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    Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

    A festa acabou

    por Lucas Salgado

    "E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou." Os clássicos versos de Carlos Drummond de Andrade são perfeitos para resumir o sentimento de quem acompanhou a trilogia de Christopher Nolan e agora tem que aceitar o seu término.

    Algumas vezes esperamos tanto de um filme que fica impossível superar essa expectativa. Neste caso, o que devemos fazer é celebrar o fato de que o longa é nada mais que aquilo que você esperou. Este é o caso de Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Após Batman - O Cavaleiro das Trevas surpreender a todos em 2008, trazendo uma história tensa, dura e com um desfecho arrasador, ficou impossível não ficar ansioso para o próximo, jogando a expectativa em níveis impensáveis. Agora, com a produção chegando aos cinemas, é hora de assentar as coisas e ficar feliz com o fato de que a obra é exatamente aquilo que sonhávamos.

    Trata-se de um encerramento perfeito para a trilogia, que já pode ser considerada uma das maiores de todos os tempos. Devo deixar claro, não se tratam apenas das melhores adaptações de quadrinhos que o cinema já viu. A saga do Homem-Morcego pelos três filmes é comparável às de Luke Skywalker (Guerra nas Estrelas) e Michael Corleone (O Poderoso Chefão). É claro, a trilogia do herói não está no mesmo nível das duas citadas, mas não é difícil imaginar que os longas ainda sejam vistos e admirados por muitos e muitos anos.

    Com a franquia, Nolan colocou seu nome dentre os grandes de Hollywood. Hoje, pode fazer o que quiser, como mostrou bem com a megaprodução A Origem, onde muitos diretores não teriam a mesma liberdade de comandar uma história tão abrangente e tão fácil de confundir as pessoas. Com Batman Begins, ele mostrou o tom que queria do herói, ou seja, mais próximo da realidade. Isso continuou no segundo longa, que ficou marcado pela ótima presença de Heath Ledger como Coringa. No terceiro, ele continua do mesmo caminho e ainda corre muito risco ao introduzir uma série de novos personagens.

    O grande número de personagens é apontado como o principal defeito de Homem-Aranha 3, de Sam Raimi. Lá, são tantos os vilões, que a produção divide seu foco e o espectador acaba perdendo o interesse. Nolan assumiu o mesmo risco e se deu muito bem. Em poucos minutos de projeção já somos apresentados à Selina Kyle (Anne Hathaway), Miranda Tate (Marion Cotillard), John Blake (Joseph Gordon-Levitt) e, é claro, Bane (Tom Hardy). Tudo isso ocorre num ritmo impressionante e com uma qualidade merecedora de aplausos. Nenhum desses papéis são prejudicados pela pressa, todos são introduzidos com brilhantismo. Aí, colabora com o cineasta o fato de sua obra contar com 2h44 de duração. Por sinal, os 164 minutos passam tão tranquilamente que ficamos com um gostinho de que poderia ser ainda mais longo.

    The Dark Knight Rises começa trazendo as mesmas mensagens de inspiração e heroísmo do anterior. Afastado da ação após os acontecimentos de O Cavaleiro das Trevas, Bruce Wayne assiste o dia a dia de Gotham através de sua janela, não participando nem mesmo das festas realizadas no seu jardim. Ele é o herói que a cidade merece, mas não o que ela precisa nesse momento, como destaca bem o comissário Gordon (Gary Oldman) no longa anterior. Debaixo dos olhos do Morcego e dos políticos locais, a cidade acabou assistindo o surgimento de Bane, um misterioso e brutal vilão, que acaba levando Bruce a vestir sua vestimenta novamente.

    Destaque recente em obras como Guerreiro e Os Infratores, Hardy cria um antagonista impressionante. Muitos vão tentar compará-lo com a antológica interpretação de Ledger, mas é uma grande injustiça fazer isso. São obras e papéis diferentes. Aqui, o ator tem como foco principal seu trabalho de voz e a força física e brilha nos dois quesitos. Enquanto que o Coringa buscava atingir o Batman mentalmente, Bane vai para a porrada e bota pra quebrar. Após o trágico Batman & Robin, de Joel Schumacher, muitos chegaram a dizer que o personagem não era merecedor de espaço na tela grande, mas Hardy mostra que estavam errados.

    É importante voltar a falar do trabalho de voz do ator. Apesar de soar meio deslocada no início, a fala forte e grave do vilão chama muito a atenção, principalmente pela capacidade de ecoar pelos ambientes em que se encontra. O fato de jamais vermos sua boca, uma vez que usa uma máscara na cara, torna a imagem ainda mais impactante. É claro que o personagem não é apenas sua voz. O roteiro de Chris e Jonathan Nolan é muito eficaz na construção da história de Bane, deixando o público curioso por toda a obra.

    Com relação ao Morcego, é quase ficar no lugar comum falar que a construção da voz do herói e de Bruce por Christian Bale é sensacional. Desde sempre sabemos que Wayne e Batman são as mesmas pessoas, mas o ator quase nos faz esquecer disso, pela forma em que se impõe em cena quando está com a armadura. Apesar de não ter muito espaço diante de tanta ação, Michael Caine volta a brilhar na pele de Alfred, protagonizando, no mínimo, duas belíssimas e emocionantes sequências. É curioso perceber como o discurso de Alfred vai sendo compreendido pelo espectador e por Bruce na medida que tudo vai acontecendo.

    Outro ponto alto é a Mulher-Gato de Anne Hathaway. Talvez não chame tanto atenção quando Michelle Pfeiffer em Batman - O Retorno, mas isso tem um lado bom. Não é tão extravagante e cai como uma luva na visão do cineasta de criar um mundo mais próximo da realidade. Protagoniza ótimas cenas de ação e possui uma ótima química com Bale. Cotillard também se sai bem como Miranda Tate, embora no primeiro momento pareça um pouco fora do tom. Todo o elenco encontra-se em total sintonia. Gordon-Levitt, por exemplo, parece que já está na franquia há muito tempo. Destaque ainda para algumas marcantes participações especiais, que, é claro, não vou revelar quais são.

    Voltado ao lado sonoro, deve-se destacar o design de som, os efeitos sonoros, a captação e a edição de som. Mas o elemento que merece aplausos mesmo é a mixagem. Em dois momentos do longa vemos a trilha sonora e o som ambiente serem totalmente cortados para reforçar o texto. As cenas ganham um impacto fora de série, com o espectador absorvendo a dureza e importância do que está ocorrendo.

    Após o lançamento de A Origem, muitos longas de ação buscaram trilhas sonoras inspiradas naquela composta por Hans Zimmer, focando em tons graves e repetitivos. Aqui, o próprio compositor mostra que tem talento o bastante para não se repetir. Se os outros querem copiar, que o façam, mas, para nossa felicidade, Zimmer criou algo novo e tão impactante quanto a trilha citada. Parceiro de longa data de Nolan, o diretor de fotografia Wally Pfister faz um trabalho belíssimo, assim como o editor Lee Smith.

    É difícil não cair em palavras comuns, até porque elas existem por algum motivo. Assim, resta aceitar que Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge é eletrizante e épico, contando com inúmeras cenas antológicas e diálogos de tirar o fôlego. Voltando ao poema de Drummond, é certo que a festa acabou, mas as memórias que ficam é que ela foi extraordinária. Além do que, esse tipo de "festa audiovisual" oferece a oportunidade de ser revivida, então fica o consolo de que poderemos, sempre que bater uma saudade, rever os filmes.

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    Comentários

    • Sidney M.
      Mudaram a nota, era nota 5.
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