Quem vai assumir o lugar de Rick Grimes como líder do grupo após a saída de Andrew Lincoln de The Walking Dead?
Para Angela Kang, Greg Nicotero, Jeffrey Dean Morgan e Melissa McBride, esta é uma pergunta sem resposta. O grupo — que inclui a nova showrunner, o produtor/diretor e os intérpretes de Negan e Carol — conversou com o AdoroCinema junto ao próprio Lincoln, e naturalmente discutiu o elefante rosa no meio da sala.
“Temos um elenco muito grande e variado, personagens que acompanhamos há muitos anos ao lado de Rick. Acho que Daryl (Norman Reedus), Carol (McBride), Michonne (Danai Gurira) têm arcos ótimos nesta temporada”, anuncia Kang. “Negan (Morgan) também tem coisas interessantes e diferentes, Maggie tem uma história muito legal. Todo o elenco ao lado deles, mesmo com histórias menores, está trazendo traços interessantes para a mesa. Temos um grupo interessante de líderes que foi crescendo ao longo das temporadas, tanto dentro quanto fora das telas. Isso é adorável para a série”, finaliza.
“Meus motivos são obviamente privados e pessoais”, ressalta Lincoln a respeito de sua saída. “Tenho uma família, sou de um outro país, vivo em um país diferente e minha vida, na última década, tem sido na América. E meus filhos estão menos dispostos a aceitar isso. Senti que havia um momento em que eu precisava parar e esse momento é agora.
A decisão não tem relação com nenhum conflito criativo. Acho que a série está no seu melhor momento, desde a terceira temporada, nas mãos de [Angela Kang].”
Para Kang, que é roteirista da série desde a segunda temporada e produtora desde a terceira, o desafio de assumir como showrunner neste momento é tão grande quanto seria com participação total de Lincoln:
“Todos amamos este homem, ele tem feito um trabalho incrível, e tem sido um prazer trabalhar com ele ao longo dos anos e nessa temporada”, declara. “Tivemos muita sorte de podermos contribuir juntos nesses episódios finais. É claro que as pessoas precisam viver suas vidas. Isso é o que está acontecendo, e precisamos trabalhar ao redor da melhor forma possível, demonstrando o melhor dos talentos que temos na casa. Ainda somos uma família, o foco é manter a série empolgante e renovada.”
Lincoln completa: “Angela foi incrível. Ela me chamou antes de começarmos [a temporada] e sugeriu [como seria a minha saída], e acho que não foi tão difícil quanto imaginei que seria. Mas o que cobrimos com o tempo que tivemos na série foi fenomenal e eu acho que os dois últimos episódios em que estou são os meus episódios favoritos da série desde o piloto. E isso é um grande testamento para o que está acontecendo na série neste momento.”
Jeffrey Dean Morgan, que interpreta o vilão da trama desde o fim da sexta temporada, não ter Andrew Lincoln ao seu lado é um desafio.
“Como Jeff, eu odeio que Andy esteja saindo. E acho que Negan igualmente não gosta disso. Os dois têm uma relação de amor e ódio e respeito. É por isso que Rick não o matou. Havia algo ali que os conectava além de Carl, algumas outras coisas. Ele nunca vai admitir, mas acho que no fundo ele sente alguma coisinha pelo Negan”, brinca.
“É um saco não ter Andy, as pessoas o amam demais. Mas dito isso, acho que [a saída] impulsiona as histórias de tantos outros personagens de maneiras ótimas. Vejo como uma ótima oportunidade da qual estamos tomando benefício.”
Nona temporada e a inspiração na vida real
Angela Kang explica que tirou ideias de movimentos fascistas e da organização europeia no Pós-Guerra para tratar a nona temporada, que se inicia um ano e meio depois do final da temporada anterior.
“É um tempo em que Rick tenta olhar para um futuro mais amplo, construir em prol da visão que Carl (Chandler Riggs) havia tido de todos trabalhando juntos”, explica. “Eles estão percebendo que há monstros no mundo, então por que estão brigando uns com os outros? Você vê o que é necessário para olhar para um futuro mais adiante, enquanto ainda há traumas com os quais lidar. Ao mesmo tempo, filosofias pessoais começam a divergir.
