Minha conta
    Jogos Vorazes: A Esperança - O Final
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Jogos Vorazes: A Esperança - O Final

    O horror da guerra

    por Francisco Russo

    O clássico O Leopardo, de Luchino Visconti, traz uma célebre frase que diz muito sobre disputa de poder: “às vezes é preciso mudar para continuar como está”. Reflexo da manipulação do grupo mais influente da sociedade, que modifica as peças do tabuleiro de forma que o povo tenha a sensação de que algo mudou quando, na verdade, tudo permanece o mesmo. Jogos Vorazes: A Esperança - O Final lida muito com esta sensação, graças às analogias existentes entre o modus operandi dos presidentes Snow e Coin. É este cenário político o maior atrativo do desfecho da saga escrita por Suzanne Collins, por mais que o filme em vários momentos não o aproveite tão bem assim.

    Dando prosseguimento aos eventos da Parte 1, este novo Jogos Vorazes começa exatamente após o impactante desfecho do filme anterior: Katniss ferida, com hematomas no pescoço e dificuldade em falar. O choque pelo súbito ataque de Peeta é um elemento importante neste novo filme, pela obrigação de conviver lado a lado com o suposto inimigo – algo que o roteiro de Peter Craig e Danny Strong aborda com uma certa habilidade, mesclando o risco iminente com sentimentos prévios. Entretanto, a relevância maior do que acontece com o jovem padeiro tem a ver não propriamente com seu relacionamento com a heroína da série, mas com as inevitáveis consequências de uma guerra. É esta, no fim das contas, a grande abordagem deste capítulo final.

    Em meio a tantos eventos derradeiros, com direito a batalhas e mortes significativas, chama a atenção a ausência de emoção ao longo de quase todo o longa-metragem. Os personagens, Katniss principalmente, aparentam estar entorpecidos pelo choque da guerra, precisando sempre seguir em frente sem olhar (ou sentir) por quem ficou no meio do caminho. Se por um lado isto até favorece algumas cenas de ação, por evitar o tom sentimental, por outro ameniza muito os elos emocionais construídos ao longo de toda a franquia. Apenas bem no final é que há a inevitável explosão de dor, contida até não ser mais possível suportá-la.

    Por mais que seja compreensível, tal proposta narrativa acaba agindo contra a própria série no sentido de minimizar vários fatos marcantes deste último filme, especialmente para quem leu os livros. Além disto, o maniqueísmo explícito adotado pelo diretor Francis Lawrence direciona o espectador em uma trilha bastante óbvia e sem qualquer sutileza, onde vários eventos são facilmente antecipados. Tal didatismo é outro ponto negativo, também por deixar em segundo plano o interessante âmbito político envolvendo o universo de Katniss. Mesmo quando ele ganha espaço, na reta final do longa-metragem, sua condução é tão manipulada que a execução deixa muito a dever em relação aos conceitos levantados, sobre os limites na busca pelo poder e a guerra da propaganda – algo que Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 aborda com muito mais propriedade.

    Além da abordagem conceitual, há ainda alguns problemas sérios em Jogos Vorazes: A Esperança – O Final. Um deles é a personagem de Jena Malone, completamente desnecessária na história – Jeffrey Wright também não diz a que veio, mas seu personagem serve mais para compôr o contexto, sem qualquer destaque individual. A insistência no triângulo amoroso formado por Katniss-Peeta-Gale também rende cenas bobas diante da importância do cenário envolvido, por mais que a (breve) sequência do beijo até possa empolgar alguns fãs. Há ainda saltos bruscos no tempo, vários “facilitadores de roteiro” e o mau aproveitamento de Gwendoline Christie, a Brienne de Game of Thrones, que surge em apenas uma cena. Mas nada supera o péssimo epílogo, com ares de Crepúsculo, que destoa bastante do tom sóbrio do filme como um todo, até mesmo na fotografia.

    Por tudo o que apresentou nos episódios anteriores e pelo que prometia nesta conclusão, Jogos Vorazes: A Esperança – O Final deixa uma sensação de decepção. Por mais que até possua algumas boas sequências, como a da batalha contra os bestantes – onde Francis Lawrence pôde relembrar os tempos de Constantine, pela tensão envolvida -, e o elenco como um todo cumpra seu papel de forma razoável, o didatismo e o maniqueísmo excessivos prejudicam bastante o longa-metragem, retirando dele boa parte dos possíveis momentos de tensão e emoção. Ainda assim, trata-se de um filme interessante pelo pano de fundo político que aborda e também por ser a última chance de conferir o grande Philip Seymour Hoffman nas telas de cinema. Apesar de não ter grande destaque neste último episódio, devido ao seu falecimento durante as filmagens, seu Plutarch Heavensbee é um dos personagens mais interessantes da série Jogos Vorazes pelo modo como se movimenta no âmbito político, seja lá quem esteja no poder. Um breve retrato de como é a tal sociedade dominante citada por Visconti em O Leopardo, tão comum na vida real.

    Quer ver mais críticas?

    Comentários

    • Weslei Lelo
      concordo em tudo
    • Weslei Lelo
      um dos piores filmes que já vi, consegue ser pior que a adaptação do Death Note pela Netflix
    Back to Top