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    Vice-presidente da Marvel Animation reforça a importância da representatividade nas produções do estúdio (Entrevista Exclusiva)

    Conversamos com Cort Lane durante a última edição do Rio2C, evento dedicado ao mundo audiovisual, à música e às inovações.

    Mesmo com uma tipoia no braço a limitar seus movimentos, Cort Lane não se deixou abatar e veio ao Rio de Janeiro, captando muito bem toda a dimensão do irreverente espírito carioca. Simpático e fã de carteirinha dos quadrinhos que hoje tem a chance de levar para as telinhas de todo o planeta, o vice-presidente do departamento de animações da gigantesca Marvel foi um dos convidados da Rio2C - conferência dedicada ao mundo do audiovisual, da música e das inovações tecnológicas -, onde apresentou alguns dos principais projetos da Marvel Animation para 2018. Em entrevista exclusiva ao AdoroCinema, Lane reforçou a importância da representatividade e da diversidade nas produções que comanda no estúdio e, é claro, encontrou tempo para encerrar uma dúvida fundamental: quando é que Shuri, uma das personagens mais amadas de Pantera Negra, vai ganhar seu título oficial de princesa da Disney?

    As animações da Marvel, que não têm ligação direta aos eventos do gigantesco Universo Cinematográfico do estúdio, são muito diversificadas. Existem produtos e séries animadas para audiências de todas as idades e gêneros. No entanto, seu departamento está, pela primeira vez, focando em dois públicos muito específicos: o das jovens pré-adolescentes (Marvel Rising) e o das crianças pré-escolares. Quais são as responsabilidades em criar conteúdos para esses públicos? Como é planejar a transmissão das suas histórias para essas faixas de espectadores?

    Como organização, temos uma grande responsabilidade em criar grandes histórias para todos os públicos. E particularmente, eu que sou fã da Marvel desde criança, sinto uma grande responsabilidade porque nós somos a porta de entrada para muitos jovens espectadores, particularmente no segmento pré-escolar. Trabalhar em conjunto com a Disney Jr. para nos certificarmos de que faríamos o certo para este publico e, enquanto embaixadores da marca, contar grandes histórias da Marvel foi muito difícil [...] Também fizemos isso com as garotas. Sabemos que elas veem os filmes, mas para além disso, elas não têm muito contato com as histórias da Marvel. Então, há uma grande responsabilidade aí para criar estas séries da maneira correta. Tivemos milhares de conversas com jovens sobre que tipo de histórias elas queriam ver, que tipo de personagens seriam mais próximos delas... E elas tinham ideias bastante específicas sobre personagens brigando ou se entendendo, sobre seus relacionamentos amorosos, sobre quem é apaixonada por quem [...]  E nós as ouvimos. Na verdade, foram elas que escolheram o nome Marvel Rising. Queríamos saber destas jovens o que elas queriam receber da Marvel. Sim, elas amam a Marvel, elas amam as aventuras de ação da Marvel... Mas era crucial para nós criar algo específico para elas.

    Marvel Rising torna-se ainda mais relevante quando lançamos um olhar para o elenco de personagens: existem jovens super-heróis de todas as etnias: latinos, muçulmanos, asiáticos, entre outros, todos comandados pela Capitã Marvel. E hoje vivemos tempos difíceis, de grandes rupturas políticas e crises étnicas, especialmente com a problemática dos refugiados. Como é contar as histórias de personagens provenientes de origens étnicas tão diferentes? Quais são as dificuldades e as responsabilidades que vocês encontraram no processo de criação de Marvel Rising?

