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    Modern Love: Crítica da 1ª temporada

    Anne Hathaway, Tina Fey, Dev Patel, Catherine Keener, John Slattery, Cristin Milioti e Andrew Scott estão no poético projeto já disponível na Amazon.

    Oito cartas de amor, isso é Modern Love. Embarcando no apreciado retorno das comédias românticas, a Amazon aposta no lançamento da antologia inspirada em histórias reais, sobre diferentes tipos de amor, contadas na popular coluna homônima do New York Times. Como idealizador do projeto e diretor de quatro episódios, surge John Carney, responsável pelo oscarizado Apenas Uma Vez (2006) e os belos Mesmo se Nada Der Certo (2014) e Sing Street: Música e Sonho (2016). E basta saber que o segundo filme é aquele que mais se aproxima de Modern Love.

    De forma geral, a obra se apresenta como uma visão moderna do tão debatido amor, mas caminha numa linha bem tênue entre os clichês do gênero comédia romântica, e reais inovações em tal estilo, tendendo a ser mais previsível do que revolucionária. Mesmo assim, é tão bem executada (principalmente pelo elenco caprichado no nível de Anne Hathaway e Tina Fey) que Modern Love surge como uma bela opção para ser sua nova série de conforto, que irá te fazer rir e chorar ao mesmo tempo. Sem falar que é uma grande homenagem à Nova York, escolhendo belas locações, a fim de dar mais charme para cada trama (em outra grande semelhança ao musical de Carney com Keira Knightley e Mark Ruffalo).

    Como os episódios são independentes (apenas o último precisa ser visto na ordem indicada); o AdoroCinema traz as críticas individuais de cada capítulo (e uma média final da temporada):

    Média final: 3,75/5,0

    1. When the Doorman Is Your Main Man

    Com: Cristin MiliotiLaurentiu Possa

    Direção: John Carney

    É curiosa a escolha deste episódio para ser a primeira impressão de Modern Love. A ideia de que o amor pode ser encontrado nos lugares mais inusitados deve ter contado bastante, assim como a valorização do talento de Cristin Milioti (que trabalhou na versão de Apenas uma Vez na Broadway). Afinal, essa atriz é tão cheia de carisma, que é incompreensível perceber como ela ainda não ganhou uma série de sucesso para chamar de sua. Só que trata-se de um capítulo que funcionaria melhor no meio da temporada.

    Como cada episódio tem cerca de meia hora, nem sempre é o suficiente para entregar toda a complexidade do relacionamento entre Maggie (Milioti) e Guzman (Possa, competente) — que está mais para mágico vidente do que para porteiro. Certas frases dão relances sobre as nuances de suas respectivas personalidades, mas nunca é possível vê-los além da primeira página, atrapalhando para comprar tal cumplicidade entre eles. Tendo dito isso, a jornada percorrida pela protagonista, quando finalmente engrena, é de colocar um sorriso no rosto de qualquer um. 

    Nota: 3,0/5,0

    2. When Cupid Is a Prying Journalist

    Com: Catherine Keener, Dev PatelCaitlin McGeeAndy Garcia

    Direção: John Carney

    Dentre todos os episódios, esse é o que tem o formato mais clássico. Duas pessoas conversam; um contra sua história de amor; o segundo dá conselhos através de outro flashback; resolução e pronto. Mesmo assim, estamos diante de um dos melhores episódios da temporada; onde boa parte de sua glória está nos talentos de Keener e Patel. Além de terem um incrível química (platônica, é importante ressaltar); ambos entregam grande humanidade para suas narrativas que, mesmo simplórias, são capazes de ressaltar uma das maiores mensagens da série: o amor é tão universal e necessário, que te faz uma pessoa melhor apenas por existir.

    No caso, as performances de Keener e Patel exaltam as imperfeições dos personagens do roteiro (também de Carney, inspirado na história de Deborah Copaken), a ponto de fazer o espectador se apaixonar, mesmo diante dos erros humanos. Simplesmente traz aquilo que sempre agrada os fãs de comédia romântica. Em 90% das vezes, o final é previsível, mas é a beleza da jornada (e a forma como ela é contada) que mantém seu interesse até chegar ao topo da montanha — parafraseando "The Climb", de Miley Cyrus.

    Nota: 4,5/5,0

    3. Take Me as I Am, Whoever I Am

    Com: Anne HathawayGary Carr

    Direção: John Carney

    Mas é aqui que Carney encontra sua direção mais inspirada. "Take Me as I Am, Whoever I Am" será o episódio mais comentado de Modern Love, mas não é somente por ter uma estrela de Hollywood, como Hathaway. Por trás de uma potencial história de amor, surge uma emocional história sobre bipolaridade. O relato de Terri Cheney estimula o diretor a brincar com diferentes gêneros, afim de retratar a brutal realidade da protagonista; rendendo algumas sequências maravilhosas.

    Sem falar que Anne Hathaway não decepciona, entregando uma performance poderosa — que pode render indicações ao Emmy, se a Amazon fazer o mesmo jogo que a Netflix usa em capítulos de Black Mirror. Por vezes, pode parecer exagerada, mas ela traduz a disparidade de sentimentos de Lexi a cada instante. Mesmo que não tenha tempo de fazer um retrato sobre saúde mental tão impactante, como sua colega de comédia romântica Crazy Ex-Girlfriend; trata-se de um capítulo que merece ser visto.

