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    Coringa: 5 perguntas importantes que o filme não responde de propósito

    Será que essas pontas soltas serão atadas algum dia?

    Polêmicas a parte, Coringa não é um produto fácil de digerir. Em entrevistas recentes, o diretor Todd Phillips e o protagonista Joaquin Phoenix têm feito questão de não esclarecer as muitas pontas soltas deixadas pelo filme. E talvez essa natureza ambígua e nebulosa esteja de perfeito acordo com um personagem complexo como o “Palhaço do Crime“, que tão bem personifica caos, intriga e contradição. Assim mesmo, há questões importantes deixadas sem resposta pelo longa que instigam uma reflexão mais aprofundada.

    [As linhas abaixo contém spoilers de Coringa. Não avance se ainda não tiver assistido!]

    Warner Bros.

    Do jeito que foi construído, Coringa arremessa no público a função de interpretar por conta própria o que vê na tela. Na segunda metade da história, Arthur Fleck (Phoenix) se revela um narrador não-confiável, que constrói versões alternativas de sua realidade a bel-prazer. Toda trama é relatada sob o ponto de vista de um protagonista que sofre de problemas mentais (jamais especificados), desprovido de habilidades sociais e que não faz questão alguma de nos apresentar a verdade -- afinal, como se sabe, o Coringa só joga de acordo com suas próprias regras. Ou seja, se toda a narrativa do filme é real ou mero fruto da imaginação de seu (anti) herói, isso jamais será esclarecido, e é justamente aí que está toda a graça.

    A seguir, confira cinco perguntas pertinentes que Coringa propositalmente não responde... e as respectivas teorias do AdoroCinema para cada uma delas:

    1. Como o vídeo do stand-up de Arthur "vazou"?

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    Coringa se passa em algum momento do final dos anos 1970 e começo dos 1980, então definitivamente estamos presenciando um mundo sem a existência da internet e outras tecnologias onipresentes nos dias de hoje. Portanto, parece curioso que um vídeo de Arthur Fleck passando vergonha em um palco de comédia stand-up tenha “vazado” e viralizado no programa do apresentador Murray Franklin (Robert De Niro). Não parece o tipo de coisa que possa ocorrer de maneira tão rápida e certeira em uma época analógica como aquela.

    O fato de o diretor Todd Phillips não se dar ao trabalho de explicar como a gravação chegou ao programa é algo curioso, visto que o constrangimento público de Arthur é um fator decisivo para o desenvolvimento da personalidade rancorosa do Coringa. A presença desse elemento "anacrônico às avessas" nos dá a entender que possivelmente havia uma versão anterior do roteiro que se passa nos tempos atuais, quando vazamentos de vídeos (e consequentes constrangimentos) são bem mais comuns. 

    2. O que aconteceu com a vizinha de Arthur?

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    Somente enxergamos a relação de Arthur com sua vizinha, Sophie Dumond (Zazie Beetz), por meio do ponto de vista dele. O primeiro encontro é no elevador e, depois disso, ele a convida para assistir ao show de stand-up (em que ele fracassa). Após um jantar animado e um passeio pelas ruas de Gotham, a relação entre os dois parece se estabelecer. Quando a mãe de Arthur é hospitalizada, Sophie está ao seu lado, lhe fazendo companhia. O público só se dá conta de que eles mal se conhecem quando Arthur invade a casa de Sophie em um momento de desespero e ela o trata com medo, implorando para que o invasor não machuque sua filha. O que acontece depois, não fazemos ideia, já que Sophie não é mais vista.

    Será que Arthur descontou sua raiva do mundo também em seu interesse amoroso? Pior que isso, será que ele também não teria poupado Gigi, a filhinha de Sophie? Jamais saberemos ao certo. Mas eu tenho uma tese maluca que poderia oferecer uma resposta: e se a pequena Gigi futuramente se tornasse a Selina Kyle/Mulher-Gato de um universo compartilhado entre os filmes CoringaThe Batman (de Matt Reeves, previsto para 2021)? Agora que Zöe Kravitz foi confirmada no papel, faria ou não sentido?

    3. Afinal, quem são os pais de Arthur Fleck?

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    Em uma de suas várias reviravoltas, o filme nos dá a entender que a mãe de Arthur, Penny (Frances Conroy) criou toda uma ilusão sobre a antiga relação dela com Thomas Wayne (Brett Cullen). Na cabeça dela, Arthur foi o fruto de um relacionamento amoroso que ela teve com o bilionário, então seu chefe quando ela trabalhava como criada na Mansão Wayne. Só que um boletim médico do Hospital Arkham revela que ela sofria de doenças mentais e que, na verdade Arthur, foi adotado por Penny, além de sofrer abusos físicos do pai adotivo (que nunca vemos quem é). A relação de Penny Fleck e Thomas Wayne, portanto, teria acontecido somente na imaginação dela.

    Mas é preciso ter parcimônia ao analisarmos essa versão da história, porque devemos lembrar que Arthur não é um narrador confiável, e que diversas das cenas que tratamos como verdadeiras aconteceram apenas na cabeça do protagonista. Levando por esse lado, será que o flashback que mostra a mãe sendo interrogada aconteceu da maneira que o filme nos mostra? Mais ainda: será que essa versão "oficial" sobre Penny não seria o resultado de um grande complô comandado por Thomas Wayne, para questionar a sanidade dela e encobrir o relacionamento deles -- e o filho que teria nascido disso? Essa teoria ganha força com uma cena nos instantes finais, que mostra o verso de uma fotografia da jovem Penny. A frase “Adoro seu sorriso, T.W.” parece suspeita demais para uma simples relação entre chefe e funcionária. 

