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    Somos Tão Jovens
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Somos Tão Jovens

    O menestrel pop

    por Roberto Cunha

    Como fazer um filme sobre um ídolo de várias gerações, conhecido por posturas nada ortodoxas diante de preceitos passados de pai para filho? Embarcar no espírito revolucionário e chutar o balde, ou maneirar mais na tinta e assim dar um colorido, quem sabe, mais suave? Somos Tão Jovens prometia retratar o passado do cantor, compositor e poeta Renato Russo, e fez isso. Mas não será estranho ouvir alguém falar sobre uma sensação de que rolou um certo "descompasso e desperdício", resultando (com trocadilho) em tempo perdido. Será que dá para tanto?

    A produção aborda os primeiros contatos de Renato com o punk rock e a conturbada relação dentro do Aborto Elétrico, grupo que viraria o Legião Urbana e o Capital Inicial. Mas começando pelo começo, a afirmação sobre uma suposta perda de tempo reside no fato de que a obra foi realizada com total apoio da família e, portanto, era de se esperar que sobrariam informações incríveis e desconhecidas sobre o músico. Mas o roteiro escrito por Marcos Bernstein (do ótimo Central do Brasil), passa muito rápido e por muita coisa. "Esse é o meu novo eu", diz ele para a família e para você. Tá certo que são dispensáveis os detalhes da tal doença rara que o imobilizou, mas deixar de explorar o momento que o fez um "mobilizador de pensamentos", lendo e ouvindo muito, é não relevar os pilares da formação deste que viria a ser um verdadeiro menestrel pop.

    E por que cargas d'água o texto reforça a fixação por signos ou insiste em usar expressões "pinçadas" das músicas na construção dos diálogos? Mesmo que real, soou estranho e forçado. O que acontece também em um filme que tem tudo a ver com sexo, drogas e roquenrou, mostrar os dois primeiros "itens" de maneira velada. Estão lá as questões ligadas aos "meninos e meninas", mas a suavidade parece ser palavra de ordem. Para a turma ávida por ouvir as canções, elas são muitas e tocadas pelos atores no melhor estilo "do it yourself" da geração punk. E tem vááários títulos conhecidos nas vozes de outros grupos como o próprio Legião, o Capital e os Paralamas. Quais? "Fátima", "Eu Sei", "Química" e até "Faroeste Caboclo". Dito isso, um dos méritos da produção é dar aquela vontade de ouvir e de cantar. Mas pode ser inevitável sentir um gostinho de quero mais, tendo em vista que na ânsia de mostrar muito, não se mostra tanto quanto um catatau de gente gostaria. Essa troca de "estações", inclusive, chega a provocar uma quebra de ritmo, mas não compromete o longa dirigido por Antonio Carlos da Fontoura.

    Entre as curiosidades, a participação de Philippe Seabra (Plebe Rude) como político, durante um show em que eles cantam "Que País é Este?", e um hit da discoteca ("Dance and Shake our Tamborine, do Universal Robot Band) tocando numa festa estranha com gente esquisita invadida pela trupe. Erros e acertos a parte, o elenco está bem e o destaque vai para o trio com mais espaço na trama, composto por Laila Zaid (Ana), Bruno Torres (Fê Lemos) e Thiago Mendonça, que mandou super bem como Renato Russo, com seus trejeitos e modulações de voz. Existem toques de humor e para os que buscam emoção, três momentos garantem essa cota: na hora de "Geração Coca-Cola", quando ele canta "Ainda é Cedo" e o terceiro é melhor deixar ser mesmo uma surpresa. "Será?"

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