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    Good Omens: "Neil Gaiman tem um talento especial para criar seres sobrenaturais", explicam Jon Hamm e Adria Arjona (Exclusivo)

    Uma conversa sobre feminismo, adaptação literária e a busca dos atores por novos desafios.

    Na série Good OmensJon HammAdria Arjona tiveram uma oportunidade para experimentar caminhos bem diferentes em suas carreiras. O Don Draper de Mad Men interpreta desta vez o anjo Gabriel, um dos únicos personagens inéditos, sem referência ao livro original, enquanto a Yovanna de Operação Fronteira vive Anathema Device, herdeira direta de uma das maiores bruxas da história. Juntos, eles se envolvem na luta de Aziraphale (Michael Sheen) e Crowley (David Tennant) para impedir o Apocalipse.

    O AdoroCinema viajou a Londres, a convite da Amazon Prime, para conversar com o criador Neil Gaiman, com os protagonistas e com a divertida dupla formada por Hamm e Arjona.

    Abaixo, você descobre o que eles têm a dizer sobre esta história cômica de anjos, demônios e bruxas:

    O anjo e a bruxa

    Para os fãs de Neil Gaiman que ainda não conhecem o personagem Gabriel, Hamm explica a relação entre o anjo e o fim dos tempos:

    "Bom, Gabriel segue o plano divino. Ele se candidatou para essa tarefa, que é colocar em ação o plano do Apocalipse. Obviamente, quando você tem algo que está marcado no destino, não pode ser evitado. Mas nós vivemos em um mundo que nem sempre segue as regras, e essa é a maravilha da humanidade. Crowley e Aziraphale entenderam isso, mas Gabriel, não. Ele apenas quer colocar em prática esta ordem, sem questioná-la".  

    "A série traz personificações interessantes de um demônio, de um anjo e uma bruxa", completa Arjona. "Neil trata de criar versões muito plausíveis destas figuras. Isso as torna muito mais humanas do que o que estamos acostumados a ver". Hamm rasgou elogios ao criador do livro: "Neil tem um talento especial para criar seres sobrenaturais, ele os torna muito reais, humanos e repletos de falhas". 

    Neil Gaiman como showrunner

    Como é ter a presença do escritor diariamente nas filmagens, no papel de showrunner?

    "Neil é o melhor showrunner que nós poderíamos ter", garante Jon Hamm. "Ele criou esse mundo com Terry Pratchett e ele conhece cada pedacinho da história. Sem querer falar mal de outros roteiristas, mas é diferente com essa geração antiga que faz o roteiro a partir de algo que ela mesma criou. Então, quando eu tinha dúvidas sobre o personagem, podia simplesmente perguntar para ele e ter a minha resposta dentro de minutos. Sempre que eu ficava inseguro, ele me confortava: “Não se preocupa, é isso mesmo!”, e eu me acalmava. Ter a fonte bem ali foi muito especial, nunca tive essa experiência antes".

    Arjona, acostumada às superproduções, compara Gaiman aos produtores de Hollywood:

    "Os produtores hollywoodianos estão muito mais preocupados em obter dinheiro. Eles estão fazendo um produto, seja ele um filme da Marvel ou alguma outra grande franquia. Estes produtores não estão preocupados com a narrativa, e sim com a taxa de ocupação por sala, a bilheteria na segunda semana, o terceiro filme da franquia. Neil só quer contar uma história e é assim que ele criou essa carreira tão única. Você ainda vai ver muito mais obras de Neil Gaiman sendo adaptadas, porque as histórias dele são realmente especiais".

    As mulheres de Good Omens

    A série está repleta de figuras femininas fortes e independentes. Frances McDormand interpreta Deus, Arjona encarna a bruxa Anathema, Mireille Enos representa a Guerra, uma das Cavaleiras do Apocalipse, Josie Lawrence vive Agnes Nutter, a criadora do mais importante livro de bruxaria da série, e Miranda Richardson vive Madame Tracy, mulher que mantém uma relação importante com Aziraphale.