Falamos sobre várias coisas na sala dos roteiristas. Discutimos o que aconteceu na Europa após as Guerras Mundiais, falamos sobre a ascensão do fascismo. Estamos tentando voltar à questão do que acontece após uma guerra, quando nem todos concordam com a forma de se lidar com esse período de reconstrução. É algo divertido com que brincar, porque é uma parte diferente da história que viemos contando.”
A introdução dos sussurradores
“Nesta temporada nós entramos na história dos Sussurradores, que é uma favorita dos fãs dos quadrinhos”, explica Kang. “É algo que, para os fãs, eles sabem que há uma série interessante de reviravoltas, então nós tentamos preservar essa sensação de mistério e intriga ao longo dos episódios. Acabei de ver o episódio em que entramos em uma grande revelação deste arco. E preciso dizer, Samantha Morton é maravilhosa, então estou bem empolgada para que os fãs a vejam no trabalho.”
Na história, Samantha Morton será Alpha, a líder dos Sussurradores. Nos quadrinhos, ela é uma personagem extremamente rígida e temida, e pelo jeito a postura deverá ser semelhante nas telinhas.
“O que eu gosto da Samantha é que ela é muito profissional, e também completamente presente e intensa da melhor forma”, segue Kang. “Ela mergulha de cabeça no trabalho, sem medo, sem se importar com nada superficial. Isso faz dela perfeita para a nossa série. É possível sentir o comprometimento dela.”
Sem revelar se Rick chega a se encontrar com o novo grupo de inimigos, Lincoln completa:
“Não vou te dizer se nossos personagens se cruzam, porque quero que você descubra na série. Mas ela é incrível. A vi no set há poucos dias, e ela disse que estava amando estar ali e que este era o papel de sua vida. Este tipo de personagem geralmente é interpretado por homens. Então é por isso que ela está empolgada e dando atenção redobrada.”
O destino de Judith
Depois de Robert Kirkman ter dito que já sugeriu várias vezes aos produtores da série que matassem Judith e sempre foi ignorado, Kang deu sua versão da história. E, assim como o criador dos quadrinhos, eventualmente foi convencida do oposto:
“Eu preciso dizer, eu também estava no time ‘matem Judith’ no início, e eu também mudei de ideia. Porque acontece nas HQs e é um grande momento... mas acho que conseguimos contar grandes histórias sobre como ela é o símbolo de esperança para aquele grupo, e eles querem protegê-la. Nossa Judith é adorável, mas também há outras histórias chegando por aí que eu quero que os fãs apreciem por si mesmos. Mas há detalhes surpreendentes e divertidos sobre ela nessa temporada.”
A saída de Rick Grimes, esperança e o caminho do fim
Há quase uma década no ar, The Walking Dead não tem sequer previsão de quando irá chegar ao fim. Até mesmo porque, mesmo que a série seja finalizada em algum futuro próximo, outros produtos derivados continuarão no ar. Há Fear the Walking Dead, que está indo para a quinta temporada, e o projeto de fazer outros filmes e séries neste mesmo universo, que por isso deve permanecer no ar por muitas décadas. Mas será que há final feliz para este pós-apocalipse fadado a tristezas?
“Eu sempre gosto de finais felizes”, pontua Lincoln. “Não sei se são possíveis, mas acho que uma das qualidades recompensadoras da série e dos personagens é que há esperança. Todas as temporadas são ligadas por isso. E isso é instrumental para as coisas que eu faço e que eu amo. Então é isso, acho que sempre há esperança.”
Sobre o contexto de sua própria saída, o ator não dá nenhum detalhe, mas sugere que sairá de cena muito bem e vivo, obrigado. Será?
“Eu tentei ser um zumbi”, revela a respeito de seus momentos finais. “Eu perguntei: ‘Posso ter duas horas de maquiagem e alguém me matar enquanto eu estou aqui?’”
The Walking Dead vai ao ar na Fox, todos os domingos, às 22h30.