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    Valéria: Crítica da 1ª temporada da comédia espanhola da Netflix

    A produção é estrelada por Diana Gómez (La Casa de Papel) e tem temática quente e empoderada.

    Nota: 3,0 / 5,0

    Buscando subverter a ideia de “produções voltadas para mulheres”, chega Valéria, nova série espanhola da Netflix. Com um roteiro leve, atuações femininas marcantes e um frescor visual, a produção trata de problemas do dia a dia sem tabus. No entanto, se perde em clichês pouco desenvolvidos e romances rasos na segunda metade de sua temporada. Estrelada por Diana Gómez (La Casa de Papel), narra as aventuras amorosas e sexuais de Valéria e suas amigas.

    Valéria: Por que assistir à nova série espanhola da Netflix?

    Valéria retrata frustração dos Millennials

    Chegando aos 30 anos, as pessoas da geração Y (ou Millennials) esperam estar com a vida ganha: emprego fixo, relacionamento estável e dinheiro na conta para sair pro barzinho com os amigos. Só que muitas vezes acabam levando uma bela rasteira do destino.

    É o que mostra a espirituosa comédia romântica Valéria, focada na ótica feminina. A protagonista-título (Diana Gómez) é uma escritora em crise, sem emprego, com grana curta, que precisa entregar seu livro para a editora. Ao mesmo tempo, ela enfrenta uma instabilidade em seu casamento com Adrián (Ibrahim Al Shami). Sua amiga, Lola (Silma López), tem um caso com um homem casado, mas precisa dividir seus momentos de lazer cuidando do irmão cadeirante. Por outro lado, Carmen (Paula Malia) está apaixonada pelo colega de trabalho e questiona o que chama de “um mundo de casais”. Ela procura um apartamento, percebendo que é praticamente impossível pagar um imóvel sozinha em Madrid. Enquanto isso, Nerea (Teresa Riott) é homossexual mas ainda não conseguiu se assumir para a família, com quem mora e trabalha, com receio de perder o emprego e a casa.

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    Série da Netflix trata de assuntos sérios com leveza

    Valéria é bem sucedida em apresentar problemas e situações do dia a dia de forma leve e divertida, sem tabus ou julgamentos, tocando em assuntos como relacionamento aberto, infidelidade, movimento “Me Too” e comunidade LGBT. Ainda assim, peca em representatividade, considerando todos os seus protagonistas brancos, de classe média.

    Não à toa, a série da Netflix pode ser bastante comparada à Sex & the City, não só porque acompanha as aventuras amorosas de quatro amigas, mas também porque a autora da obra original Elísabet Benavent revelou ter se inspirado na produção. Assim, Valéria traz um ar de modernidade, ao retratar os sentimentos femininos e relacionamentos sexuais de forma feminista e liberal. Com um roteiro moderno que evita ao máximo ser sexista e objetificar as mulheres, exaltando sempre um lado cômico.

    Nesse sentido, estereótipos ganham força mas quebram barreiras nos quatro primeiros capítulos da temporada. Infelizmente, os quatro finais não têm a mesma força, se perdendo em uma narrativa rasa que não consegue emplacar uma conexão com o público. Elementos negativos e personagens coajuvantes simplesmente desaparecem convenientemente.

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    A identificação com as personagens reais

    É fácil se identificar com as personagens principais, pois elas são construídas como mulheres reais, que machucam os pés com sapatos novos. Ou simplesmente enfrentam problemas comuns sem filtros, como um calor insuportável sem ar condicionado ou uma briga entre motoristas de aplicativo e taxistas. Ainda que sejam situações pouco aprofundadas, o que é normal em episódios médios de 40 minutos, Valéria consegue focar no que importa: as dúvidas de cada protagonista.

    Conforme vamos conhecendo melhor as personagens, as inseguranças da vida adulta ganham forma. Cada um dos quatro primeiros episódios focam em uma personagem, aprofundando seus desejos e próximos passos, ainda que somente o background de Lola tenha sido mais explorado. Ao longo dos capítulos, tanto o público quanto as protagonistas passam a perceber como é difícil ser seguro de si e ter as respostas certas, afinal, adultos da geração Y ainda têm um pouco de adolescentes. É tudo bem. Mesmo que os 30 anos estejam batendo à porta, há tempo para experimentações e para se arriscar. Para ponderar, se é melhor olhar para o lado ou valorizar o que já possui. Uma das frases da série inclusive aponta: “melhor se arrepender do que passar vontade” (como diria a música de Pabllo Vittar).

    Destaque positivo para o design de produção da série, que traduz os sentimentos apresentados em cena com recursos visuais imersivos — como a apresentação das mensagens de texto na tela. Além disso, as casas das personagens e seus figurinos dão um frescor visual à trama: são sempre muito coloridos, vivos e espirituosos quando elas estão no auge; e trazem tons mais sóbrios quando enfrentam dilemas.

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    Atuações femininas marcantes

    Um dos pontos altos da temporada é a atuação concisa de Diana Gómez, anteriormente conhecida por interpretar Tatiana em La Casa de Papel, como Valéria. Silma López, por sua vez, é a única atriz que desenvolve diferentes facetas de sua personagem, Lola: ora espontânea, ora perturbada, mas sempre orgulhosa.

    Gómez, López, Paula Malia e Teresa Riott têm uma boa química entre si, formando um grupo de amigas verossímil. Ainda que o roteiro não aprofunde os arcos individuais de todas elas. Os dilemas que permeiam a carreira de Carmen (Malia) são pouco desenvolvidos, e as questões sobre a relação família de Nerea (Riott) são jogadas a escanteio.

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    Valéria aposta em cenas quentes

    Ao mesmo tempo em que foca nas questões pessoais, de relacionamento, trabalho e amizade das quatro protagonistas, Valéria aposta em cenas quentes quando mostra os momentos íntimos das protagonistas. Não é a toa que é dos mesmos produtores de Toy Boy. O que poderia ser apelativo, ganha veracidade quando a série dá uma alfinetada na franquia literária e cinematográfica Cinquenta Tons de Cinza. Será que o sedutor Victor (Maxi Iglesias) ganhará status de novo Christian Grey (Jamie Dornan)?

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    No entanto, provando que a paquera e a conquista são os momentos mais cativantes de uma relação, os relacionamentos amorosos de cada uma das protagonistas acaba soando forçado quando aprofundados. Muito por conta das atuações masculinas da série. Maxi Iglesias, por exemplo, assume o lado sedutor de Victor mas não consegue passar disso. Quando seu personagem desenvolve uma conversa real com Valéria, ele não é convincente e seus olhares beiram o clichê de uma série adolescente. Já Ibrahim Al Shami começa bem, apresentando um Adrián em crise, mas seu desfecho acontece praticamente sem motivações apresentadas em cena.

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    Da criadora de Gran HotelMaría López CastañoValéria teve um bom início em seus quatro primeiros episódios, com ares introdutórios. Porém, a segunda metade da temporada não entregou o que prometia: aprofundar as questões que assombram as personagens principais, e apimentar o enredo com uma ruptura entre as amigas. Quem sabe essas questões fiquem para uma próxima temporada? Material de origem existe nos livros de Elísabet Benavent. Sem contar que a série termina em um leve cliffhanger, e um gostinho de quero mais.

    A primeira temporada de Valéria está disponível na Netflix.

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