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    Emily em Paris: As comédias românticas ficaram datadas com a era digital?

    Com Lily Collins, série da Netflix atualiza um gênero querido por muitos.

    Emily em Paris, série protagonizada por Lily Collins lançada pela Netflix dia 2/10, está movimentando a internet. Muitos fãs elogiam a atuação da atriz, os belos cenários e figurinos da produção criada por Darren Star... mas há quem esteja incomodado com alguns pontos da narrativa.

    Emily em Paris: Crítica da série da Netflix

    Os principais fatores que incomodam parte do público é o fato da jovem Emily, que viaja a trabalho até a Cidade Luz, não se preocupar em chegar à Europa sabendo falar (pelo menos um pouco) o idioma local. Na trama, os personagens que trabalham diretamente com Emily mostram-se incomodados com sua postura, mas eventualmente os episódios apresentam, majoritariamente, diálogos no idioma inglês.

    Que os franceses dominam o inglês não é novidade, mas a atitude de Emily em procurar por aulas de idioma apenas quando chega à Paris não passou despercebida. Além disso, o público e a crítica francesa também apontaram mais questões problemáticas em Emily em Paris.

    Segundo o crítico Charles Martin, da revista Première, por exemplo, o demérito da obra se dá principalmente por ela exibir um comportamento antiquado, preguiçoso e sexista do povo francês. Essa característica da produção - a de dar destaque a uma norte-americana cuja visão da França não é exatamente a mais pé no chão, mas sim algo romantizado - nos leva a outro ponto de reflexão.

    Será que as produções que mesclam comédia, romance e o ideal de trabalho dos sonhos ficaram datadas?

    Existe uma glamourização em Emily em Paris que remete imediatamente a produções cinematográficas como De Repente 30 (2004), O Diabo Veste Prada (2006) e Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (2009).

    Repare que os três filmes citados foram lançados na mesma década - uma década sem smartphones, sem o consumo desenfreado da internet e sem a guinada dos influencers. Naquela "época", o mundo digital ainda não era exatamente uma extensão do mundo real. E este modo de vida atual não dita apenas o comportamento de Emily como também os desdobramentos entre um episódio e outro.

    Se em O Diabo Veste Prada a personagem Andrea (Anne Hathaway) torna-se tão interessante aos olhos do público, é porque existem conflitos que realmente trazem consequências em sua vida. A dúvida interna, os problemas dentro de um relacionamento sério, o afastamento de amizades por conta da dedicação extrema a um trabalho que não ama de verdade...

    Tudo isso é abordado de forma intensa, ainda que contando com o glamour do mundo da moda e um estilo de vida dinâmico (que pode ser invejável até hoje). Em Emily em Paris, mesmo havendo a apresentação de conflitos, tudo é diminuído diante do bom-humor infinito da protagonista, a rápida resolução de inseguranças e até mesmo do maior foco ao romance do que ao trabalho em si.

    Emily em Paris terá uma 2ª temporada?

    Além disso, a série da Netflix utiliza o romance como impulsionador de situações que beiram a perfeição. O então namorado de Emily não lida bem com a distância entre os dois, mas o término soa abrupto demais, como se a relação fosse um peso na vida da protagonista. A partir daí, clientes da agência onde trabalha e outros pretendentes de Emily, como seu vizinho e um professor de sociologia, aparecem da maneira mais conveniente possível, apenas para dar ênfase no quanto achar um amor pode ser fácil.

    Ao ver as críticas negativas relacionadas a Emily em Paris, é interessante notar como a essência da série se parece com a do filme de 2006, mas o resultado final não é o mesmo. Por que? Talvez a criação das redes sociais teve a capacidade de transmitir com tanta regularidade a glamourização das pessoas mais influentes da internet que, de certa maneira, ela acabou sendo normalizada.

    Não é mais novidade acompanhar o mundo da moda (ou de qualquer área de trabalho) através dos olhos de quem o vive intensamente. Com o celular, ficamos mais próximos não só daqueles que são "intocáveis" como também de quem é "gente como a gente".

    Talvez seja por isso que, dentre as questões negativas já citadas, Emily em Paris pode não ter o potencial de se tornar um clássico moderno como De Repente 30. Mas, se Jenna Rink (Jennifer Garner) fosse transportada ao mundo moderno, será que ela também seria bem recebida pelo público de hoje?

    Se De Repente 30 e O Diabo Veste Prada falam sobre profissionais bem-sucedidas que abraçam as imperfeições em suas vidas perfeitas, Emily em Paris traz a seguinte reflexão ao tentar mostrar tudo da forma mais positiva possível: por já estarmos todos acostumados a identificar que a perfeição não existe e o quão importante é falar sobre isso, sabemos que tal retratação na tela não se encaixa mais nos dias atuais.

    Ao mesmo tempo em que a série mostra a leveza de tal realidade (o que é um grande ponto para o entretenimento), ela também expõe que a procura pela perfeição está diretamente ligada a oportunidades, status e fama - e, no mundo real, sabemos que conquistar tudo isso não é tão fácil assim.

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