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    Renoir
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Renoir

    Pai e filho

    por Francisco Russo

    Existe uma curiosa tendência no cinema atual que tem investido não propriamente em cinebiografias, mas em momentos específicos da vida de celebridades. É o caso de Sete Dias com Marilyn (período em que a atriz atuava em O Príncipe Encantado), Hitchcock (bastidores de Psicose), Lincoln (a negociação em torno do fim da escravidão nos Estados Unidos) e o telefilme A Garota (o relacionamento de Alfred Hitchcock com a atriz Tippi Hedren). O drama francês Renoir segue nesta linha ao não focar nem a vida do pintor Pierre-Auguste Renoir nem a do cineasta Jean Renoir, seu filho. É o elo entre os dois, com o pintor já consagrado e o nascimento do cineasta, o grande tema deste filme que explora muito os diálogos e o lado técnico para mostrar um pouco de quem foi cada um deles.

    Logo de início o filme se destaca pela fotografia, nitidamente pensada de forma a ressaltar na telona o estilo de pintura do próprio Renoir. O uso de cores vivas e alegres, refletidas em muitas paisagens naturais onde seria possível brincar com as variações de luminosidade, tem dupla função: ao mesmo tempo que produz um efeito belíssimo, oferece ao espectador dicas de como era o mundo visto pelo pintor. Lá pelas tantas, numa conversa com o filho, surge outra dica sobre seu estilo quando o próprio Renoir diz que se recusa a usar o preto em seus quadros, já que “prefere ver o mundo agradável e alegre”. Assim é o estilo impressionista, onde a suavidade reina e provoca uma sensação de bem estar ao espectador.

    Já pelo lado do cineasta, é interessante perceber a transição entre o jovem entusiasta em defender a pátria na Primeira Guerra Mundial naquele que viria a ser um dos maiores diretores europeus de todos os tempos, responsável por clássicos como A Grande Ilusão e A Regra do Jogo. Entretanto, não espere ver os bastidores de quaisquer destas produções ou até mesmo um trabalho intenso de Jean Renoir no meio cinematográfico. Renoir, o filme, busca o nascimento do interesse pelo cinema, passando pela vida ligada às artes devido ao convívio com o próprio pai. Este relacionamento, por sinal, é outro lado bastante interessante do filme. Por mais que Pierre-Auguste (Michel Bouquet) e Jean (Vincent Rottiers) não sejam muito próximos, existe um sentimento entre eles que se manifesta muito mais através do respeito e da troca reveladora de olhares, especialmente após Jean conhecer a ambiciosa Andrée (Christa Theret). É ela, por sinal, o fio da meada do lado dramatúrgico do filme, servindo de elo de ligação entre o trabalho do pai e o interesse artístico do filho.

    Valorizando bem mais o lado estético do que propriamente uma história a ser contada, Renoir é um filme para ser apreciado sob o ponto de vista artístico. Quem conhece um pouco do trabalho do pintor terá a chance de reconhecer em cena diversos elementos de sua obra, sejam citações e representações de algumas de suas pinturas mais conhecidas ou até brincadeiras relacionadas ao seu estilo, como as feitas por Jean e Andrée sobre o modo como eles eram retratados nos quadros. Para quem nada sabe sobre Renoir, seja o pai ou o filho, é uma boa oportunidade de conhecer um pouco melhor as características destes dois gênios da arte. Bom filme, que conta com um elenco coeso mas que tem como grande destaque o trabalho do diretor Gilles Bourdos, pelo cuidado na transposição do estilo de Renoir, o pintor, para ilustrar o filme.

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    Comentários

    • Ivonildo Cezar
      Em princípio, trata-se de um pleonasmo, porque elo significa, além de «argola de corrente», «relação existente entre pessoas ou coisas; conexão, vinculação, união», pelo que «elo de ligação» vem a ser o mesmo que «união de ligação», uma clara redundância. No entanto, o dicionário da Academia das Ciências de Lisboa atesta o uso da expressão, e o mesmo faz o Dicionário Estrutural, Estilístico e Sintáctico da Língua Portuguesa, de Énio Ramalho, sem qualquer espécie de indicação que condene ou restrinja o emprego de «elo de ligação».
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