    Nota: 4,5/5,0

    4. Rallying to Keep the Game Alive

    Com: Tina Fey e John Slattery

    Direção: Sharon Horgan

    Responsável por trazer o belo inusitado da rotina em Catastrophe, Sharon Hogan reprisa a função com sucesso nesse episódio. Parte do público pode considerar esse capítulo "muito parado", mas trata-se de uma das narrativas mais realistas da temporada. O que falha em problemas de ritmo, compensa em diálogos honestos e impactantes, abraçando mais o lado dramédia que seus companheiros, num estilo típico de aclamados filmes independentes.

    Isso também fica claro na composição dos personagens, resultado de uma bela parceria do texto de Hogan com a entrega de seus intérpretes. Em apenas 30 minutos, tal imperfeita família é retratada de maneira completa e orgânica, trazendo uma sensação de reconhecimento ao espectador. Slattery faz uma bela performance, mas é Fey quem rouba os holofotes. Toda vez que ela está na tela e vai abrir a boca, sai algo capaz de hipnotizar o público.

    Nota: 3,5/5,0

    5. At the Hospital, an Interlude of Clarity

    Com: Sofia BoutellaJohn Gallagher Jr.

    Direção: Tom Hall

    Homem precisa ir ao hospital após se machucar no meio de um encontro. Se a premissa de "At the Hospital, an Interlude of Clarity" promete um episódio mais engraçado, o espectador vai se surpreender ao encontrar uma narrativa que, realmente, apresenta um tom engraçado, mas o mistura com um teor sensível sobre a geração atual de jovens adultos; ansiosa por atenção e sucesso. Aqui surge outro exemplo como a simplicidade pode ser a melhor opção para contar uma história, onde apenas o roteiro de Hall e as performances honestas do casal principal já são capazes de construir uma conexão com o público.

    A química entre Boutella e Gallagher é palpável, mas não chega a cair no estereótipo do moço bobão e a menina sedutora. Afinal é, justamente, quando eles mergulham além de tais estigmas que o episódio traz seus melhores momentos. Inclusive, John está junto com Cristin Milioti na lista de atores que precisam fazer uma comédia romântica em Hollywood urgentemente.

    Nota: 4,5/5,0

    6. So He Looked Like Dad. It Was Just Dinner, Right?

    Com: Julia GarnerShea Whigham

    Direção: Emmy Rossum

    Se existe um episódio que vai dividir as atenções com Anne Hathaway é a história narrada por Julia Garner, recém-saída de uma vitória no Emmy por Ozark. É sua performance que salva o episódio focado numa jovem obcecada por um dos chefes, que parece com a figura do pai perfeito. O tema da narrativa é complicado por si só, por causar um incômodo entre o amor platônico que a protagonista Maddy busca pela saudades do pai, enquanto o espectador tenta descobrir quais são as intenções de Peter (um competente Shea Shigham), torcendo para a situação não ficar ainda mais complicada e constrangedora do que já está.

    O roteiro da saudosa Audrey Wells (O Ódio que Você Semeia, Sob o Sol da Toscana) até traz bem o conflito da protagonista; mas nem ele, nem a direção pouco criativa de Rossum, conseguem abordar algo além do desconforto da situação; dando uma conclusão insatisfatória para a trama. É uma pena que justamente o episódio mais ousado da primeira temporada de Modern Love é aquele que mais falha, surgindo mais imperfeita que seus próprios personagens. E olha que eles são bem complicados...

    Nota: 2,5/5,0

    7. Hers Was a World of One

    Com: Olivia CookeAndrew ScottBrandon Kyle Goodman

    Direção: John Carney

    A grande surpresa de "Hers Was a World of One" fica pelo uso natural de humor na narrativa. O choque de culturas entre um casal gay bem-sucedido, e a jovem nômade e rebelde cujo bebê eles irão adotar, acaba por compor um cenário repleto de situações inusitadas. Se Carney não foge de uma criação clichê, felizmente foge de uma comédia estereotipada, investindo num conflito entre pessoas excêntricas — e numa participação especial que, curiosamente, funciona, mas não iremos aprofundar para não dar spoiler.

    Inclusive, grande parte do sucesso surge pela química do trio protagonista. Se Scott já está acostumado em brilhar com personagens paranoicos e diferentes, a surpresa fica por ver Cooke fora de sua zona de conforto, roubando a cena. O maior defeito aqui fica em ser o único episódio com um casal homossexual, mas que acaba focado no relacionamento deles com uma mulher. É moderno, só que com precaução.

    Nota: 4,0/5,0

    8. The Race Grows Sweeter Near Its Final Lap

    Com: Jane AlexanderJames Saito

    Direção: Tom Hall

    Chegando de mansinho com menos famosos em seu elenco (Jane Alexander já recebeu quatro indicações ao Oscar, mas não é conhecida pela geração atual); o episódio final de Modern Love acompanha uma história de amor na terceira idade, sendo intercalada entre passado e presente. Mais uma vez, surge uma história previsível, onde as performances se destacam ao emocionar o espectador. Em determinado momento, Alexander faz um monólogo tão impressionante que fica claro como trata-se do momento certo para derramar lágrimas.

    O problema surge na superficialidade na hora de contar tal história, pressionada em cerca de quinze minutos até começo de uma reviravolta que — por mais bacana que seja — tira o espaço que tal romance merece ter nas telinhas. Mesmo assim, é essencial ver esse capítulo por último, a fim de apreciá-lo por completo, já que Modern Love planeja seu ponto final com maestria, sabendo o impacto que deixará no público.

    Nota: 3,5/5,0

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