"Sou o fogo que queima sua pele, sou a água que mata sua sede" dizem as primeiras estrofes da lindíssima abertura de Narcos. Quem é sagaz logo percebe que, nesse contexto, a canção não se refere ao amor. Pode ser a cocaína, o vício, diriam alguns, mas a verdade está numa camada ainda mais abaixo. O fogo e a água inebriantes se referem na verdade ao Dinheiro. Esse sim uma droga difícil de largar.
Pablo Escobar tinha muuuuuito dinheiro, é isso deu a ele o poder suficiente para comprar a verdade sobre sua própria história. Era (e ainda é) um herói para seu povo mesmo sendo um criminoso confesso e convicto. Mas o pó ninguém vê, ninguém se lembra, as pessoas compram a fantasia que ele traz. E assim era com Escobar também.
A série foca no homem de negócios, um comerciante não muito diferente de tantos outros de capa de revista quinzenal, um predador nato, mostrando seu lado inerentemente cativante.
Wagner Moura nos traz uma encenação digna de se aplaudir de pé, não se intimidando com o idioma tampouco com a dificuldade de encarnar uma pessoa real (e ao mesmo surreal, mitológica) tão polêmica. Os cenários, os diálogos, o humor e a precisão histórica-política trazidas na tela juntas compõe uma experiência imersiva numa série que, com o perdão da piada, é viciante.
Algumas escolhas narrativas são infelizes e parecem bem gratuitas, dispensáveis, mas não pode se exigir muito de uma série americana sobre o estilo de vida Latino-americano.