    Se a versão da história de Penny fosse a verdadeira, isso faria do Coringa o meio-irmão mais velho do futuro Batman. Só que Penny e Thomas estão mortos, então jamais teremos uma resposta absoluta mesmo que o tema volte a ser mencionado em possíveis filmes futuros.

    4. Quem matou Thomas e Martha Wayne?

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    Que as mortes de Thomas e Martha Wayne traumatizam o pequeno Bruce e dão origem ao Batman, isso é público e notório. Nas HQs, séries e filmes, esse momento icônico é retratado de maneiras diversas. Nos quadrinhos clássicos, o responsável pelo crime é um ladrão chamado Joe Chill, que agiu sob a ordem do mafioso Lew Moxon. Chill continuou sendo o assassino dos Wayne em diversos reboots da mitologia do Batman nas revistas, mas também há versões da história em que o assassino é um anônimo qualquer.

    Nas telonas, a presença de Joe Chill persistiu, ainda que com motivações diferentes da dos quadrinhos. Foi ele quem fez o serviço sujo na série animada dos anos 1990, assim como na trilogia dos filmes de Christopher Nolan. Já no primeiro Batman, de Tim Burton, quem realiza os disparos fatais é justamente Jack Napier (Jack Nicholson) o homem que se tornaria o Coringa anos depois (quem não se lembra da assombrosa frase “Você já dançou com o demônio sob a pálida luz do luar”?). Enquanto isso, na série de TV Gotham, o autor dos disparos é outro personagem, o assassino profissional Matches Malone.

    Coringa, por sua vez, ignora qualquer ligação com obras anteriores do Homem-Morcego. Nos minutos finais, vemos Thomas e Martha Wayne serem mortos diante do pequeno Bruce por um manifestante desconhecido com máscara de palhaço -- mais um entre os muitos cidadãos revoltados que enxergam no Coringa uma inspiração para o caos. O público não é informado da identidade desse assassino, então é provável que não seja um criminoso específico da mitologia do Batman.

    Mas outra pergunta surge no ar: qual seria a real a motivação do jovem Bruce para se tornar o Cavaleiro das Trevas alguns anos depois? Ódio de criminosos de uma maneira geral? Ou o fato de o assassino usar uma máscara de palhaço tornaria o Coringa o símbolo de todo rancor do Batman? Ainda é preciso destacar o fato de o filme retratar Thomas Wayne como um bilionário antipático e de moral questionável, que aparentemente não dá muita atenção ao filho. Por conta disso, será que Bruce, quando adulto, também carregará em si valores pouco louváveis? É algo que talvez nunca descobriremos, já que não se sabe ainda se Warner e DC pretendem unificar o universo deste filme com o do futuro The Batman.

    Mas voltando ao que ocorre naquela fatídica noite, ela abre espaço para a teoria mais interessante de todas sobre Coringa...

    5. O Batman "está" no filme?

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    Surgida no fórum Reddit, esta tese de um fã propõe que a sequência que vemos no final, quando Arthur se encontra internado no Asilo Arkham, na verdade se passaria em um tempo mais futuro do que o do restante do filme, talvez 15 anos depois. Ali, o vilão estaria relembrando (ou imaginando) os acontecimentos (fictícios ou não) que o levaram a se tornar o Coringa. Antes de aparentemente matar a terapeuta e tentar uma fuga, ele dá risada sozinho de "algo engraçado" que ela “não entenderia”. Neste momento, vemos Bruce Wayne ajoelhado ao lado dos corpos dos pais. Então, qual piada seria essa?

    De acordo com a teoria, se aquele que vemos é o Arthur do “futuro”, então a cena ocorre em uma realidade em que o Batman já existe como o grande vigilante de Gotham. Arthur, fisicamente diferente (ele parece menos magro e a barba está mais grisalha), estaria refletindo sobre a ironia de ter causado indiretamente o surgimento do Cavaleiro das Trevas, no exato dia em que ele próprio se descobriu como um grande vilão. O que deixaria tudo ainda mais irônico seria se Arthur insistisse na ideia de que ele poderia ser o filho de Thomas Wayne -- o que faria dele, o Coringa, o meio-irmão mais velho de seu maior inimigo, o Batman.

    Isso explicaria porque Arthur teria matado a terapeuta e tentado fugir de Arkham: ao compreender que suas ações “criaram” o Batman (e deduzir sua verdadeira identidade), o Coringa estaria pronto para confrontar seu maior antagonista -- o qual não deixa de ser a sua real razão de existir. É uma teoria esdrúxula mas saborosa, que dá luz à possibilidade de uma reaparição deste Coringa em um filme futuro do Universo DC. Será que Joaquin Phoenix repetiria o papel como o grande vilão do Batman no filme estrelado por Robert Pattinson? Só o tempo dirá -- mas os ótimos números de bilheteria de Coringa talvez possam dar uma força nesse sentido...

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    Coringa
    Coringa
    Data de lançamento 3 de outubro de 2019 | 2h 02min
    Criador(es): Todd Phillips
    Com Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz
    Imprensa
    4,2
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    4,6
    Adorocinema
    5,0
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