    Para Arjona, a construção das personagens femininas representa uma conquista: 

    "Essa é a razão de eu continuar fazendo o que faço, porque sei que tem uma geração forte vindo, e elas precisam que essas portas sejam abertas. Eu provavelmente não vou ver toda a mudança, talvez eu esteja muito velha até lá e parem de me contratar, mas eu sinto que pelo menos cumpro o meu dever enquanto mulher latino-americana de tentar abrir novas portas. É por isso que essa personagem é tão importante para mim, por duas razões: eu queria fazer justiça por Terry e Neil, mas eu também queria interpretá-la por mim mesma. Ao invés de usar roupas provocantes, eu tenho a camisa fechada com botões até meu pescoço, algo que não acontece com frequência. Ela é uma mulher segura, sem precisar portar traços masculinos para ser forte".

    Hamm concorda: "Esta não é uma personagem escrita para um homem, mas depois entregue a uma atriz. Neil tem uma sensibilidade incrível para conceber personagens femininas, que não servem ao homem: elas estão a serviço de si mesmas. Enquanto homem branco e heterossexual, na minha vida é muito difícil enxergar o outro lado, mas quando vejo essa diferença, só tenho a comemorar. É por isso que o livro é tão singular, porque todos os personagens têm um momento próprio. Então ele subverte a ideia de perfeição, subverte a ideia de mal, subverte a ideia de que as bruxas estão erradas ou são más ou algo do tipo. Neil aborda todos esses personagens sem julgamentos".

    Arjona ressalta que a transformação precisa ir além do elenco:

    "Eu tenho começado a ver mudanças nos papéis femininos, o que é necessário. Ao mesmo tempo, precisamos ver mais roteiristas mulheres, diretoras e produtoras porque, no final das contas, essas são as pessoas que fazem os filmes. Muitas pessoas talentosas são inexperientes porque a oportunidade ainda não chegou onde precisaria chegar. Mas espero que isso mude".

    O mad man virou anjo

    Conhecido pelo público principalmente pelo trabalho na série Mad Men, Jon Hamm está contente em poder mudar de estilo:

    "Depois que Mad Men estreou e se tornou popular, eu recebi muitas ofertas de papéis em que eu fumava e usava chapéus, gravatas e ternos. Mas eu já eu fazia isso no meu dia a dia devido às gravações da série, então a questão é: se você quer fazer a mesma coisa repetidamente, não seja um ator. Venda carros ou algo do tipo. A natureza da atuação consiste em fazer coisas diferentes. Então eu pensei: 'Eu posso ser engraçado ao invés de ser sério, sem sentar constantemente pensando em problemas? Sim, eu vou fazer isso'. Tenho muita sorte que Lorne MichaelsTina Fey e outras pessoas quiseram ver se eu tinha capacidade de fazer esse tipo de coisas e me deram a oportunidade, então agora eu conquistei essa credibilidade no humor e no drama". 

    Do livro à série

    Arjona e Hamm viveram experiências muito diferentes em relação ao livro: enquanto ela interpreta uma personagem bem detalhada no romance de Gaiman e Pratchett, Hamm interpreta um personagem inédito. Mesmo assim, Arjona nota algumas mudanças:

    "Em relação à trama, a evolução dela é muito similar. Mas eu conversei bastante com o Neil porque o roteiro dá um outro ritmo para ela e isso era o mais importante para mim: o ritmo dela. De qualquer modo, eu sempre poderia buscar inspiração no livro, o que não foi o caso de Jon".

    "Se tivessem feito o projeto sem o Neil, Gabriel teria sido um personagem diferente", explica Hamm. "Mas como Neil estava envolvido desde o princípio, e tão presente durante o processo de criação, os fãs ficaram entusiasmados, pensando que teriam algo a mais que o livro, como uma sequência, uma versão estendida, o EP. Na New York Comic-Con, 5.000 pessoas apareceram para o painel. Foi uma loucura, parecia um show de rock. Obviamente, o fato de termos o Doctor Who no palco ajudou, mas foi muito legal mesmo assim. Então eu compreendi que existiam muitas pessoas empolgadas com este projeto além de mim, no mundo inteiro. Good Omens foi publicado em sete línguas, é uma coisa incrível. O fato de a série ter sido feita como um último pedido e uma carta de amor ao Terry, com vários easter eggs em referência a ele, mostra como os criadores se tornaram parte indissociável do resultado. Para os fãs, as novidades como a inclusão de Gabriel representam um valor adicionado, o que considero muito afetuoso e respeitoso".

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