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    Admirável Mundo Pop: Será que Star Wars vai durar para sempre?

    A maior saga da cultura pop já é quarentona. Se vai perdurar por mais muito tempo, isso não depende só da qualidade dos filmes.

    Visitar a Star Wars Celebration traz uma sensação semelhante a de se estar em uma Comic-Con, exceto por alguns detalhes consideráveis: todos os cosplayers estão vestidos de personagens de Star Wars; os painéis discutem somente sobre futuros lançamentos de Star Wars (ou homenageiam antigos produtos com essa marca); os estandes só vendem produtos relacionados ou inspirados na franquia; e para onde quer que se olhe, há um sabre de luz apontado para o céu. Definitivamente, a Força está no ar.

    O evento, o maior do gênero no mundo, é uma experiência única para os fãs da mais clássica franquia da cultura pop, e grandiosa à altura da importância que Star Wars manteve nas últimas décadas. Mesmo com filmes não tão bem recebidos (qual foi mais criticado, o Episódio I ou o VIII?), um grande período sem lançamentos (16 anos, de 1983 a 1999) e uma fase atual de excessos (um longa por ano desde 2015, quem precisa?), tenho a impressão de que o lugar de Star Wars é inabalável nos corações de muita gente. E isso pareceu evidente na edição 2019 da Star Wars Celebration, que de 11 a 15 de abril ocupou vários andares de um centro de convenções no coração de Chicago.

    A Celebration desse ano foi especial porque havia um real motivo para existir além de apenas "celebrar": o evento abrigou a revelação do título e do primeiro trailer do Episódio IX, filme derradeiro da saga Skywalker. No painel da sexta-feira (12), diante de milhares de fanáticos (e de milhões de pessoas pelo mundo via streaming), a Disney divulgou detalhes de The Rise of Skywalker, ou A Ascensão Skywalker. Como costuma acontecer em eventos desse tipo, grande parte do elenco principal compareceu à ocasião, assim como o diretor que todo mundo adora, J.J. Abrams

    Estar de corpo presente nesse evento teve um simbolismo especial para mim, como fã antigo de carteirinha. Confesso que ver o trailer pela primeira vez ao lado de tanta gente empolgada tornou a experiência ainda mais catártica e inesquecível. Se eu já estava ansioso por Episódio IX, certamente o sentimento foi potencializado por ter acompanhado aquela revelação ao vivo -- e a aparição em seguida de Ian McDiarmid, o Imperador em pessoa, foi a cereja no topo do bolo.

    A Celebration também me permitiu vivenciar ao máximo todo o hype e fanatismo que orbitam Star Wars. Foram cinco dias em que tive contato direto com gente mais devota e conhecedora de causa do que eu. São pessoas que levam na vida, na pele e no coração um carinho quase religioso pela saga, sua história e seus personagens. Visitantes de todo o mundo, que se deslocaram centenas, milhares de quilômetros, investiram tempo e um bom dinheiro só para gritar ao mundo sobre essa paixão e compartihar tudo isso com gente que pensa e se comporta de modo semelhante. É uma maneira de se sentir menos sozinho nessa galáxia tão distante.

    Mas algo me saltou aos olhos e pode até parecer uma obviedade: a idade média elevada dos frequentadores da Star Wars Celebration. É claro que é de se esperar que os frequentadores de um evento como esse sejam mais velhos, afinal, há diversas dificuldades que restringem a participação e o comparecimento -- alto preço dos ingressos, as dificuldades e custos do transporte para Chicago, a hospedagem limitada na região etc. Assim mesmo, ficou evidente que a maior parte do público que se dispôs a celebrar Star Wars está acima dos 35 anos, ou mais do que isso. Havia crianças, mas muito pequenas, acompanhadas os pais. Adolescentes e jovens-adultos próximos à maioridade? Poucos, ou não mais do que eu consiga me lembrar.

    Talvez seja este o grande desafio da Disney para os próximos anos. Conseguir que Star Wars renove seu público de maneira consistente, de modo que os jovens de hoje abracem a saga com a mesma intensidade que as gerações passadas, e que possam transferir essa tocha para os jovens que vierem depois. Pelo que se vê, não tem sido fácil.

    Divulgação/Lucasfilm

    Não é que a Disney não esteja tentando de diversas maneiras desde que adquiriu a franquia por uma cifra bilionária em 2012. Mas não há receita infalível. Lançar muitos filmes em um curto período de tempo se provou um erro estratégico que deve ser corrigido após o lançamento de Episódio IX. Há tentativas em outras frentes, como a série televisiva The Mandalorian, uma aposta que parece representar uma opção de futuro viável para a franquia em um formato inédito.

    Há outras ousadias que merecem ser aplaudidas também. Como o parque temático Galaxy's Edge, que apesar da intenção de encantar o público infantil, tem tudo para atrair marmanjos de todo o mundo em busca do sonho de viver Star Wars na pele. E há mais séries de TV (um prelúdio de Rogue One com Diego Luna), animações (The Clone Wars voltará para mais uma temporada), e também mais tramas cinematográficas além da história da família Skywalker a serem contadas pelo diretor Rian Johnson e os produtores de Game of Thrones.

    Será que tudo isso será o suficiente para recuperar fãs perdidos e conquistar novas gerações? Será que a franquia pode ficar mais popular do que já foi? Será que Star Wars vai mesmo durar para sempre?

    "Difícil de ver. Sempre em movimento está o futuro", diria Yoda sabiamente. Mas enquanto houver a Força, haverá a esperança. 

    Pablo Miyazawa é colunista do AdoroCinema e consome cultura pop desde que nasceu, há 40 anos, de Star Wars a Atari, de Turma da Mônica a Twin Peaks, de Batman a Pato Donald. Como jornalista, editou produtos de entretenimento como Rolling Stone, IGN Brasil, Herói, EGM e Nintendo World.

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