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    Dor e Glória: Filme de Almodóvar era para ter personagem brasileiro, revela Leonardo Sbaraglia (Entrevista exclusiva)

    Ator interpreta personagem-síntese dos amores do cineasta no longa em cartaz no Brasil.

    Um cineasta em crise resolve recapitular sua vida pessoal e profissional, revisitando a carreira, a infância e os amores. Some-se ao enredo o fato de o diretor em questão ser gay e pentear os cabelos para cima e, voilà, chegamos até Pedro Almodóvar. Não é difícil.

    Ainda que Dor e Glória não seja oficialmente a autocinebiografia do diretor (muito menos um documentário), a história do longa é a que o que mais se aproxima da própria história da vida do realizador espanhol. Isso não é segredo. A ponto do protagonista, Antonio Banderas, declarar, no Festival Cannes, ao receber o prêmio de melhor ator:  "O nome do meu personagem é Salvador Mallo, mas todo mundo sabe que, na realidade, ele é Pedro Almodóvar".

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    Por telefone, o ator argentino Leonardo Sbaraglia (Relatos Selvagens) conversou com o AdoroCinema sobre o filme, em cartaz no Brasil. Em Dolor y Gloria (no original), ele interpreta Federico, um amor do passado de Salvador, que acaba virando personagem de uma peça teatral encenada dentro do filme. “É como se fosse um jogo de bonecas russas”, ele explica.

    Apesar de não ter tanto tempo de tela, Federico é a síntese das relações amorosas do protagonista, presente em um dos segmentos mais bonitos e delicados do longa. Ele “funciona como um elemento de luz que aparece em certo momento do filme e age como um desdobramento de algo que vinha ocorrendo de maneira lenta na primeira parte do longa”, resume o ator, que revela que o personagem foi concebido como um brasileiro. Do Rio de Janeiro.

    Confira os principais trechos da entrevista abaixo.

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    AdoroCinema: No Festival de Cannes, Penélope Cruz confessou ter ficado tímida ao interpretar o personagem dela, que é equivalente à mãe do Almodóvar. Qual foi sua primeira reação ao tomar conhecimento do seu papel?

    Leonardo Sbaraglia: Todos nós estávamos muitos felizes em colaborar com algo muito pessoal do Almodóvar. O meu personagem não aparece em grande parte do filme, mas faz parte de algo que está muito no coração do longa. Ele [Almodóvar] buscava algo muito específico em mim, mas quando começou a aparecer a possibilidade de amor, de carinho, de ternura neste personagem, junto com um certo erotismo, ele já estava muito feliz.

    Como o Almodóvar te orientou? Que tipo de instruções ele passou?

    Tudo estava muito claro no roteiro. Ele buscou esse personagem durante muito tempo, com muitos atores. Como não encontrava algo tão preciso quanto estava buscando, ele abriu a possibilidade de aquele personagem não ser exatamente espanhol. Aliás, em algum momento, esse personagem teria sido do Rio, ao invés de Buenos Aires. Mas ele estava aberto a encontrar em cada ator o que o ator teria para contribuir para este personagem, que representa um grande amor que ele teve em sua vida, quase adolescente. Muitas vezes não se sabe se é ficção, onde termina a verdade. É tudo uma metáfora da sua própria vida.

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    O Federico é inspirado em alguém real ou é um somatório de várias outras pessoas, então?

    Eu acho que é um somatório. Evidentemente, o personagem funciona como um elemento de luz que aparece em certo momento do filme e age como um desdobramento de algo que vinha ocorrendo de maneira lenta na primeira parte do longa. Então, é um personagem que vai aparecer quase como um jogo do destino, da sua própria história, através de uma função de teatro para que possa se reencontrar. É como se fosse um jogo de boneca russa, uma coisa dentro da outra, dentro da outra e, neste sentido, eu acredito que o personagem funciona como um elemento do passado que vem a ele iluminar um caminho a seguir, a ser mudado.

    Se você tivesse que escolher um filme como a obra-prima do Almodóvar, qual escolheria?

    Eu gosto de muitos filmes dele por muitas razões diferentes. Não só este filme, que compõe uma trilogia com A Lei do Desejo e Má Educação, - os três são filmes muito baseados em histórias de amor entre homens. Eu pensei agora em Julieta, que é um filme que me partiu a alma e me atravessou de uma maneira feroz. Mas é muito difícil escolher um filme de um cineasta que tem trabalhado e evoluído durante 25 anos.

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