Netflix coletou todas as suas escolhas em Black Mirror: Bandersnatch

Quando a Netflix lançou o primeiro episódio interativo de Black Mirror, o projeto do canal de streaming já era ambicioso: utilizar o formato em romances, comédias e até mesmo em filmes de terror, com algumas outras séries já em desenvolvimento. "A única questão é que o público [de Black Mirror] é o ideal para o primeiro teste", revelou à época o VP Todd Yellin. E, para isso, a gigante do streaming tem coletado todas as escolhas feitas pelo público.

A informação foi obtida por Michael Veale, pesquisador de políticas de tecnologia pela Universidade de Londres. Veale contou à Vice Motherboard (via IndieWire) que entrou em contato com a Netflix para apurar a história após a possível mineração de dados ter virado piada recorrente nas redes sociais. "Imaginei que seria um teste divertido mostrar às pessoas como você pode usar as leis de proteção de dados para fazer as perguntas que você quer", contou.

No Twitter, Veale compartilhou os dados obtidos, explicando que usou a lei britânica de Regulação de Proteção de Dados (GDPR) a seu favor.

"A Netflix alegou que eles usam as escolhas individuais para informar quais segmentos de vídeos mostrar, apesar de que eles aprendem de escolhas agregadas, como era de se esperar.

Também é possível obter uma cópia de todas as escolhas que você fez, o que a Netflix armazena (não perguntei por quanto tempo). Eles fornecem isso através de um e-mail encriptografado, e um arquivo em PDF com uma chave junto a um arquivo .csv com as escolhas que você já fez, quando você as tomou e a plataforma que estava usando, bem como se você já havia assistido àqueles segmentos anteriormente."

De acordo com a Netflix, portanto, a coleta das escolhas feitas pelo público em Black Mirror: Bandersnatch servirá para que o serviço possa melhorar o algorítmo de sugestões, em "futuras visitas".

Lançado em 28 de dezembro de 2018, Black Mirror: Bandersnatch acompanha Stefan (Fionn Whitehead), um jovem programador que transforma um livro de romance interativo — cujo autor enlouqueceu após finalizá-lo — em um video game com a mesma proposta. Logo, o mundo real se mistura com o virtual e isso passa a criar uma certa confusão na vida do personagem.

Para tirá-lo do papel, o canal de streaming criou um algorítmo próprio, uma ferramenta de escrita narrativa inédita para ajudar a criar as ramificações necessárias à história. A ferramenta permite a criação de narrativas complexas que incluem loops que podem guiar o espectador de volta à linha principal caso as escolhas feitas desviem demais do objetivo. Há também a opção de voltar e refazer escolhas, fazendo com que Stefan em alguns momentos perceba que pode voltar e fazer de forma diferente algo que já havia feito. A ideia, naturalmente, é utilizar este algorítmo também em futuras produções.