    A Marvel vem fazendo isso há muito tempo nos quadrinhos, e nossa perspectiva - o que pode ser surpreendente para muitas pessoas - é que não seguimos uma ordem específica de necessariamente contar histórias com personagens de etnias diferentes. A verdade é que precisamos refletir o mundo no qual vivemos. E o mundo em que vivemos tem pessoas de todos os tipos, etnias e religiões. Quando nós, especificamente em Marvel Rising, apresentamos uma dúzia de personagens para as garotas, a questão étnica não importou muito para elas. Elas se identificaram com as personagens com base em suas histórias pessoais. E isso foi um alívio porque nós não queríamos empurrar personagens especificamente por razões étnicas. Queríamos que fosse orgânico, que fossem personagens com os quais você se importa. Não importa se eles são muçulmanos, paquistaneses, hispânicos, africanos... Nós só queríamos que isso fizesse parte da narrativa e elas não tiveram nenhum problema com isso, o que foi um alívio. Elas estavam mais interessadas em saber se as personagens tinham tipos de corpos diferentes. E nós dissemos: "Ok, nós ouvimos vocês. Vamos trabalhar nisso". E esta foi a perspectiva das garotas com que conversamos. Mas, novamente, nós fazemos isso porque isso apenas reflete o mundo em que vivemos. As histórias da Marvel são sobre personagens reais, vivendo em um mundo real. Existem muitas outras franquias maravilhosas que não vou nomear e que acontecem em lugares e tempos diferentes, que são situadas em cidades fictícias que não existem. São todas ótimas histórias, mas as histórias da Marvel são muito realistas, são experiências reais com as quais você se identifica.

    Os personagens de Marvel Rising são muito interessantes; e me parece que a Marvel Animation tem como um de seus objetivos apresentar o Universo Marvel para jovens ao redor do mundo. Quando esta parcela do público crescer, os heróis que eles acompanharam crescerão com eles? Quer dizer: há alguma chance de vermos alguns desses jovens rapazes e moças de Marvel Rising fazendo a transição para o Universo Cinematográfico no futuro?

    Eu não posso falar sobre isso, mas existem algumas chances. Eu não posso falar sobre o catálogo de filmes. Eles ainda estão descobrindo o que fazer com o Universo Cinematográfico. O problema do UCM é que todos os filmes são hits, e você precisa fazer sequências. Isso adia as coisas que você quer fazer em um futuro próximo porque a Marvel não pode fazer mais do que dois ou três filmes por ano. Então, se um filme fracassa, haverá espaço para que algo novo surja. Obviamente, Capitã Marvel será uma grande oportunidade para desenvolver uma nova personagem, e eu acho que as três personagens femininas de Pantera Negra... Fico muito comovido com o fato de que crianças de todas as idades preferem a Shuri, que eu usarei bastante em nossa série animada do Pantera Negra, e Okoye e Nakia porque estas são personagens com as quais podemos trabalhar bastante. É uma supresa bem-vinda que garotos e garotas de todas as idades tenham se apaixonado por essas personagens. As Dora Milaje [guardiãs pessoais do Rei de Wakanda] andam por nossos parques de diversão e crianças de todas as idades ficam vidrados nelas. Isso é muito emocionante e diz bastante sobre o nível de aceitação da representação de personagens de todas as etnias na mídia atualmente.

    Vamos falar um pouco sobre Pantera Negra, este hit massivo que já arrecadou mais de US$ 1,3 bilhão e tornou-se um verdadeiro fenômeno cultural e político. É um sucesso insano e um filme aclamadíssimo pela crítica. O êxito do blockbuster influenciou as suas produções de alguma forma? Você já teve que fazer mudanças para acomodar os ecos de Pantera Negra em suas séries animadas?

