cada troca de época em cena, uma nova cartela indicativa do período é carimbada na tela, o que subestima a capacidade de compreensão do espectador) que se cruzam de forma não-linear – confusa, até.

    A ação apartir dos anos 1960 é a que melhor representa a trajetória do biografado. O Paulo Coelho do período é dividido entre o ator Ravel Andrade (estreando no cinema, está na nova temporada de Sessão de Terapia) e seu irmão na vida real, Júlio Andrade. O primeiro é uma grata surpresa; o segundo, já consagrado como um bom ator, traz mais uma boa performance, principalmente ao incorporar com precisão o carregado sotaque carioca do escritor.

    Júlio assume a identidade do autor a partir daí, fazendo, pela primeira vez o Caminho de Santiago, na década de 1980; e, maquiado (pela mesma equipe responsável pela função em O Labirinto do Fauno, em um trabalho primoroso), ele refaz o percurso no tempo atual. Os dois momentos pouco ou nada contribuem para a dramaturgia do filme. No primeiro, sobram frases de efeito na tela, que deram origem a "Diário de um Mago"; já na época atual, famoso mundialmente, ele é reconhecido por quem cruza o seu caminho.

    No fim, Não Pare na Pista – que contou com o aval de Paulo Coelho – parece não confiar na capacidade interpretativa do espectador, se esforçando para ser um filme normal. Mas corre o risco de fazer tudo igual.

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