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    A Lei da Noite
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    A Lei da Noite

    El romanticón

    por Taiani Mendes

    Ben Affleck deixou de lado a máscara e a capa do Batman para uma nova incursão na direção. Adaptando pela segunda vez uma obra de Dennis Lehane (Os Reis da Noite), autor do livro que inspirou seu primeiro longa (Medo da Verdade), o ator retorna ao mundo do crime em A Lei da Noite. A história é sobre Joe Coughlin (Affleck), filho de policial que passa por experiências traumáticas na Primeira Guerra Mundial e volta para casa, em Boston, determinado a não mais trabalhar para o interesse de terceiros. Em suas palavras, "parte como soldado, volta como fora da lei".

    Não vendo vantagem em ser gângster, ele despreza as máfias irlandesa e italiana e segue roubando dinheiro aqui e ali com os amigos até o dia em que se dá mal. Joe tem uma particularidade: é um fora da lei dos homens e se rende às mulheres sem resistência. A paternidade característica dos filmes do gênero está presente durante toda a trama, porém o protagonista é aquele que sucumbe ante as raras figuras femininas da narrativa. Único fora do padrão, ele é então o bandido diferentão, o sem crueldade, o bom demais para a sujeira em que está metido. Deveria ser também o rei do carisma, mas a expressão já conhecida de Ben mina essa parte. Visto em quase todas as cenas e ainda narrador, o astro tem a missão de carregar o filme na cara e nos ombros largos e esse certamente é um dos fatores que provocam sua miserável falha. Os olhos vazios e o semblante neutro casam perfeitamente com a máscara do Homem-Morcego, mas aqui acabam por afastar o espectador, que não se vê torcendo por ou sequer odiando o personagem principal. Falta entre a tela e a poltrona uma conexão sentimental e assim sobram apenas imagens projetadas numa sala escura.

    Dito isso, Affleck cineasta começa direitinho, num tom que evoca os maiores especialistas do gênero, como De PalmaCoppola e Scorsese, mostrando uma Boston dos anos 1920 agitada e marcada pela oposição entre o glamour dos mafiosos e a banalidade de todos os outros. Não há nada original no seu retrato do submundo do crime na época da Lei Seca, mas é um pastiche bem executado, com direito a protagonista masculino com olhos marcados e chefão italiano introduzido exageradamente. Infelizmente o segundo ato deixa a cidade e leva a trama para Tampa, na Flórida, onde tudo é perdido. No novo cenário saem os europeus e entram os cubanos, porto-riquenhos, dominicanos, a música latina, o mar, o sol, a "tropicalência"... Tentando capturar efervescência cultural, miscigenação e "sangue quente", o diretor aparenta estar tão "peixe fora d’água" quanto seu protagonista invasor e não exibe o mesmo apuro de antes. É nesta fase também que o roteiro assinado pelo próprio Affleck mais deixa a desejar, incluindo na história de maneira esquisita fanatismo religioso e Ku Klux Klan. Apresentados de forma caricatural, os temas espinhosos ganham tamanha importância que jogam completamente para escanteio o conflito principal do filme, deixando o público na dúvida se Joe abandonou seu objetivo de vida sem qualquer explicação ou simplesmente o esqueceu.

    Falando em esquecimentos, quase deixo passar a personagem de Zoe Saldana! Joe serve às mulheres, mas Ben Affleck não, pois subutiliza todas na trajetória do herói. Graciela, a “rainha do rum” interpretada por Saldana, brilha numa cena como mulher de negócios e logo em seguida tem seu poder totalmente apagado em favor do novo papel de companheira do protagonista. Pior ainda é perceber que enquanto a loirinha Emma (Sienna Miller, mais sotaque que atuação) é mostrada seduzindo pelo sorriso, Graciela chama a atenção do garanhão empinando a bunda num take constrangedor. Puro estereótipo, uma das grandes razões da ineficiência da segunda metade da obra.

    A Lei da Noite, que conta ainda com Elle FanningBrendan GleesonChris Messina e Chris Cooper no elenco, é definitivamente um ponto baixo na carreira de Affleck como realizador e ator, mas ao menos comprova seu talento para o comando de sequências de ação. Seja tiroteio ou perseguição automobilística, os trechos com mais mortes são de longe os melhores do longa, que tem direção de fotografia “feijão com arroz” de Robert Richardson (CassinoKill BillOs Oito Odiados). Em retrospecto, o quarto longa do ator/roteirista/diretor/produtor Ben Affleck é como um drink barato que você compra para matar a sede. Na primeira golada desce muito bem, no segundo copo parece álcool falsificado e no fim é praticamente água: inodoro, insípido e incolor – como o protagonista.

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    Comentários

    • Cecéu Carvalho
      Um desastre do princípio ao fim, literalmente e não apenas como força de expressão. Como ator Affleck precisa de um excelente diretor de ator pra conseguir extrair um mínimo daquele copo vazio, o que significa que sendo diretor e ator ao mesmo tempo não vai ter quem o corrija, lhe aponte caminhos e o faça perceber que há uma enorme diferença entre ser cool e inexpressivo. Sua reação à morte da mulher no fim é patética. Se tivesse mais meia hora de filme, eu desligaria ali. Não dá pra entender como atores como ele e Nicolas Cage fazem sucesso e ganham montanhas de dinheiro. Depois de me esbaldar com os festivais dos cinemas italiano e francês, especialmente este, é duro se rebaixar à Roliúde e suas mesmices, heroices e canalhices.
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