    Aqui vai nosso tempero secreto, e provavelmente estou divulgando muitos segredos: nós já sabíamos que o filme estava chegando, sabíamos que o filme era importante para nossa organização; Bob Iger [presidente da Disney] marcou o filme especificamente como algo que ele queria elevar em todas as nossas linhas de negócios. Então, nós começamos introduzindo o Pantera Negra na terceira temporada da nossa série animada dos Vingadores, e na quarta temporada, antes do filme ser lançado, nós removemos a maior parte dos Vingadores do elenco regular da história e trouxemos novos Vingadores liderados pelo Pantera Negra. Então, nós preparamos tudo para introduzir o Pantera Negra às crianças como um personagem bem legal e interessante. Isso tudo foi feito antes do filme. Enquanto isso, nós começamos a produzir a série animada protagonizado pelo Pantera Negra, que será lançada no meio do ano, e temos muito orgulho dessa produção. É muito baseada na relação entre ele e a Shuri, com vários Vingadores fazendo aparições e participando como personagens secundários. Nós também começamos a produzir a versão LEGO de Pantera Negra, que estreia agora nos Estados Unidos [...] Nós fizemos até mesmo um curta para o público pré-escolar apresentando o personagem. Mas o que é singular neste caso é que como o filme estava se tornando tão grande, nós decidimos adiar nossa estreia e lançar o curta em fevereiro, para alinhar com o lançamento do longa [...] Esta foi a única mudança de planos que fizemos por causa de Pantera Negra: adiar a data de lançamento do curta.

    Ainda falando sobre Pantera Negra, e mais especificamente sobre Shuri: no Brasil, nós ficamos apaixonados pela personagem de Letitia Wright. E nós também amamos as princesas da Disney. Shuri é como se fosse uma princesa da Disney: existe alguma chance de vermos um crossover entre uma das personagens clássicas da Disney e as "princesas" da Marvel? Quem sabe algo como Shuri no mundo de Frozen - Uma Aventura Congelante...

    Shuri é a melhor princesa da Disney! Mas acho que não veremos um crossover, e eis a razão: o Universo da Marvel tem uma narrativa distinta, separada do Universo da Disney, assim como acontece com o Universo Star Wars de George Lucas, e, de certa forma, com o da Pixar. Então, acho que isso não vai acontecer, mas adoro quando as pessoas dizem que Shuri é a melhor princesa da Disney porque ela é mesmo. Temos muitos planos para a Shuri nas animações, mas nada nesta direção por enquanto.

    Você revelou que é um grande fã do Gavião Arqueiro e também da Feiticeira Escarlate, cuja história melodramática e trágica parece até mesmo coisa das novelas brasileiras. Mas para além das preferências pessoais como leitor e espectador, qual é o seu personagem favorito dentre os super-heróis e super-heroínas com os quais você trabalhou?

    Dentre aqueles com os quais trabalho hoje em dia, diria que são duas - porque isso muda para mim à medida que eu me envolvo emocionalmente com as nossas séries. A primeira é a Garota Esquilo, que é uma personagem confiante em Marvel Rising e que não tem vergonha de ser a versão mais brincalhona de si mesma, e ainda assim continua batendo em todo mundo e sendo incrivelmente inteligente. Eu acho que as garotas gostam tanto dela porque a maioria das meninas não acredita que pode ser tão boba quanto ela e ainda assim ser cool, e a Garota Esquilo acredita que pode ser tudo isso ao mesmo tempo [...] Adoro o fato de que a Garota Esquilo dá liberdade para as pessoas serem as versões mais verdadeiras, bobas, divertidas e exageradas de si mesmas. E minha outra personagem favorita é a Gamora, que está na nossa série animada de Guardiões da Galáxia. O arco dela na série é muito bonito. Ela era, de verdade, uma super-vilã, a filha adotiva de Thanos, e a redenção dela em nossa série é mais aprofundada. Vemos as coisas terríveis que aconteceram com ela, as coisas horríveis que ela fez no passado, e na terceira temporada, que está a caminho, ela faz de tudo para consertar seus erros. Todos os Guardiões ficam ricos e famosos e não usam seu dinheiro de forma inteligente em alguns casos, mas ela sim. Ela viaja ao redor do universo consertando as coisas. A certa altura, ela acaba viajando para outro Universo, que é um Universo das princesas da Disney, na verdade, e ela tecnicamente também é uma princesa. Ela rejeita essa noção e segue seu lado guerreiro. Amo essa personagem [...] A história dela de alguém que já fez tantas coisas erradas e está se esforçando muito para consertar tudo é linda.

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