‘Tropa de Elite’ à la Hollywood
José Padilha conseguiu fazer de sua releitura do clássico RoboCop um produto coerente com sua filmografia sem deixar de lado, é claro, a obediência à cartilha hollywoodiana
Não tão ácido porque é Hollywood. Mas não tão ameno porque é um produto sob o comando do diretor dos dois ‘Tropa de Elite’. Esse é o resultado da refilmagem de ‘RoboCop’ feita pelo brasileiro José Padilha em sua estreia na mais poderosa indústria cinematográfica do planeta. Por mais que a violência e a ousadia dos dois filmes sobre corrupção policial no Brasil não estejam evidentes no remake de ‘RoboCop’, Padilha providenciou pinceladas críticas. Tal qual os tiros vindos de tudo quanto é lado em várias cenas (algumas que remetem a videogames), sobrou para todo o mundo. Ou, pelo menos, para muitos setores: polícia, política, mídia e a própria sociedade estadunidense, retratada como detentora de uma opinião pública suscetível a estratégias midiáticas que escondem interesses escusos.
Em 2028, drones garantem a segurança dos cidadãos. Menos nos Estados Unidos, cuja população “robofóbica” teme a presença de policiais sem consciência humana. O dono da empresa de tecnologia OmniCorp (Michael Keaton) tem a ideia de colocar um homem dentro da máquina e, assim, ganhar apoio popular para expandir seus negócios no promissor mercado estadunidense. A cobaia para o experimento é o policial Alex Murphy (Joel Kinnaman), gravemente ferido em uma explosão.
O ‘RoboCop’ de Padilha recupera parte do original de Paul Verhoeven, de 1987. Mas dá um salto qualitativo, aprofundando (e muito!) a dicotomia homem/máquina, seja em termos filosóficos ou visuais. Pudera. De lá para cá, a imersão da tecnologia no cotidiano teve uma ampliação mais do que considerável. O avanço nas possibilidades dos efeitos especiais na grande tela? Idem.
Um dos grandes achados é justamente o aprofundamento na discussão sobre as fronteiras entre ser humano e autômato. Provocações para isso? 1) Softwares que criam a ilusão de livre arbítrio. 2) Administração calculada de neurotransmissores para fazer com que o corpo de Murphy (ou o que sobrou dele) seja manipulado. 3) O relacionamento do protagonista com a mulher e o filho. 4) E, claro, a cena emblemática que mostra claramente o que é orgânico e o que é tecnológico no corpo (?) do policial do futuro. O ‘Robocop’ de Padilha é, enfim, uma boa dose de diversão. O ‘Robocop’ de Padilha é, afinal, uma dose razoável de reflexão.