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    Here and Now: A nova série da HBO não poderia ter começado melhor (Crítica do primeiro episódio)

    Sexo, drogas e terapia.

    Nota: 5/5

    Em 2001, Alan Ball criou uma das séries adultas mais psicologicamente complexas e desafiadoras da televisão: A Sete Palmos, uma confrontação cruel da morte e da solidão dentro de uma família de classe média. Depois, repetiu o sucesso com os vampiros de True Blood. Agora, em 2018, tenta unir psicologia e trama sobrenatural com Here and Now.

    À primeira vista, a série deve agradar os fãs de tramas corrosivas sobre a falência dos valores americanos - algo não muito distante dos filmes Beleza Americana (1999), Pecados Íntimos (2006) e Felicidade (1997), porém adaptados ao século XXI. Holly HunterTim Robbins interpretam os pais de uma família ostensivamente progressista e intelectual. Eles têm três filhos adultos adotados: o colombiano Ramon (Daniel Zovatto), o vietnamita Duc (Raymond Lee) e a liberiana Ashley (Jerrika Hinton). Além disso, tiveram uma filha biológica, a adolescente Kristen (Sosie Bacon).

    Essa distribuição de papéis poderia soar artificial demais, porém a série tem plena consciência disso. Com uma sequência de diálogos ferozes, e francamente deliciosos de assistir, a família se ataca, se ironiza e coloca o dedo nas principais feridas uns dos outros. "Nós somos a propaganda para o quão liberais e progressistas nossos pais são", refletem os filhos. A trama do primeiro episódio inclui elementos bastante contemporâneos (Candy Crush, Facebook, discursos sobre os millennials, máscaras de Obama e citações a Trump), deixando clara a sua conexão com o ano de 2018.

    A potente crítica às aparências se revela principalmente na relação com as drogas e o sexo. É impressionante como o roteiro consegue efetuar uma descrição competente de mais de seis personagens, incluindo a adolescente virgem e insegura, o irmão gay assumido, o outro celibatário por razões ainda desconhecidas, a irmã mais velha e potencialmente infiel, a esposa apaixonada e o pai que recorre a uma prostituta regularmente, como forma de terapia. "Mesmo horário semana que vem?", ele conclui ao final da sessão.

    Como em A Sete Palmos, as terapias psicológicas ganham grande importância nessa história, em múltiplas vertentes, deste uma tendência à autoajuda até a clínica freudiana, passando pelas leituras patologizantes da mãe (Holly Hunter), ela mesma uma antiga terapeuta. A familiaridade dos personagens com termos patológicos e acadêmicos oferece ainda mais armas para se atacarem. O episódio inicial se delicia com cenas improváveis envolvendo cabeças de cavalo, xampus e velas incandescentes. Isso sem falar nas cenas de sexo corajosas e bem filmadas, inclusive entre dois homens.

    Esta configuração seria muito boa por si própria, porém Alan Ball inclui um pequeno elemento sobrenatural. Um dos filhos passa a enxergar o número 11:11 por todos os lados, num possível sinal de alucinação. Nas mãos de uma séria propensa à magia, este recurso poderia soar patético. Na investigação psicológica de Here and Now, o mistério é interpretado com a ajuda de todas as ferramentas científicas e céticas possíveis, envolvendo uma sugestão de esquizofrenia e o retorno de um recalque da infância.

    Com a crise de Ramon, a trama aponta para um mistério, uma possível metáfora para a crise evidente desta família de aparência perfeita. Tantos problemas não ditos se materializam numa disfunção ainda inclassificável: a dor interna se transforma em externa. Uma ótima maneira de passar do real ao mágico, do natural ao sobrenatural. Resta saber o que os próximos episódios reservam a esta família tão promissora.

    Here and Now estreia na HBO dia 11 de fevereiro.

     

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